10 | A Questão Do Umbigo

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Os gêmeos introduziram-se na casa. Mantiveram-se uns instantes no corredor: ouviam Hans Petter e Anne Lise a falar com os pais no primeiro andar.

— Mas é tudo verdade — dizia Anne Lise. — Os gêmeos de Sukhavati levaram-nos com eles para uma viagem em volta do mundo.

— Vocês endoideceram! — rugiu o pai, andando para a frente e para trás.

— Eles estão realmente convencidos disso — disse a mãe em tom conciliador, como que querendo desculpá-los.

— Eles sabem falar em todas as línguas. Até falam a língua dos índios; eles falaram com os Incas, no Peru...

Lik e Lak subiram as escadas pé ante pé, detendo-se no último degrau.

— Anne Lise — disse a mãe em tom de imploração. — Não existe nenhum país de Sukhavati. E não existem crianças sem umbigo.

— Lá isso existem! — exclamou Lik decidida, irrompendo subitamente pela sala adentro, seguida de Lak. — Eis-nos aqui.

Os pais de Hans Petter e Anne Lise recuaram uns dois ou três metros. A mãe tapou os olhos com uma mão. O pai, por seu turno, ficou ainda mais danado.

— Lik e Lak! — exclamou Hans Petter.

— Como é que correram as coisas lá na avenida? — quis saber Anne Lise.

Mas os gêmeos não tiveram tempo de responder, pois o pai apressara-se a retomar o controle da situação. No fundo, estava na sua casa.

— Pode se saber quem são vocês? — interrogou com voz autoritária.

— Somos Lik e Lak, do país de Sukhavati — respondeu Lik com uma vênia. Lak fez também uma pequena vênia e estendeu ainda a mão. Mas o pai não a apertou.

— Com que então, são vocês que comem pão e queijo debaixo das nossas camas — disse a mãe.

— E são vocês que andam dizendo bobagens aos nossos filhos! — irrompeu o pai, pregando um murro na parede, como se fosse a parede o alvo da sua zanga.

Lik e Lak não se deixaram impressionar, pelo contrário: sabendo que tinham razão, sentiam-se quase em posição de superioridade.

— Acreditariam no que Hans Petter e Anne Lise contaram, se nós lhes mostrássemos que não temos umbigo? — indagou Lik.

— Tinha que ser! Outra vez a história do umbigo!

O pai abanou a cabeça.

— É claro! — exclamou a mãe. — É claro que acreditaríamos. O problema é que não há crianças sem umbigo.

Viagem A Um Mundo FantásticoOnde histórias criam vida. Descubra agora