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-E foi assim que ganhei mais uma "tatuagem". -Arthur mostrava uma de suas cicatrizes a Julia, ele parecia mesmo ser daquelas crianças que não param quietas.
-Diz isso com orgulho. -riu.
-É, tenho boas histórias pra contar.
A garota sorriu antes de levar até a boca mais uma colherada do sorvete que segurava.
Era um sábado ensolarado, e os dois jovens estavam no pequeno estabelecimento do bairro procurando alguma forma de distração.
Ao menos Arthur conseguiu tirá-la de casa, ela não costumava sair tanto.
-E você tem muitas histórias? -Perguntou enquanto observava Julia ficar nostálgica ao ouvir a pergunta.
-Conheci a Malu faz tempo, ela participou da minha infância inteira. Pouco tempo depois, a Milena também apareceu, mas agora a gente não se fala tanto. Enfim, era muito legal essa época.
-Gosto de agora. -Ele deu de ombros.
-Eu também. -sorriu.
Arthur também gostava de antes... Mas agora não conseguia enxergar o seu depois sem ela.
O celular de Julia fez o rápido barulhinho irritante pela primeira vez desde que chegaram naquela sorveteira.
-Deve ser minha mãe.-Falou enquanto verificava o aparelho.

"Eu preciso muito falar com você, me liga quando puder."

Era uma mensagem de Fernando, que talvez, fosse ignorada como as outras.

-

Distante dali, Fernando afundava não só em pensamentos, mas também na sua própria tristeza.
Agora podia ver com clareza que todos aqueles que diziam ser seus amigos, na primeira dificuldade sumiam.
Estava disposto a transformar toda essa tristeza e rancor em esperança para Isis, mas antes precisava desabafar com alguém.
E apesar de tudo, a pessoa mais indicada para isso era Julia.
Então aguardava ansiosamente por uma resposta, por um sinal de que tudo melhoraria.
Foi tomado pela nostalgia, e lembrou-se  de quando o que existia entre ele e Julia era apenas amizade.
Até ela dizer que estava sentindo algo maior por ele.
Platônica... ela sempre foi.
E todas as suas paixões eram assim também.
Mas de uns tempos pra cá, havia mudado muita coisa, com aquela garota não seria diferente.

-
Três pratos.
Três cadeiras.
Três pessoas.
Uma família nascia naquele exato momento.
Milena, Aline e Celina ocupavam uma mesa no canto do tradicional e famoso restaurante da cidade.
Felizmente, estavam se entendendo.
-E então... vai continuar morando por aqui? -Celina quis saber.
-Pretendo. -Sorriu.-Tenho uma filha pra cuidar.
Ambas se calaram e voltaram toda a atenção a refeição servida pelo garçom.
-E como eu vou ficar daqui pra frente?
-Ah, filha... comigo.
-Tia? E você?
-Espero que venha me visitar, querida.
Vendo que Milena não havia gostado muito da ideia de separação familiar, Aline fez a seguinte proposta.
-Ficaremos todas juntas, concorda Celina?
-Por mim tudo bem.-Sorriu.
E pela primeira vez, Milena presenciou as duas concordando com alguma coisa.
Aquilo parecia algo (a) normal agora.

O Recomeço #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora