Capítulo XIV - Jessie: O encontro

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Após ultrapassar a cerca procurei por uma entrada, havia algumas portas, mas nenhuma delas estava aberta. Meu tornozelo doía muito, eu estava exausta e assustada com aquele animal, definitivamente não parecia um cão. O homem entrou na mata pouco antes de mim, o estrago em seu corpo não poderia ter sido feito por um cachorro, a possibilidade de algo sobrenatural me espantava, até a história dos demônios deixara de parecer um absurdo diante do que vi. A necessidade da mente em encontrar uma explicação lógica, me fez crer que talvez o choque de ver o morto tenha me levado a imaginar coisas. 

Ainda em meio ao turbilhão de pensamentos, encontrei uma pequena porta, parecia uma passagem para material, com certeza não era usada para entrada e saída de pessoas ou precisariam engatinhar para passar por ali. Apenas um arame servia para mantê-la fechada, não tive dificuldades para abrir, mas quebrei uma unha no processo, fiquei mais revoltada com aquilo do que com a torção do pé. Antes de entrar resolvi verificar o ferimento, não havia hematoma, rasguei a manga da minha camisa e imobilizei a articulação da melhor forma possível.

Ao abrir a portinhola descobri que teria que rastejar para prosseguir, um carro obstruía grande parte da entrada. Depois de atravessar percebi que estava no local onde ficavam guardadas as ambulâncias, parecia tudo calmo, pensar na possibilidade das coisas estarem normais lá dentro, ao mesmo tempo em que representavam um alívio me mostravam o quanto fui precipitada, eu estava ferida, cansada, descalça, com a roupa rasgada e suja, vi um homem morto e invadi um hospital interditado, teria que dar muitas explicações, tudo devido às fantasias de um louco que foi comido por uma espécie de "cachorro mutante" e alguns soldados, que, podiam estar ali só de passagem. Bem, como diria meu futuro marido, a coragem e a estupidez são amigas íntimas, depois desta eu passei a acreditar que era bem mais que isso, elas eram irmãs gêmeas.

Após alguns passos avistei um velho caído, ele estava com as costas voltadas para mim, eu me aproximei e tentei falar com ele, mas o homem não respondeu, ele não estava morto, pude perceber pela respiração, me ajoelhei perto dele, que se virou com dificuldade, sua feição era de dar medo, ele segurou minha mão e antes que eu pudesse reagir, me mordeu. Senti a pressão de suas gengivas, ele teria me machucado seriamente se estivesse usando a dentadura que estava caída ao seu lado, afastei-me assustada, mas ele se arrastava em minha direção, não parecia me ouvir. Eu lembrei do que ouvi na lanchonete, ele estaria possuído?

Levantei-me, ainda sem entender o que acontecia e segui as placas que indicavam os elevadores, de longe vi um rapaz correr em direção a eles, ele fugia de outras pessoas que pareciam, assim como o idoso, tomadas por algo maligno. Outros deles estavam abaixados sobre uma pessoa morta, não consegui acreditar no que via, eram canibais, a estavam comendo, fiquei perplexa, em choque e não esbocei qualquer reação quando dois deles vieram em minha direção.

Meu corpo estava paralisado de medo, meu fim parecia bem próximo quando a porta se abriu, apesar das roupas diferentes reconheci Eddie, ele carregava um extintor de incêndio, se aproximou do grupo, abaixou e pegou algo no chão, depois de se levantar veio em minha direção, a sua chegada me despertou, recuei enquanto os dois vinham. Eddie os alcançou, atingiu um deles e passou pelo outro sem fazer nada, me pegou pela mão e mostrou uma chave numerada, "0403", era de uma das ambulâncias, nós fomos na direção delas, meu namorado parecia muito machucado e se movia com esforço, mas apesar disto não tivemos problema para encontrar o número que estava indicado na lateral do veículo, eu peguei a direção e girei a chave, mas não ligava, alguns deles vinham atraídos pelo barulho, o motor só funcionou na terceira tentativa então acelerei e parti atropelando o velho desdentado e mais alguns deles.

Eu seguia as placas que indicavam a saída quando Eddie apontou para um elevador se abrindo, um homem saiu de lá, estava armado, mas sua roupa de médico e o crachá nos mostraram que havia pouca chance dele ser uma ameaça, ao nos ver, o rapaz veio correndo em nossa direção, parei para que ele entrasse e nós três conseguimos sair do hospital, não havia mais cerco, o cordão de isolamento estava lá, as viaturas também, mas as coisas do lado de fora do hospital não pareciam estar tão melhores como eu esperava.

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