Capítulo IX - O seu Demônio

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Acordei nos braços dele, olhei para o lado e lá estava ele adormecido, tão calmo, respirava fundo. O apreciei por alguns minutos, e deitei em seu peito para ouvir seu coração, tinha se acalmado. Fechei meus olhos para senti-lo e logo em seguida ele segurou meus cabelos suavemente. Me abraçou por um bom tempo e virou para me olhar nos olhos. Me olhou com ternura e logo em seguida suspirou com tristeza desviando os olhos.

- Isso que estamos fazendo.. o que fizemos, vai nos custar muito.. o bastante para virarmos nada. 

- Do que você tem medo? -Segurei em seu rosto.

- O que mais tenho medo é de perder você, querida.. e eu vou. - Disse ele beijando minhas mãos pálidas.

- Não vai,  caso for, nos perderemos juntos. - falei lamentando. 

Ficamos um tempo ali, abraçados, pensando no que poderia ser amanhã, como se aquela fosse a ultima vez de todas. Como se eu saísse pela porta, jamais voltaríamos a nos ver. Olhei para aqueles olhos verdes e sorri.

- Preciso ir, Hermanni. Infelizmente minha vontade é de ficar com sua presença. Mas meu pai deve estar aflito, e a ama também. - Falei me vestindo rapidamente. 

- Te levo até lá, já é escuro lá fora. - ele levantou se aprontando e me levando nas mãos. 

Fomos juntos pela rua escura, como se não tivéssemos medo de nada, ele me deixou a escadaria da minha casa. Me abraçou forte e soltou sem vontade de me deixar. Me olhou e logo em seguida que virei para abrir a porta, ele havia desaparecido. Procurei meio aquela escuridão e não o via. Entrei confusa e a ama estava a minha espera. 

- Katherine, estava preocupada, sorte que teu pai ainda não há de chegar por essa hora. Aonde estavas? - ama falou aflita.

- Estava com um rapaz, ama. E claramente estou apaixonada. - Falei completamente fora de mim.

Ama riu e me abraçou, e logo em seguida mandou-me tomar um banho. Entrei na banheira, não queria me lavar, aquele cheiro dos nossos corpos suados estavam em mim e queria dormir assim. 

Sentei-me a poltrona ao lado de ama para ler um pouco quando alguém bate a porta. Ama se levanta correndo e caminha até ela para abri-la. Era um senhor, provavelmente amigo de meu pai, sua cara demonstrava desespero, confusão, ele tremia como se tivesse visto a assombração.

- Senhora, aconteceu algo a seu marido. - disse ele em prantos.

- Não sou mulher dele, ele é meu patrão, o que aconteceu, vamos, diga logo. - ama falou em desespero.

- Ele morreu, senhora. Seu corpo foi achado em um beco do centro, estava morto, desconfiamos que foi homicídio por haver marcas de facas pelo corpo. - falou ele desabando.

A ama congelou e pôs a a mão na boca tentando se manter firme aquela situação. Enquanto a mim, os meus olhos enchiam de lágrimas. Ele sempre foi ausente, mas era o meu pai, e também foi tirado de mim, o que eu fiz para merecer tudo isso? E comigo levo pessoas que  não merecem isso e que sofrem as mesmas dores. Corri para meu quarto e me joguei em meio aos travesseiros, chorei de soluçar. Aquela dor havia voltado, como se zombasse de mim. Estava fraca e insegura, como se o mal tivesse me encurralando e brincando comigo mais uma vez.

Eu estava vazia..

Senti uma presença parado a janela, estava em tantas lágrimas que não consegui enxergar bem, era o Hermanni, e ele sentia dor. Ficou ali parado me observando chorar, sem me dizer nada. Como se soubesse que aquilo iria ocorrer comigo. Como se soubesse que ia me ver sofrer e não podia fazer absolutamente nada dessa vez, já tinha feito.. e não tinha volta. 

Ele se sentou na ponta da cama, e me esperou parar de chorar como criança. 

- Katherine, meu bem.. tudo em sua cabeça está confuso, e isso tudo não é justo para você. Você não merece isso. Mas merece saber a verdade, tentei te explicar, mas nossas forças interiores foram maiores que nossos pensamentos. - Disse ele me fazendo carinho - Eu não sou uma pessoa comum, e isso está claro, não sou bom, não espere coisas boas de mim, não crie expectativas. Eu estou apaixonado por você, e jamais te faria mal, mas não é isso que eu faço, eu atraio e levo as pessoas, e por algum acaso, você foi minha fraqueza. E me recuso a te fazer mal. 

- Eu não compreendo...  - falei soluçando.

- Bem, as pessoas têm anjos da guarda.. eu sou o seu demônio. - Disse ele calmo me encarando com os olhos verdes. 


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