Capítulo 3

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O prédio está silencioso, ninguém parece estar nos seus apartamentos.

Sophie sobe as escadas a correr até chegar ao terceiro andar, o andar do seu apartamento. Procura as chaves na sua mala, descontroladamente, e quando as encontra, treme ao mesmo tempo que tenta abrir a porta. Ao fim de alguns segundos que parecem tão longos, Sophie abre a porta e entra no apartamento gritando pelo nome da irmã.

Ao ver que não obtém resposta, percorre todas as divisões. O pânico que sentiu quando viu que a Anne desaparecera cresce e não consegue raciocinar. Ainda assim, não perde a esperança. Se a irmã não está em casa, deve estar na universidade. Tem de estar.

***

- Ei, cuidado!

Sophie entra disparada na Harvard, batendo contra um aluno, que começa a gritar com ela. Mas Sophie não tem tempo para gritar de volta. Acelera ainda mais o passo quando entra no corredor principal. É o tempo do intervalo, por isso, todos os alunos com aulas conversam nos corredores ou remexem nos seus cacifos.

A maior parte das salas têm as portas abertas, portanto Sophie entra em todas sem hesitações. Mas nas salas não há mais nada a não ser cadeiras, materiais, microscópios. Tudo, menos Anne. Encontra pelo caminho alguns alunos que ela sabe que conhecem a irmã, mas todos afirmam que a última vez que a viram foi logo no início das aulas, ou só no dia anterior.

Enquanto Sophie continua a procurar a irmã, um homem alto observa-a encostado a um cacifo. Fita-a por uns segundos, olha para o relógio, dá um suspiro e volta a olhar para Sophie. Está totalmente vestido de preto e tem um certo ar de mistério. Assim que vê aquela rapariga completamente descontrolada a virar no próximo corredor e subir umas escadas, desencosta-se dos cacifos e vai atrás dela, a passos curtos e lentos. Sabe que vai conseguir chegar até ela, mais cedo ou mais tarde, sem precisar de ir à mesma velocidade que ela.

Sophie arrisca espreitar na biblioteca. Com sorte a bibliotecária conhece Anne, já que ela e Sophie vão lá várias vezes para fazer pesquisas.

- Boa tarde – Diz, já sem fôlego. – Viu a minha irmã?

- Boa tarde... Não a vi, lamento. Mas está tudo bem? – Pergunta a senhora já com alguma idade, preocupada.

- Obrigada de qualquer forma. – Responde rapidamente e sai da biblioteca.

Assim que sai, aproxima-se de uma janela e encosta a cabeça ao vidro, lentamente.

Onde estás, Anne? Porquê? O que te aconteceu?, pensa Sophie, já cansada e a perder a esperança. Procurara em todos os lugares onde a irmã poderia estar. Já se tinha esquecido de que o empregado do café ligara para a Polícia. Tal como podia ter esperado lá e prestado declarações, também poderia ter fugido do local para procurar Anne, para não perder tempo. Mas certamente entrarão em contacto comigo, por isso não devo preocupar-me com isso...

- Eu posso ajudar-te.

Sophie vira-se, assustada, para encarar a voz masculina que acabara de falar. Assim que o faz, depara-se com um homem alto, vestido de preto, com as mãos nos bolsos e um ar sério. O mesmo homem que a observara uns minutos atrás e ela não reparara.

- Desculpe?

- Podes tratar-me por tu – Responde o homem, sem mudar de expressão.

- Não te conheço...

- Mas eu conheço-te a ti - Dá dois passos em frente e abaixa um pouco a cabeça. – E sei que estás num momento complicado.

- O que é que sabes?

- Tu podes mandar-me embora por te ser desconhecido ou.... Podes confiar em mim e encontrar a tua irmã.

- O quê?!

Ao ouvir isto, Sophie fica surpresa e assustada ao mesmo tempo. Como poderia aquele homem saber algo? Sabe que qualquer pessoa acharia estranho vê-la a correr de um lado para o outro descontroladamente, como se procurasse alguém, mas Sophie não conhece aquele homem, nunca o tinha visto antes.

- Foi o que ouviste. Eu não sei onde ela está, mas com a minha ajuda será mais fácil.

- Eu acho que a Polícia já está a par de tudo, por isso... hum...

- Não – Interrompe-a. – A Polícia não pode ajudar.

- Mas quem és tu para duvidar disso? Ela vai aparecer!

- Ela não desapareceu por acaso.

- Como assim?

- A tua irmã foi levada. E ir buscá-la está muito para além do que as autoridades podem fazer.

- O que é que isso quer dizer?!

- Ao seu tempo saberás.


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