Capítulo V - Encontre-me no cemitério

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Em casa estava em agonia, me confunde os sentimentos, não sei se estou ansiosa por estar triste, ou estar pensando demais em alguma ilusão ou visão que tive no jardim. Eu poderia estar ficando louca, sou cheia de problemas, e há tempos não via o médico. 

Ficar desacordada seria o melhor a ser feito por mim, então deitei-me na cama para dormir um pouco. A música tinha voltado, pude ouvi-la. Dessa vez não dei tanta importância e virei para o lado para descansar. Não demorei para adormecer e sonhar, a música ainda ecoava na minha cabeça, vi alguém tocando vestido de preto em meio a neve. Caminhei devagar para ver de perto, me aproximei e ele parou imediatamente de tocar as notas e virou de uma vez para mim. Levantou-se e chegou muito perto, perto o suficiente para sentir sua respiração, eu estava ofegante por medo.

- Katherine.. me encontre no cemitério do final da rua hoje quando o sol se pôr. - disse ele baixo próximo a minha clavicula, quase encostando seus lábios. 

Acordei suada, levantei em pânico, a música não havia parado, estava ali junto ao cheiro de rosas, estava intenso dentro dos meus aposentos. Passei a me perguntar o que estava acontecendo comigo, quem era aquela pessoa com belos olhos e porque invadia meus sonhos. 

Precisava de ar, por mais gélido que fosse, eu não conseguia respirar perfeitamente, algo me sufocava, eu sentia sua respiração em minha pele. Abri a janela e me deparei com aquela figura obscura parada em meio as esculturas de anjos, olhava-me de longe, sempre calado e fixo. Novamente se virou e foi embora sumindo em meio ao branco. E eu só pensava no que tinha me dito em meu sonho, ele talvez quisesse me dizer algo. Devo admitir que me sinto atraída, e talvez eu devesse ir ao encontro daquele ser de olhos verdes e fundos.

Esperei o dia acabar sentada a janela e me dirigi ao final da rua com uma sensação forte de que estava sendo seguida por alguma sombra. Havia um cemitério, como ele havia me dito. Portões altos de ferro, uma escuridão sem fim pelos corredores de túmulos desconhecidos. Pousado em uma escultura, um corvo estava a me encarar. 

Virei para o lado e lá estava ele novamente parado a alguns metros de mim. Com as mesmas feições assustadoras e misteriosas. Inesperadamente ele se aproxima devagar. Dei alguns passos trémulos para trás.

- Vim para buscá-la... - Disse ele calmo se aproximando. 

- Quem é você e o que quer comigo? - falei assustada.

- Não faça perguntas, apenas venha...prometo que tudo vai acabar. Sua dor, seu vazio, sua melancolia, tudo que aperta seu peito enquanto respira. Tudo isso acabará logo. - disse ele estendendo as mãos.

O encarei assustada, sem entender o que havia se passado naqueles exatos segundos. Andei mais alguns passos para trás e me apoiei na lápide. Ele veio a minha direção, estava trémula. Sua escuridão se aproximava para cima do meu corpo, estava bem perto do meu rosto. Seus olhos nunca estiveram tão perto dos meus, e por alguns segundos nos olhamos de uma forma estranha e atrativa. Sua feição mudou, analisando os traços do meu rosto, até olhar os meus lábios. Me olhava com uma certa tristeza e medo, como se eu tivesse alcançado seus segredos ocultos. Toquei em seu rosto e seus olhos se fecharam.

- Eu sinto em você...o que você é? - disse ele sussurrando perto dos meus lábios. 

- Eu não sei quem você é, e o que faz comigo, mas se for pra me levar, faça logo... - disse ofegante.

Nesse segundo, eu apaguei e senti seus braços me segurando e me envolvendo pro seu peito. Acordei em minha cama, com a janela aberta e a brisa gelada de fora. O cheiro estava impregnado em minha pele. Ao meu lado, uma rosa vermelha com alguns espinhos. Olhei para os lados e nenhum sinal daquele homem..

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