Por sorte, consegui encontrar o homem que havia me abordado na lanchonete, talvez tivesse tentado encontrar outro ajudante, mas àquele momento ele se dirigia para a mata, com passos claudicantes que me forçaram a seguir vagarosamente, mantendo a distância, pois mesmo que estivesse decidida a furar um cerco policial, não o faria na companhia de um fanático. Eu precisava chegar rápido, tinha certeza de que o exército perceberia o descuido da polícia com aquela área, mas era preciso contrariar minha ansiedade para evitar ser percebida pelo beato, que parecia despreocupado com perseguidores por não olhar para trás em momento algum, tudo que eu precisava.
Lembrava-me de ter visto no noticiário algo sobre um projeto de transformar em parque ecológico aquela área, mas até então só a cerca havia sido feita e já estava muito danificada, não haviam trilhas, a vegetação era densa com muito mato e pouco espaço entre as grandes árvores deixando o interior escuro mesmo durante o dia.
Não pude deixar de me sentir ridícula, toda a preocupação poderia se mostrar desnecessária e Eddie estar trabalhando tranquilamente em sua sala, pensei se deveria mesmo agir tão impulsivamente enquanto dava tempo para o homem se afastar pela mata após entrar por uma abertura na grade que com certeza não tinha sido feita por amantes da natureza, em qualquer outra situação eu jamais me atreveria a entrar ali, evitaria até as proximidades daquele lugar, mas já havia me decidido, apesar da estranha situação, minha intuição me impelia a seguir em frente, se estivesse errada meu castigo seria esperar de dentro do isolamento, mas se a presença militar fosse de fato um indicativo de problemas, eu teria que encontrar Eddie, escutar um sermão por ter me arriscado e um monte de baboseiras sobre ele saber se virar sozinho enquanto tentava voltar pelo mesmo trajeto torcendo para não encontrar soldados pelo caminho.
Distraída em reflexões acabei deixando que o fanático se afastasse demais, com algum esforço, consegui perceber onde ainda havia luz suficiente, as marcas de sua passagem, mas a densa folhagem das árvores dificultava a percepção à medida que avançava, o caminho tortuoso acabou por me fazer perder a noção de minha posição, eu estava perdida, sem condições de voltar e sem certeza de estar progredindo, mesu pés doíam e amaldiçoei a hora que escolhi aquelas sandálias para sair de casa, me lembrei de meu namorado explicando que era preciso usar tênis para preservar as articulações e prometi que na minha próxima tentativa de invasão em um hospital interditado pelo polícia e pelo exército para salvá-lo de pessoas possuídas por demônios, consideraria a opção de um calçado mais confortável. Nervosa, ri sozinha ao reparar o quanto aquele momento se parecia com enredo de jogos de videogame, só faltavam os medicamentos que brotavam de locais inesperados e os inimigos para dificultar minha jornada, mas eu mal sabia que o segundo detalhe não tardaria a dar as caras.
Ouvi gritos distantes, segui em frente atenta ao menor ruído, torcendo para ser algo menos pior que todas as possibilidades absurdas que passavam em minha cabeça, então após alguns minutos de caminhada em direção ao som, encontrei caída, a bíblia do religioso a quem eu supostamente estava seguindo, no momento em que a guardava na bolsa, um som fraco, semelhante a um rosnado me chamou a atenção, ao buscar sua origem, percebi algo maior, caído a poucos passos, cautelosa, me aproximei e percebi que estava diante do corpo do religioso, ao tocá-lo, senti o sangue e mesmo com a escuridão pude ver os ferimentos. Não bastasse o terror da aterradora visão, descobri que não era a única perto do cadáver, abaixado um pouco adiante estava um cão que se estivesse deitado passaria facilmente por um animal morto em decomposição, o rosnado se repetiu e ele começou a se mover em minha direção, tentei me mover mas caí de costas, ele se aproximou e no desespero, consegui chutá-lo, ele se recuperava do golpe com lentidão, parecia doente e por este motivo tive tempo para me levantar, a adrenalina percorrendo meu corpo forneceu força suficiente para subir na primeira árvore que vi na minha frente, deixando para trás um pé de sandália, irritada, arremessei o outro no animal.
Minha situação parecia muito ruim, mas quando consegui desviar os olhos da criatura ao pé da árvore descobri que estava perto do hospital. Não era possível descer, mesmo que pudesse matar o animal, o que era improvável sem uma arma, não sabia se existiam outros daqueles por ali, então observei as árvores ao meu redor, a proximidade entre elas poderia ser usada ao meu favor, com calma, fui passando de uma para outra e quando me aproximava de meu destino, fiz uma escolha ruim, meu apoio cedeu, meu corpo se chocou com vários galhos, tentei me segurar, mas a mão escorregou e caí de pé, o terreno irregular fez torcer meu tornozelo mas o medo me fez ignorar a dor e seguir adiante até a cerca, naquele momento a sorte parecia voltar para meu lado, após percorrer alguns metros, encontrei uma abertura, ao passar por ela, respirei fundo e inocentemente pensei que o pior havia passado.
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ZUMBIS
HorrorZumbis - Livro I - Terror no Hospital Um hospital interditado pelas autoridades, funcionários e pacientes presos com criaturas sedentas de sangue. A praga se alastra enquanto pessoas buscam uma saída deste cenário de horror. Acompanhe esta história...