Provocação - 15

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Minha vida virou um inferno depois daquele maldito beijo que o Joshua me deu bem em frente do Brandon. Logicamente o Josh não fazia nem ideia do que havia acontecido entre nós dois depois daquela festa, mas eu não iria contar.
Pra resumir como tudo se transformou num pesadelo foi que pelo menos três vezes na semana o Brandon levava uma garota nova para seu apartamento, dava festas com som alto, fazia questão de demonstrar estar curtindo a vida, nos convidava de propósito e sempre que tinha oportunidade, beijava as garotas na minha frente. Isso virou uma espécie de rotina, eu tentava me acostumar mas quanto mais eu garantia a mim mesma que era tudo uma provocação, mas eu ficava irritada com a falta de educação dele.
Abby era sempre convidada. Em algumas ocasiões ela ia e em outras ela desistia.
Eu já não estava mais suportando aquela arruaça toda. Os vizinhos andavam reclamando, mas eu era a principal moradora raivosa daquele prédio. Eu estava tentando aturar aquilo pois entendi que foi uma forma dele se vingar de algo que não fazia o menor sentido.
Era uma quarta a noite quando me cansei daquela música alta e parti em direção a porta do outro lado do hall. Toquei a campainha uma, duas, três vezes até que tive de esmurrar a porta em busca de uma resposta. Finalmente ela veio rápida e ríspida.
Lá estava ele, sem camisa, calça jeans escura e uma bota que mais parecia um tênis de escalada em formato de bota. Vi a raiva em seu rosto quando abriu a porta me encarando seriamente.
"Posso saber o que você quer tanto aqui?"
"Como assim o que eu quero tanto aqui?" Perguntei já franzindo o cenho. Eu estava preparada para tentar pedir com educação, mas como eu podia tentar apaziguar a situação se na primeira oportunidade ele consegue levar tudo por água a baixo?
"Você tocou a campainha três vezes e não parou de socar a porta. Eu concluo que você quer alguma coisa, não quer?" Continuo olhando-o com uma expressão de desentendimento ou buscando não levar as palavras dele mais para o pessoal.
"Olha Brandon, eu estou vindo aqui para pedir por favor, se você poderia abaixar a música. Eu tenho prova amanhã e não consigo estudar por causa do som alto." Volto ao meu estado normal, paciente, contando até dez em todos os momentos que penso em mandar Brandon a merda.
"É uma pena, realmente, que você esteja nessa situação." Ele faz uma pausa como se realmente estivesse entendendo meu pedido e me fazendo acreditar que iria atende-lo. "Mas sabe Angie, eu não tem prova amanhã, e pelo o que eu sei..." Ele olha o relógio prata em seu pulso esquerdo e continua, "Não são dez horas da noite ainda, o que me permite ficar com o som ligado e..." Ele ia terminar de dizer algo babaca, mas eu corei de raiva e o empurrei para dentro. Ele se assustou quando se desequilibrou e acabou caindo de bunda no chão. Eu fui na direção daquele som e arranquei todos os fios possíveis e existentes da tomada, parando a música no mesmo instante. Voltei-me para a direção dele quando a garota do dia sai do quarto dele com uma camisa xadrez azul, cobrindo o suficiente para não dizer que "mostrou as tetas" e com sua calcinha preta.
"Brand, o que está acontecendo?" Tive vontade de rir. Brand? Jamais em toda minha existência eu havia ouvido algo tão cafona.
"Está acontecendo, Britney, que a festinha acabou." Sorri pra ela de modo a me deixar com orgulho.
"Meu nome não é Britney." Aquela garota tinha uma cara de sonsa. Com certeza o único motivo dela estar lá era a vagina que ela tinha para oferecer.
"Você tem cara de Britney. Loira e magra, porém com aquela carinha de songa-monga." Não queria ser rude ao ponto de chamar a garota de burra, até porque as únicas três palavras que troquei com ela naquele momento, não teriam a definido por completo, mesmo eu tendo certeza de como ela era.
"Não liga pra ela, Sacha, ela já esta indo embora." Ele me olhou da pior forma e aquilo só meu dá mais fôlego para irrita-lo.
"Não, na verdade eu vim pra ficar. Brandon e eu, sabe como é né... Ser o pai do meu filho as vezes tem lá suas desvantagens." Sorri novamente pra ela, que em resposta fez uma cara de incredulidade e talvez um pouco de nojo (relacionado à crianças) que me fez sentar no braço do sofá e esperar a briga acontecer.
"O quê?" Brandon estava indignado e agora sua vontade supostamente deveria ser de me esganar.
"Você é pai e não me contou? Você tem um filho?"
"Um não, dois. America é um pouco mais velha que nosso loirinho Edmund." Finjo uma cara de orgulho quando falo dos meus dois filhos imaginários.
"Você ta louca? Essa mulher é louca, Sacha. Está tentando fazer de tudo para estragar nossa noite!" Ele vai na direção dela que logo se esquiva das mãos dele. Dou risada.
"Você é tão ridículo. Todas as vezes faz o mesmo discurso. Diz que eu sou louca mas nunca assume a responsabilidade." Finjo olhar para minhas unhas enquanto evito o olhar cortante dele.
"Espera. Todas as vezes? Têm outras vezes?" Ela pergunta com a mão na cintura.
"Desculpa fazer você saber desse jeito, Britney, mas você não é a única. Toda semana é uma garota nova e sempre a mesma discussão. Ele não fala nada sobre ser pai." A garota o olha furiosamente, mas ainda retruca.
"Meu nome não é Britney, é Sacha!"
"Tanto faz." Resmungo.
"Sai do meu apartamento agora, Angela!" Eu o deixei muito bravo, tão bravo que não faço ideia do que ele é capaz de fazer.
"Não. Quem vai sair sou eu, seu filho da puta!" Com isso a loira mete a mão aberta no rosto claro de Brandon, deixando avermelhado.
"Tchau Britney!" Exclamo antes que ela feche a porta, mas não há respostas.
"O que você fez?" Ele grita comigo, mas finjo não me importar.
"Resolvi meu problema. Já que eu vou ter que ir mal na minha prova de amanhã por sua culpa, você não vai transar hoje, e assim ficamos quites." Sorrio pra ele novamente.
"Você tem problema, sua louca! Você que estragar as minhas noites e todas as garotas que eu saio agora, é?" Ele não está próximo, mas dá um passo a cada frase.
"Essa foi a primeira. Se você continuar com essa palhaçada eu vou vir aqui todos os dias. Vou trazer brinquedos de criança e fraldas, e dizer que você não paga pensão há meses!" Agora estou brava também. Eu esperava um mínimo de respeito, mas se ele não está afim, eu vou partir pra ignorância.
"Faz isso de novo pra você ver só!" Outro passo é dado para mais perto de mim.
"Ou o quê? Você vai fazer o que? Me bater?" Ele me encara enquanto está muito perto de mim.
"Você é completamente louca." Ele sorri um sorriso incrédulo mais ao mesmo tempo tão safado que estremeço. Sinto o cheiro do hálito dele e a respiração já mais calma.
"Eu sei." Digo com a minha boca quase colada na dele. Antes que algo pior aconteça eu o empurro para sair dali o mais rápido possível.
"E é por isso que fiz essa ceninha hoje. Espero que você tenha aprendido a lição, Brandon, caso contrário eu terei que suspender essas suas festinhas particulares." Dou uma piscadinha para ele enquanto fecho a porta do seu apartamento.
Posso sentir ele atrás da porta apoiando seu braço direito e rindo do quanto uma mulher pode ser louca. Eu também estou rindo neste exato momento me sentindo ridiculamente bem enquanto sinto uma onda de adrenalina subindo por mim e me deixando elétrica.
Isso foi demais!
Quando entro em casa e não ouço mais musica alguma vinda do apartamento ao lado, me sinto tão feliz pelo que eu fiz que até sinto vontade de encenar de novo. Aproveito que está tudo tranquilo e vou estudar. Quando eu disse que estaríamos quites eu menti, porque na verdade eu iria muito bem na minha prova, mas enquanto a ele... Havia perdido uma noite de sexo.
Quando me deito após duas horas estudando Química, ainda consigo sentir a raiva que provoquei nele. Ainda posso sentir a frustração dele quando consegui o que queria e mais, posso sentir o quanto ele adorou minha ceninha e como deve ter ficado pensando o quão louca sou enquanto ria. Talvez eu só esteja imaginando, mas algo me diz que isso não é apenas coisa da minha cabeça.
Adormeço logo em seguida.

Minha prova de Química foi mais fácil do que eu imaginei, e mais uma vez, acabei pensando no Brandon e lembrando que eu estraguei pra valer a noite dele.
Quando saio da minha sala e vou em direção ao meu armário, ele está caminhando na direção contrária a minha. Ele me encara sério como se ainda estivesse bravo comigo, mas no fundo eu sei que é só pra fazer um tipo. Quando cruzamos um com o outro, eu viro minha cabeça para encara-lo de volta. Por um segundo é como se aquele momento estivesse em câmera lenta. Ele me encara e eu o encaro, nossas cabeças viradas para a direção um do outro enquanto tentamos seguir com nossos passos e fingir não nos importar. Sinto o perfume dele e meu cabelo se mexe com o vento causado por ele.
Tudo volta ao normal. Continuo seguindo para meu armário quando vejo que Joshua está ali encostado e me olha bravo. Ele percebeu, merda! Tento fingir que nem percebi sua afeição horrorosa me encarando.
"O que foi aquilo?"
"Aquilo o quê?" Não o olho, apenas continuo guardando meus livros no armário da faculdade.
"Você sabe muito bem, Angela. O jeito como você e o Brandon se entreolharam." Joshua está apoiado sobre a porta do armário, mas eu não dou bola. É assim que eu afeto a masculinidade dele.
"Que jeito? Você tá parecendo paranóico." Termino de por minhas coisas e fecho a porta, sorrindo para Joshua.
"O quê? Eu vi, Angie!"
"Deixa eu te lembrar um detalhe, Josh. Eu que decidi voltar com você, então não começa antes que eu mude de ideia." Beijo sua boca só para cala-la de propósito, pego em sua mão grande e o tiro dali, mudando de assunto.
Quando toco no assunto da noite com Abby, falo que foi a cena mais engraçada da história. A garota burra histérica brigando por ele, acreditando na minha história enquanto ele lançava aquele olhar fulminante de quem iria me matar a hora em que ficássemos a sós.
"Não acredito que você fez mesmo isso. Se superou, Angie." Nós caímos na risada enquanto eu imitava a Britney brigando com ele.
"Até me deu vontade de encenar de novo. Foi uma sensação de pura adrenalina correndo dentro de mim, foi maravilhoso! Me senti numa novela." Dou risada só de me lembrar de ontem à noite.
"Por que você não entra para a turma de teatro da faculdade?" Abby fazia parte também, mas a diferença é que ela fazia Artes Cênicas.
"Eu teria que cursar Artes Cênicas e não é o meu hobby." Sorrio para ela educadamente.
"Claro que não, Angie!" Ela ri como se eu tivesse contado uma piada. "Você só precisa se inscrever para a peça que vai rolar de fim de semestre. As aulas de iniciação para quem gostaria de fazer teatro só por curtição, já acabaram, mas eles aceitam novatos, mesmo sem experiência." Eu fico no modo pausado, pensando sobre o assunto.
"Vamos Angie, vai ser legal!" Deixei Abby animada e não era algo bom. Não pensei quando eu disse àquilo e agora deixei ela com falsas esperanças.
"Vou pensar, okay? Prometo que vou pensar."

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