Roberto Alves era um bom pedaço de músculos e veias saltadas. 1,95, porte militar, sorriso sedutor e barba por fazer. Havia seduzido muitas mulheres desavisadas que se enganavam por seu rostinho bonitinho e por seu corpo hercúleo, mas aquelas que infortunadamente haviam chegado perto demais... bem, isso é outra história. Graças à sua fama, havia sido contratado por Zhang sob a fachada de enfermeiro, e podia afirmar que trabalhar naquele sanatório era a melhor coisa que havia acontecido com ele nos últimos anos. Os gritos, as lágrimas e as sessões de tortura que presenciava ali eram deliciosamente agradáveis.
Havia levantado da cama fazia menos de meia hora, preparado para fazer sua ronda do dia, estranhando o silêncio que tomava conta do prédio. Será que o Doutor havia perdido a hora? Seu relógio já marcava cinco da manhã, e o sádico psiquiatra começava suas sessões pontualmente às três. Terminando de fazer sua ronda nas alas A e B, direcionou-se para a C, onde encontrou o corpo inerte de Júlio Zhang.
- Puta merda! - Roberto colocou as mãos na cabeça, sem saber o que fazer. Uma poça considerável de sangue se encontrava ao redor do corpo, a barriga do doutor aberta ao ponto de ser possível ver alguns de seus órgãos internos. Estava mais do que claro que alguém havia matado Zhang, mas como...?
Roberto resolveu então passar um rádio para Paulo, o outro "enfermeiro" contratado pelo psiquiatra, para logo após correr em direção ao cômodo onde se encontravam as medicações e as seringas. Elas seriam necessárias, caso suas suspeitas se confirmassem e algum paciente tivesse assassinado o doutor. Mal sabia ele que, ao tomar tal decisão, estaria assinando seu atestado de óbito.
O local onde eram depositados, além das medicações e seringas, instrumentos cirúrgicos como bisturis e tesouras de sutura, era mal iluminado e estranhamente gelado, o que fazia Roberto se sentir numa cena de filme B de Hollywood toda vez que parava ali. Querendo terminar logo o que tinha se proposto a fazer ali, passou a procurar rapidamente o que precisava, virando as costas para a porta. Agachando-se para pegar a seringa, que se localizava na parte de baixo do armário, sentiu um estranho frio na espinha, como se alguém o estivesse observando.
Instintivamente, virou-se para trás, encontrando apenas a porta fechada e os dois armários que ficavam em lados opostos. Se sentindo um covarde, voltou para o que estava fazendo, sendo surpreendido por um objeto sendo fincado uma, duas, três, infinitas vezes com força nas suas costas, antes que tivesse ao menos forças para se virar e ver seu agressor. A dor era lancinante, o homem gritando a cada investida mais profunda e sentindo seu sangue, quente, escorrer em profusão por suas costas.
- Olha pra mim! Quero que você olhe nos meus olhos, da mesma forma que o Zhang olhou quando deu seu último suspiro. - A voz feminina e familiar o assustou, fazendo-o virar a cabeça com dificuldade e dar de frente com Pietra. Seu traje hospitalar, assim como todo o seu corpo, banhado de sangue, era assustador. - Vai morrer de olhos arregalados, que nem ele? Aquela foi uma visão e tanto. Se seres mitológicos realmente existissem, poderíamos dizer que ele havia tido um encontro e tanto com a Medusa.
- E-eu...
- Shiu! A única coisa que eu quero ouvir dessa sua boca são seus gritos, suas súplicas e talvez um "por favor, Majestade"... nada mais do que isso. - Os olhos azuis da ruiva brilhavam em excitação. Se divertindo com a situação e por ter o grandalhão literalmente aos seus pés, fincou mais uma vez a tesoura, dessa vez no ombro do enfermeiro, ouvindo mais uma série de gritos e xingamentos. - Isso! Isso! Música para os meus ouvidos.
Alguns minutos e cortes cirurgicamente feitos depois, Roberto se encontrava inerte no chão, sua camisa coberta pelo sangue que Pietra tanto apreciava. Metade do seu plano tendo-se cumprido com sucesso, e agradavelmente satisfeita, ela saiu para o corredor da ala C, à procura do outro cão de guarda de Zhang, Paulo. Com o destino ao seu favor, o viu entrando bem no quarto à sua frente e espreitou, como um leão esperando a presa cair em sua armadilha. Pronta pro ataque e com os olhos azuis vibrando em excitação, Pietra abriu seu melhor sorriso sádico. A diversão iria recomeçar.
- Que os jogos comecem! - E a adrenalina inundou seu corpo, dando-lhe uma onda de prazer.
Fim.
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Lembranças - HIATUS
Mystery / ThrillerDizem que o maior tesouro são as lembranças. É por isso que o Dr. Zhang trabalha há anos em um soro do esquecimento. Se bem sucedido, o destino da cobaia 09 tomará o mesmo rumo que suas memórias: completa escuridão. Obra registrada no SafeCreative...