08 | A Missão

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Olve sou eu. Fui eu que encontrei os gêmeos de Sukhavati na praça do mercado de peixe de Bergen, naquele sábado de Abril, há muito tempo atrás. E sou eu quem está escrevendo a sua história. Terei de falar também um pouco sobre mim mesmo, já que, desde aquele primeiro encontro, voltei a ver Lik e Lak em muitas outras ocasiões. Tive ainda oportunidade de falar com Hans Petter e Anne Lise. Tinha que descobrir mais coisas acerca dos dois meninos que não tinham umbigo.

Prosseguirei daqui a pouco a minha história, mas antes, tenho de contar o que aconteceu na casa da Rua da Montanha, depois de Lik e Lak terem ido para a cidade.

Lik e Lak tinham acabado de sair de casa, quando a mãe e o pai de Anne Lise e Hans Petter chegaram do supermercado.

— Vimos umas crianças aqui fora... — disse a mãe. Parecia realmente apoquentada com isso.

— Nunca os tinha visto antes... Tinham umas roupas verdes, ridículas, muito estranhas, mesmo...

— Iam a um baile de máscaras — disse Anne Lise. A mãe fixou-a com ar inquisidor.

— Anne Lise, como pode saber disso?

Entretanto, o pai subira ao andar de cima. Ouviram-no entrar no quarto dos filhos.

— Vocês dois, venham cá imediatamente — bradou. Via-se que estava furioso.

Hans Petter, Anne Lise e a mãe, subiram à sala. O pai sentara-se no sofá.

— Não era suposto arrumarem as coisas? — começou por perguntar.

— Vamos já arrumar — respondeu Anne Lise, embora pressentisse que havia algo de

errado.

— E agora hão de explicar-me por que é que há migalhas de pão debaixo das suas camas. Ontem não havia...

Anne Lise percebeu que não adiantava continuar fingindo.

— Eles estiveram aqui... — disse.

— Quem? — perguntou o pai, com ar severo.

— Os meninos das roupinhas verdes. Vieram ontem, enquanto vocês estavam na festa. E depois dormiram debaixo das nossas camas...

— O que é que está dizendo?

— Eles não têm nem mãe nem pai. Vêm de Sukhavati. E não têm umbigo.

A mãe e o pai ficaram de boca aberta. Anne Lise contou tudo o que se passara. Nessa altura, os pais passaram de zangados a preocupados.

— Mas, Anne Lise — disse a mãe — você sabe, não é, que nada disso pode ser real...

Viagem A Um Mundo FantásticoOnde histórias criam vida. Descubra agora