Capítulo 17

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Sophie regressa à casa da bruxa duas horas mais tarde. Conduzira durante algum tempo por aquelas ruas de Lynn, enquanto refletia sobre a conversa que tivera com a bruxa. Zayn estava certo. E ela também. Todas aquelas desconfianças não tinham sido em vão. A bruxa descaíra-se quando Sophie lhe fizera perguntas sobre os vampiros que morreram naquela noite.

O clima arrefecera um pouco naquelas duas horas. Sophie estaciona o carro a um quilómetro da casa da bruxa e decide percorrer o caminho até lá a pé. No entanto, não tomará a rua principal, mas os caminhos que passam pelas traseiras das diversas casas. Terá que ser o mais discreta possível, se quiser chegar até à casa da bruxa sem que esta se aperceba da sua presença.

Em apenas 5 minutos, Sophie já está nas traseiras da casa da bruxa. E para seu espanto, não há círculo desenhado na relva, nem estrela, nem esqueletos. E uma pequena luz surge na sua mente. Tinham-se passado 2 milhões de anos desde o ritual. Seria possível que um desenho permanecesse no solo durante tanto tempo? E aqueles ossos, sujeitos a alterações de temperatura, a climas violentos, não teriam acabado por desaparecer? E no entanto, ela e Zayn tinham estado ali no dia anterior, e assim, num dia para o outro, todos os vestígios do ritual desaparecem? Nada faz sentido na cabeça de Sophie, apenas uma única conclusão. Aquela bruxa mentira. Agora tem a certeza disso. Mal pode esperar por regressar ao hotel e contar a Zayn que as suas desconfianças tinham a sua razão de ser.

Sophie tenta localizar mais ou menos o local onde estava desenhado o símbolo do ritual e onde, no seu interior, ossos se juntavam num monte. Senta-se cuidadosamente na relva, como se a estimasse ou como se esta tivesse um valor pessoal para ela.

Inclina-se um pouco para a frente, de modo a conseguir tocar com as mãos na relva macia. Acaricia-a enquanto observa a forma como ela se move com a ação da brisa suave que toma o ambiente. Nota um leve formigueiro que começa a percorrer as suas mãos, corre-lhe pelos braços e causa curtos arrepios em todo o seu corpo. Sophie fecha os olhos lentamente e cruza as pernas, de maneira a sentir-se confortável sentada no solo.

Concentra-se em tudo à sua volta, incluindo na erva que toca, nos pássaros que cantam, no som das rodas dos automóveis bem distantes. Por momentos, Sophie consegue ouvir os sons mais distantes e abafados. Até os instetos debaixo de terra consegue escutar, a rastejarem e a fazerem o seu papel.

A pressão do ambiente leva Sophie e agarrar alguma erva, embora sem a arrancar do seu lugar. O seu coração acelera e Sophie fica com a sensação de sentir o sangue a correr-lhe nas veias. A sua respiração fica ofegante. Todo o seu corpo treme, mas ela quer continuar. Tem de saber se aquele lugar realmente tivera algum envolvimento no ritual, se os seus pais estiveram ali, se há alguma forma de descobrir Anne a partir de uma pista tão pequena.

Sophie nunca fizera um feitiço desta dimensão. Todo este parece-lhe tão sobrenatural que tem dificuldades em acreditar. Mas as sensações não enganam. Tudo o que ela está sentir, desde o ar que toca na sua pele aos ruídos que distam dela quilómetros e quilómetros.

Subitamente, sente um repuxo vindo do solo, o que a leve a inclinar-se abruptamente, como se duas mãos invisíveis a tivessem agarrado e puxado com toda a força. Sophie abre os olhos. As suas pupilas dilatam-se ligeiramente. À sua volta, um símbolo já seu conhecido vai aparecendo pouco a pouco, como se alguém estivesse lá, a desenhá-lo à pressa, no entanto, este não tinha qualquer erro. Todas as linhas estão perfeitamente delineadas, os contornos no seu devido lugar. Todos os pontos se unem, e a estrela dentro de um círculo aparece desenhada no solo.

Então o ritual sempre aconteceu aqui.

Fecha os olhos novamente e começa a sentir uma vaga de calor em seu redor. Mesmo o clima não estando quente, a sua pele queima, mas Sophie não tem qualquer reação.

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