01. vida nova

313 25 12
                                    

                               ***

                

—senhorita Clarke, seu carro chegou.

A voz de Dorota me tira do transe e eu foco meus olhos na mala em minha frente outra vez.

— já sei.- disse e fechei a mala.

Estava tudo pronto, as malas, o passaporte, e o empregado que me levaria ate o aeroporto.
Tudo pronto, com a exceção de uma coisa.
Eu não queria mais ir.

A dois anos eu peço incessantemente para o meu pai me deixar passar uns dias no Brasil com a minha mãe. Mas ele sempre arruma uma desculpa e diz que ela não pode ficar comigo, ou que eu não estou merecendo sair.
Enfim ele mudou de ideia, porém agora eu não sabia mais se queria voltar.
Minha mãe praticamente me abandonou em nova York com ele, e em 9 anos, eu quase não a vi.
Nesses mesmos nove anos eu só tive 4 aniversários com ela presente, fora os natais perdidos, e os feriados em que eu dormia tarde esperando ela ligar.
Foram os anos mais ridiculamente decepcionantes que eu tive em relação a ela, enquanto meu pai só tentava me comprar com presentes inúteis.
Sério qual o problema deles?

Tudo oque eu queria era uma família inteira, e ao invés disso ganhei uma empregada polonesa, e uma vida em outro país com um pai que mal ligava pra mim.

Terminei de fazer a mala de mão e entreguei a Dorota.

—quer que eu faça um lanche pra comer no avião? - ela pergunta gentilmente.

—tem comida no avião sabia Dorota.- disse rude, mas me arrependi.

Dorota era minha segunda mãe, e minha melhor amiga quando eu precisava de uma.
Foi ela quem cuidou de mim, e praticamente ela quem me viu crescer.
Já que o meu pai estava sempre ocupado em reuniões, ou viajando a trabalho por meses.
Foi ela quem me ensinou a andar de bicicleta, e a preparar biscoitos também.
Dorota era mais que uma empregada, ela era minha família ali.
E eu estava odiando deixa-la para trás.
Esse era mais um dos motivos pra eu não querer ir.

—me desculpa. Não queria ser rude.

— tudo bem querida. Não se preocupe, eu sei que está estressada por causa da viagem.- ela disse enquanto me ajudava a descer com as malas.

— eu não estou estressada com a viagem.- mas na verdade eu estava.- é com o meu pai que estou irritada.

—ainda sim, não fique. Estresse causa rugas, e rugas deixam a senhorita mais velha. Nós não queremos uma adolescente com cara de velha, não é?- ela disse com seu sorriso confortador.

 Nós não queremos uma adolescente com cara de velha, não é?- ela disse com seu sorriso confortador

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


—ok. - ela sabia mesmo como me acalmar.

Respirei fundo e então abri a porta da frente.
Do lado de fora estava o meu pai, próximo ao carro que me levaria ate o aeroporto.
Ele acenou pra mim, e eu segui em frente ate ele.

A Turma Do BairroOnde histórias criam vida. Descubra agora