Quando já estava saindo ouvi um ruído, era uma música. Observei a sala cheia de corpos, o telefone celular de um daqueles tocava, segui o som e descobri que o aparelho estava guardado em um armário de metal que o dono jamais abriria. Era provavelmente onde guardavam os pertences todos os dias, olhei novamente para aquelas pessoas, cheias de planos em um momento, no outro transformadas em monstros, parecia um terrível pesadelo, um turbilhão de perguntas e medos preenchiam minha mente, mas não havia tempo a perder.
Meu plano era sair pela mata, semanas antes havia descoberto uma trilha ao ver um casal empolgado passar por uma abertura na cerca, com certeza o estrago não tinha sido reparado, as coisas sempre demoravam a ser feitas, quanto mais distante da diretoria menor era a prontidão da equipe de manutenção em sanar os problemas. Segui apressado, só de funcionários eu calculava em torno de 350 pessoas naquele turno e não haveriam balas suficientes para todos eles quando aquela praga se alastrasse.
Um casal e sua filha me abordaram no corredor, visivelmente abalados, seriam presas fáceis. Eu sabia que minha sobrevivência dependia da velocidade com que conseguisse deixar o prédio e que um grupo maior e despreparado como aquele me causaria um atraso perigoso, então os mandei se esconderem no banheiro até a chegada de ajuda, a porta era resistente e eu mesmo me esconderia lá se não estivesse armado e tivesse uma opção melhor, estariam seguros.
Para chegar à saída eu precisaria atravessar o setor de urgência e a enfermaria, no final do corredor teria acesso à escada que me levaria ao telhado, era um caminho mais longo, mas preferi evitar elevadores, as possibilidades encontrar vários deles na porta ou ficar preso eram aterrorizantes. Não tinha ideia de quantas criaturas encontraria pelo caminho, mas torcia muito para que fossem poucas pois a possibilidade de atingir todas na cabeça no primeiro disparo não era tão grande, apesar de ter me saído bem com os alvos durante o curso de vigilante, foram poucas as vezes que pratiquei após minha formação há muitos anos.
O trajeto escolhido era mais espaçoso, assim evitaria ser cercado em um corredor estreito onde mesmo apenas um monstro se tornaria grande problema. O rádio continuava sem resposta da equipe ou do estranho que me alertou antes, eu estava sozinho e precisava ser rápido. Ao entrar no setor de urgência me deparei com uma enorme bagunça, objetos derrubados e pertences pessoais espalhados pelo chão mas não haviam corpos ou criaturas ali, segui devagar, atento a qualquer ruído naquele ambiente, verificando os leitos um a um antes de prosseguir, apesar do tempo ser valioso, um descuido custaria minha vida.
A tensão era enorme e o medo da morte se avolumava à medida que ouvia gritos vindos de outros pontos do hospital, mas eu não deixava que o temor se tornasse maior que minha vontade de viver, tentava dentro das possibilidades manter a mente em equilíbrio para agir da melhor forma. O cenário se tornava mais aterrorizante à medida que me aproximava da enfermaria, um rastro de sangue se iniciava alguns passos antes da porta passando por baixo dela, a maçaneta também estava suja e já era possível ouvir os gemidos antes mesmo de abrir, haviam muitos deles do outro lado.
Os monstros estavam com os braços levantados ao redor de um armário alto, um homem abrigado sobre ele parecia chorar, de cabeça baixa, poderia também estar se transformando em uma daquelas coisas já que tinha o jaleco rasgado e ensanguentado no braço direito, provavelmente uma mordida. Seria bom poder acabar com seu sofrimento, mas isto significaria chamar a atenção de todos aqueles animais, não era hora de ser herói, entendi que a presença daquele cara era uma imensa sorte, não fosse ele aquelas bestas estariam espalhadas pela sala. A distração foi fundamental, segui rente à parede em direção à porta que dava para a escadaria, de lá chegaria ao telhado e desceria pelo acesso da manutenção.
Estava prestes a me ver livre daquele pesadelo, mas de alguma forma eles perceberam minha presença, se viravam e caminhavam em minha direção, os braços estendidos para a presa mais fácil, eu não tinha como voltar e as balas não seriam suficientes para todos. Corri para a porta, estava trancada então atirei na fechadura e empurrei, no entanto havia algo no caminho, uma mulher assustada que por um instante julguei ser um deles. Aquele imprevisto me fez hesitar e a fração de segundos perdida foi o que me condenou, fui agarrado pelas costas, sem chance de reação, em pouco tempo estava no chão, me debatendo coberto por zumbis, os desgraçados me mordiam, rasgando pedaços da pele e músculos, mas apesar de toda a dor eu ainda segurava minha arma.
"Mate todos que encontrar ou morreremos, está me ouvindo? Essas criaturas estão infectando todos, mate-os!", essas palavras se repetiam em minha mente então reuni forças em um último esforço e com a arma apontada para minha cabeça apertei o gatilho pela última vez.
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* Obs: Alguns podem achar estranho a morte não ser fator limitador da narrativa, mas é uma forma que encontrei de adicionar a incerteza sobre o destino dos personagens, espero que a maioria goste.
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ZUMBIS
HorrorZumbis - Livro I - Terror no Hospital Um hospital interditado pelas autoridades, funcionários e pacientes presos com criaturas sedentas de sangue. A praga se alastra enquanto pessoas buscam uma saída deste cenário de horror. Acompanhe esta história...