Capítulo XI - Paralisia

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Havia alguns dias em que meu pai tinha partido, em que o Hermanni tinha partido e me deixou a sentir sua falta. Passo meus dias sentada a sacada a olhar a escuridão de fora, sentindo uma gota de esperança que ele viesse a meus braços novamente. Como foi dito, nosso amor teria consequências, e nesses últimos dias tudo estava tranquilo. A ama me trazia chá quente para acalmar-me enquanto eu lia na sacada. 

As vezes chorava escondido antes de dormir, parece que é nessa hora que tudo pesa ao peito, afundando-me em tristeza e lágrimas. Não desejara mais sair do meu quarto, para mim era o lugar mais seguro, apesar das paredes me sufocarem. Eu queria voltar para meus aposentos na França, para casa de minha mãe. Mãe, como sinto sua falta, a sua partida é a que mais me dói. Talvez se eu voltasse, tudo ficaria bem. A dor não iria, mas meus dias aqui estão sendo angustiantes. 

A casa estava em silêncio, não encontrara a ama em parte alguma, desci as escadas e a vi sentada na poltrona com seu bordado no colo, parecia estar cochilando. Fui a sua direção angustiada, com medo de terem a levado também. 

- Ama! acorde! - a sacudi.

- Menina, que susto, quer me matar do coração, estou velha, ein. - falou ela brigando. - O que faz acordada a essa hora? Vamos para cama.

Subi com a ama as escadas e logo pulei na cama, deitei e ela como sempre me esperou dormir para ir a seus aposentos, a ama nunca quis me deixar sozinha. Eu adormeci, por algumas horas abri meus olhos, meu corpo estava imóvel, não conseguia mover um membro sequer. Via uma sombra preta em cima do meu peito a apertar meu pescoço como se quisesse me sufocar, tentei gritar, mas o som das minhas cordas vocais não saíam. E eu fiquei ali naquela posição encarando aquele ser sem forma e tentando respirar. Depois de angustiantes minutos, aquela sombra havia me deixado, pude respirar e me mover, estava acordada. O que teria sido aquilo? 

Passei a madrugada acordada encostada na parede olhando o comodo vazio e escuro. Minha boca estava amarga, eu estava podre por dentro. Minha falta do Hermanni não passava de forma alguma, algo me consumia, estava me destruindo. Talvez eu esteja morta.

Já faziam dias que eu sofria com esses tipo de ataques noturnos, eu estava sofrendo e dessa vez ele não estava ali para me proteger. 

Estava acordada quando suavemente fui pegando no sono, como se alguém tivesse me colocando para dormir, sentia alguém acariciar meu rosto, mas não havia ninguém ali. Adormeci rapidamente e nada mais aconteceu, passei a noite com uma presença ao meu lado, e não saiu dali até que amanhecesse. 


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