A Princesa

Capítulo 7

Sorri ao acordar sentindo a mão de Osten me segurando contra o seu corpo, como se ele estivesse com medo de eu que fugisse apesar de nós estarmos trancados ali. Seria ingenuidade demais da minha parte acreditar que talvez ele estivesse se sentindo assim mesmo? Eu já não saberia responder a essa pergunta. Não depois de tudo o que já acontecera naquele abrigo.

— Uma moeda por seus pensamentos. — Ele disse, assustando-me.

— Oh! Há quanto tempo você está acordado?

— Não sei, apenas abri os olhos e fiquei observando você dormir.

Eu corei profundamente com aquela revelação. — Você não deveria dizer essas coisas pra mim. — Eu o repreendi, ficando triste de repente. — Eu provavelmente não serei a única a ouví-las. Não é como se a Seleção não existisse. Ainda mais considerando o fato de que eu até agora não decidi se vou ficar ou não.

Osten suspirou atrás de mim. — Nós dois precisamos ter certeza de tudo antes que eu faça algo definitivo com a Seleção, e nesse ponto, desculpe-me ter de te falar, mas você está mais atrasada do que eu.

Foi a minha vez de suspirar. — Eu sei, é difícil para mim confiar em alguém, especialmente se essa pessoa for homem.

— Suponho que isso tenha relação com seu pai.

— O nome dele é Landom, não o trate como meu pai, por favor. — Pedi. — Não consigo falar disso ainda. — Declarei derrotada.

— Ei, tudo bem. Se e quando estiver pronta, lembra?

Assenti, mesmo que ele não pudesse ver meu rosto, pois estava atrás de mim, acariciando o meu cabelo para me acalmar.

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O nosso dia passou num piscar de olhos. O príncipe trocou o curativo do meu joelho, brincou, conversou e riu comigo muitas vezes, me fazendo notar como era impressionante o quanto que a sua presença tinha se tornado algo tão normal e tão bom para mim durante aqueles dois dias. Eu estava cada vez mais confortável com ele, e a sua proposta vinha ocupando toda a capacidade do meu raciocínio. No entanto, eu ainda não me sentia capaz de lhe dar uma resposta.

O meu medo de sentir novamente a dor da rejeição era enorme. E se eu ficasse e o príncipe me deixasse de lado? Havia 34 garotas fora daquele abrigo prontas para se jogar aos seus pés na primeira oportunidade, enquanto eu teria que lutar bravamente contra mim mesma apenas para poder pensar numa possibilidade de relacionamento.

Por outro lado, a cena da minha partida agora me deixava desolada de uma forma sem precedentes.

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Já estávamos deitados quando o frio chegou daquela vez. Parecia que queríamos aproveitar o máximo da presença um do outro como se nunca mais fôssemos nos encontrar, fato que realmente poderia acontecer se eu assim decidisse.

Ciente de que a porta do abrigo se abriria a qualquer momento, eu estava me forçando a pensar na proposta do príncipe. No entanto, antes que eu pudesse me concentrar, ouvi a voz dele cantarolando baixinho, deixando-me chocada com o tamanho do seu talento.

— Você canta? — Perguntei, virando-me em seu abraço para encará-lo.

— Oh! Minha mãe sabe cantar e acabei aprendendo um pouco. Desculpe. — Ele disse, parecendo envergonhado. — Acordei você.

— Foi lindo, e eu não estava dormindo. Não consegui pregar os olhos.

— Você ainda não tem uma resposta para mim?

— Eu quero ter, quero muito, mas não sei como encontrá-la.

— Não posso forçar você a ficar, pois me mataria saber que você estaria aqui contra a sua vontade. — Ele se aproximou mais de mim. — Sinto muito, parece que eu não consegui nos dar um chance. — Como assim ele não conseguiu? Sou eu quem esteve criando problemas. — Então eu só preciso de um adeus, e sei que isso ainda é pedir muito, mas eu não consigo me conter. — Uma lágrima solitária desceu por um de seus lindos olhos castanhos antes dele me beijar como se não houvesse amanhã.

E o pensamento de que talvez não houvesse mesmo um amanhã para nós dois juntos simplesmente me causou uma dor dilacerante no peito. Eu só não desmaiei quando a senti porque Osten ainda estava ali, me beijando.

Não posso dizer que todas as minhas inseguranças foram extinguidas, ou até mesmo que os meus medos evaporaram, mas naquele momento, uma certeza súbita veio a minha mente. Eu tinha que permanecer na Seleção.

— Eu vou ficar. — Falei praticamente na mesma hora que separamos nossas bocas.

— Você tem certeza? — Ele perguntou, receoso.

— Como nunca tive em toda a minha vida. — Reafirmei, irredutível.

Um sorriso lento, mas extremamente lindo, se desenhou em seu rosto à medida que Osten processou as minhas palavras.

E como se tivesse percebido a sua deixa, a porta que nós mantinha presos ali se abriu.

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Decidimos sair com a roupa do abrigo mesmo. Eu peguei o meu pijama de duas noites atrás que estava em cima do banco de madeira e dei uma última olhada no lugar. Independentemente do que acontecesse daquele momento em diante, eu percebi que jamais me esqueceria dali.

— Podemos ir? — Osten disse, segurando a camisa, o paletó e os sapatos.

— Sim. — Respondi.

Juntos, saímos do abrigo e atravessámos a biblioteca.

Osten insistiu em me acompanhar até a porta do meu quarto, e quando chegamos lá, eu fiquei subitamente sem jeito.

— Eu vou explicar a Phoebe e a minha irmã tudo o que aconteceu da forma que nós combinamos. Também vou pedir para chamarem suas criadas de volta, pois elas devem ter sido dispensadas quando nós sumimos.

Assenti.

— Você não vai se arrepender de ter permanecido no palácio. — Ele sorriu. — Boa noite, Alice.

— Boa noite, Osten.

Ele plantou um beijo rápido nos meus lábios e desapareceu nas escadas do 3º andar.

Fechando a porta, eu dei uma rápida olhada no meu quarto, percebendo o quanto estava impecavelmente arrumado.

Foi fácil não pensar na preocupação que devo ter causado as minhas criadas ou a Phoebe por ter sumido por dois dias, pois quando eu me deitei na cama, tudo o que eu conseguia fazer era perceber como o calor do meu quarto era estranho, tão diferente daquele com o qual eu me acostumara no abrigo.

O sono não chegou com a mesma facilidade de ontem à noite, e o meu coração sabia muito bem o motivo:

Eu estava deitada numa das camas mais luxuosas e confortáveis do mundo, mas voltaria a dormir no chão todas as noites sem hesitar só para que um certo príncipe de cabelos loiros e olhos castanhos estivesse novamente ao meu lado.

Percebendo que esse era um desejo impossível, fechei os olhos e me virei para o lado, me forçando a adormecer.