Uma rosa adormeceu comigo aquela noite. Ainda tentava lembrar o que havia acontecido e como havia chegado a minha cama. Levantei-me e Ama veio ao meu encontro para trazer algumas roupas e logo saiu. Continuei deitada em meio aos lençóis com os pensamentos confusos a manhã toda.
Mais tarde desci as escadarias com um livro nos braços em direção ao jardim. Sentei no mesmo banco e o abri, estava tentando agir o mais natural possível, tentando não pensar no que havia acontecido no cemitério, tentando não pensar no homem estranho com conversas e atitudes estranhas. Claramente ele queria algo de mim.
Fiquei ali concentrada no livro por algumas horas, nada fora do normal havia acontecido. Quando me deparo com o mesmo homem em meio os anjos esculpidos, no mesmo lugar. Ele me encara e estende a mão chamando-me. Eu estava confusa, mas curiosa, levantei-me e fui em sua direção com um pouco de receio. Encostou-me em uma das esculturas e me abraçou pela cintura, com alguns centímetros de distância da minha boca, ele o fez novamente. E me beijou.
Me beijou tão devagar e com uma intensidade brutal, sentia me apertar contra seu corpo. Parou e voltou a me olhar novamente. Deslizei em braços, como se tivesse roubado todas as minhas forças. Seus lábios eram quentes, ferviam meus lábios. Me transbordava de desejos ocultos. Aquele homem me tinha com tanta facilidade.
Soltou-me com a mesma feição de medo de antes, se afastou assustado. Como se eu fosse feri-lo ou algo assim. Continuei apoiada e ele apenas olhava para seus pés.
- Quem é você - disse ofegante.
Silêncio, nada disse. Virou-se de costas e disse em um tom irritado:
- Bem.. isso foi inesperado. Mas não podemos nos tocar mais, nem em pensamentos, nem em sonhos, me perdoe. Mas preciso ir embora. O que tive que fazer, não pude, e não irei. Você esteve em mim e agora me sinto diferente do que sou.
- Espere.. você não me disse o seu nome, apenas sei que mora naquela torre e que toca piano divinamente bem a ponto de encantar-me. Estou atraída por você, seja lá quem for.
- Não pode. - disse ele cabisbaixo
- Por que não? - perguntei confusa
Ele não disse mais nada, nem me olhou mais, apenas saiu andando dando as costas a mim. Continuei na mesma posição olhando ele sumir no nada, como sempre. Sentei-me nas escadarias da porta tentando compreender o que estava sentindo. No momento me sentia vazia, mais do que nunca, sentia como se tivesse arrancado meu coração fora e levado, nunca havia sentido esse tipo de agonia. Senti falta da minha mãe, da minha felicidade, da minha vida feliz, agarrei minhas pernas e desabei. Eu era sozinha, e estava destinada a ser assim o tempo restante da minha vida.
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Funeral dos Corações
RomansaO predador se apaixona pela presa. Baseada em romances trágicos. Essa historia se passa em 1840, Katherine de Paris (Moça melancólica o suficiente para ser atraída pelo oculto) e Hermanni da Finlândia (Lorde solitário que esconde um misterioso e per...