Olhos Castanhos;

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F l o r e n c e

          Eu sorri. Não deu para evitar. Ele estava vestindo um terno preto com gravata azul petróleo. Os óculos haviam desaparecido e ele era alto.

Era exatamente disso que eu precisava. Seríamos vistos. Ele poderia terminar comigo no fim da noite. Sem olhares complacentes de Jules, sem suspiros de pena de Laney e sem nenhum movimento de cabeça de “tá bom, agora conte a verdade” de Claire. E seria próximo da verdade.

Meu namorado postiço só estava reorganizando um pouco a ordem dos eventos da noite para mim. Não havia mal nenhum nisso. Especialmente se mantivesse longe de mim a doença contagiosa chamada Jules.

— Oi — falei, me aproximando do carro, onde ele continuava parado
mantendo a porta aberta, como se ainda não estivesse inteiramente
comprometido com a idéia. — Você está ótimo.— Olhei para o cabelo dele, que dava para ver melhor agora de perto. Uma bagunça. Uma bagunça que aparentemente ele havia tentado ajeitar. — Senta um pouco. — Apontei para o banco do carro.

Ele ergueu uma sobrancelha, mas fez o que eu pedi. Peguei uma escovinha da bolsa e a usei para ajeitar seu cabelo. Quando o afastei da testa e penteei de um jeito legal, assenti, satisfeita.

— Ficou muito bom.

Ele balançou a cabeça com um suspiro.

— Vamos logo com isso.

Depois ficou de pé e me ofereceu o braço dobrado. Segurei a mão dele,
em vez de aceitar o cotovelo, eu o puxei para o ginásio.

— Ei, espera aí — ele falou, e meu corpo levou um tranco com a parada
brusca, o que não foi nada engraçado em cima daqueles saltos. — Preciso
de um pouco de informação. Você quer convencer as suas amigas de que a gente se conhece, certo?

— Ah, é. Bom, vamos ver...

— O nome já é um bom começo.

Eu ri. Eu estava tão em desespero que não tinha nem falado meu nome.

— Florence Montgomery. Dezessete anos. Formanda aqui no adorável
Freemont High. Faço parte do conselho estudantil e normalmente não preciso implorar por companhia. Tipo, hoje foi a primeira vez.

— Registrado.

— E nas próximas duas horas você será Bradley Harris. Penúltimo ano
na UCLA, motivo pelo qual meus pais não aprovam o namoro, aliás. Eles
acham que você é velho demais para mim.

— Eu sou.

Eu não sabia ao certo se ele estava falando de Bradley ou de si mesmo.
Pensei tê-lo ouvido dizer, no estacionamento, que estava terminando o colégio.

— Quantos anos você tem?

— Se estou no penúltimo ano, devo ter pelo menos uns... sei lá. Vinte e
um?

Ele estava falando do Bradley.

Revirei os olhos.

— Sim. Mas são só quatro anos a mais que eu.

— O que não seria o fim do mundo se você não estivesse no colégio. Menor de idade.

— Só tenho mais cinco semanas de colégio, e você agora está falando
como os meus pais.

Ele deu de ombros.

— Eles parecem ser bons pais.

— Bom, agora não tem mais importância. No fim da noite você vai ter que terminar comigo. De preferência na frente das minhas amigas. Tente não exagerar no espetáculo. Seja rápido e discreto. Depois, como o verdadeiro Bradley, você pode ir embora para sempre, e a história acaba aí.— Um nó se formou na minha garganta quando eu disse isso, quando pensei em Bradley indo embora como se fosse a coisa mais fácil do mundo.

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