Prólogo

698 31 14
                                    


A infância não vai do nascimento até certa idade, e a certa altura a criança está crescida, deixando de lado as coisas de criança.
A infância é o reino onde ninguém morre.

- Edna St. Vincent Millay

"Ate onde uma criança pode lidar com problemas de adulto, sem deixar sua inocência?"

************************

Tudo começou no dia em que ouvi meus pais brigando na minha frente pela primeira vez.
Eles já haviam discutido como todo casal normal, Claro, mas essa foi a primeira vez que eles se deixaram levar pelas ofensas, e não se importaram de me ver parada ali.
Tão pequena e inocente, e mesmo assim madura o suficiente pra entender.

Eu tinha oito anos, só oito.

A briga havia começado cedo, e se prolongou ate o fim da tarde.
Eu não me lembro bem do motivo, mas lembro de ouvi-los gritando um com o outro sem parar, ate que eu não aguentei mais e resolvi me intrometer.

Seria muita petulancia minha em me intrometer em assuntos tão sérios, e que não me diziam respeito.
Mas eles eram meus pais, e eu não aguentava mais vê-los desse jeito.

Fiquei parada ao lado da porta da cozinha, e após uns minutos de silêncio eu ouvi meu pai dizer:

-ela deve ficar comigo então.

E foram essas palavras que fizeram meu mundo vir a baixo.
As mesmas palavras que me tiraram a infância e a inocência.
As palavras que me dariam uma vida completamente diferente.

"Nós vamos nos divorciar".

"Não é sua culpa filha."

"Você vai poder visita-la sempre que quiser"...

Essas e mais outras mil promessas vazias foram feitas, só para que eu não questionasse.
Para que eu não reclamasse em sair dali.
Eu nem podia mesmo.
Eu era só uma criança.
Que estava sendo tirada de casa a força, contra sua vontade.
Sendo tirada da sua mãe.
Sendo levada para longe dos amigos, e do bairro que mais gosto.

Meu pai não estava só se divorciando da minha mãe.
Estava me obrigando a me separar dela também.

E nesse processo, estava me privando de crescer livre ao lado dos meus amigos, no bairro em que nasci e vivi meus primeiros 8 anos.

Mas tudo bem, ele não era mal.
Ele só queria o melhor pra mim, e minha mãe sabia que talvez indo com ele, meu futuro fosse diferente.
Fosse melhor.
Eu sabia que ela me amava também, pois não desistiria de mim tão fácil assim.

Enfim, após a conversa tensa deles, eu decidi intervir.
Mas já era tarde, eles já haviam se decidido.
Eu iria embora com ele.

Doze dias.
Esse era o tempo que eu tinha para ficar com os meus amigos.
Ou melhor, me despedir deles.

Mia.

Mia

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
A Turma Do BairroOnde histórias criam vida. Descubra agora