Lembranças - HIATUS

IV. Epílogo (Parte III)

- Onde estou? - Alguns mililitros de seu soro e o olhar antes sádico de Zhang passou a confuso e até inocente. Sensações que 09 conhecia muito bem. Se ela tinha pena dele? Nem um pouco. - Quem é você? - Perguntou, vendo-se deitado no chão do extenso e branco corredor do Sanatório Santa Lurdes, com 09 estrategicamente posicionada em cima dele.

- Não interessa quem sou. Eu só preciso de uma resposta sua: você sangra?

- Eu não estou entendendo. Por favor, me responda onde eu estou... aqui está muito claro, a luz está me cegando. - Que transformação! A voz, antes rouca e sarcástica do doutor, se reduziu a um trêmulo sussurro. - Eu estou com medo, me ajude.

- Cala a boca! Você vai sangrar, seu filho da puta... e ainda vai ser pouco por tudo que você fez. Porco sádico. - Puxando um pedaço de pano branco do bolso, usou-o para amordaçar sua vítima.

Ela adoraria ouvir seus gritos de dor quando ela fizesse com ele o que havia planejado mais cedo, mas, mesmo que já tivesse passado das duas da manhã e todos estivessem dormindo, os empregados do sanatório viriam ao seu socorro ao mínimo suspiro do médico e sua diversão acabaria cedo demais.

Com um Zhang de olhos arregalados abaixo de si, 09 puxou a faca que havia escondido mais cedo do almoço. Ela não tinha serras, mas com sua força, o instrumento seria bastante proveitoso. Sentia prazer ao vê-lo tremer enquanto passava lentamente a faca por sua barriga, tomando seu tempo para escolher o melhor lugar para iniciar o corte. Decidindo começar pelo lado direito, enfiou a faca com toda força na região, fincando-a na pele do bastardo.

Mesmo amordaçado, ela podia ver a dor em seus olhos, as lágrimas escorrendo involuntariamente pelo rosto e molhando a camisa branca que ele usava. Seria ela psicopata por sentir prazer ao ver o sofrimento do seu algoz? Isso 09 não sabia responder, mas olhava com atenção o sangue que saía do buraco que fizera e escorria até o chão do corredor. Vermelho vivo. Sua cor favorita, disso ela conseguia se lembrar.

Um repuxar da faca para o lado esquerdo. Um grito mudo de Zhang. Sangue jorrando e tingindo a camisa branca de vermelho. Um corte maior na barriga, chegando ao seu centro. Doutor Malvadeza se debatendo no chão. Uma poça de sangue se formando ao seu lado e hipnotizando 09.

Dor. Lágrimas. Separação. Tortura. Súplica.

Conforme seu sangue fazia do corredor do sanatório uma piscina tingida de vermelho, os olhos de Zhang começaram a perder o brilho, seu rosto foi ficando mais gelado a cada minuto e sua boca empalideceu. Ao ver o corpo quase sem vida do doutor, a ruiva, dando seu trabalho por completo - seu corpo e mãos banhados pelo sangue de seu algoz-, enfiou a faca uma última vez, bem na direção do coração de Zhang. Júlio arregalou os olhos, dando seu último suspiro, e ela fechou os olhos, se sentindo em paz.