Capítulo 21

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Inspire.

Expire.

Inspire.

Expire.

Eu posso fazer isso.

Eu não posso fazer isso.

— Senhorita Alice? — Chamou o produtor. — Nós estamos prontos.

— Tudo bem.

Levantei os olhos do meu discurso e encarei mais uma vez a plateia diante de mim. A rainha Eadlyn e o príncipe-consorte Erik, a primeira-ministra Brice e o seu marido Carl, e o príncipe Osten.

A carta da minha mãe foi apenas uma confirmação do que eu já sabia. Landom era "o presidente".

Culpo o fato de eu ter sido uma criança na época em que acreditei que ele fosse uma boa pessoa. Nunca dei muita atenção ao modo como ele às vezes parecia distante, ou chegava estressado depois das sessões de jogatina. Tudo o que me importava era que ele era meu pai.

E foi por isso que doeu tanto quando ele saiu de casa. Eu não tive saudades do "Landom real". Eu tive saudades da figura de pai perfeito que inocentemente criei com as migalhas de afeto que ele me deu.

— Você está bem? — Perguntou Osten, subindo no palco.

— Estou.

— Eu vou repetir isso pela milionésima vez: Por favor, desista dessa loucura.

Eu olhei bem fundo em seus olhos preocupados e depois sorri fraco, passando a mão em seu rosto levemente.

— Esse vai ser um pedido seu que eu vou ter que negar.

Osten gemeu e suspirou, resignado.

A primeira-ministra Brice pigarreou.

— Certo... — Disse ela. — Podemos gravar?

Eu não fiquei surpresa quando a rainha Eadlyn me falou que a primeira-ministra autorizara o meu discurso. Mesmo ainda não gostando de provocar o inimigo e odiando a minha inevitável exposição, a mulher admitiu que aquele seria um golpe de mestre.

— Eu preciso de você, Osten. Eu preciso que esteja comigo.

Os olhos do príncipe eram de uma intensidade arrebatadora.

— E eu estarei.

— Alteza, — Falou o diretor. — não podemos mais adiar a gravação.

Osten se virou irritado. — Eu já vou descer.

Voltando-se para mim novamente, ele deu o mais leve dos beijos nos meus lábios e sussurrou contra a minha boca.

— Eu sempre estarei com você.

E com isso ele desceu, me deixando na frente do pódio. Olhei para as câmeras e suspirei.

— Eu estou pronta.

Quando eu me imaginei contando para alguém a história que estava prestes a contar, eu sempre pensei em um cenário à dois muito privado, onde eu poderia chorar à vontade.

Jamais passou pela minha cabeça a realidade à minha frente. Inúmeras câmeras pretas e altas que transmitiriam tudo o que eu falasse para que milhões de pessoas em suas casas escutassem.

— No ar em 3, 2, 1...

Chega de pensar nisso. Não tem mais como voltar atrás.

— Boa tarde, Illéa. Sei que vocês não estão acostumados a uma transmissão oficial a essa hora do dia, ainda mais sem as presenças ilustres da rainha ou da primeira-ministra, mas, por favor, peço encarecidamente que me deem alguns minutos da sua atenção.

A PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora