Capítulo 16

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Querida mamãe,

Sei que essa carta está muito mais que atrasada, mas o fato é que tudo por aqui tem acontecido muito rápido mas não do jeito que eu imaginara. Te ajudaria a me perdoar se eu dissesse que o príncipe tem um papel central nisso? Espero que sim, pois ele tem.

Por favor, peço que não comece a pular de alegria com a frase anterior. Deixe para decidir se vai fazer isso ou não quando acabar de ler a carta inteira.

É estranho conversar com você por um pedaço de papel. Ainda mais quando provavelmente vai ser a primeira vez que vou lhe falar sobre um garoto.

Um pequeno adendo de antemão: Se a senhora mostrar essa carta a alguém que não seja a minha tia ou uma das duas comentarem com um terceiro a respeito do que está escrito aqui, eu pessoalmente vou pedir ao príncipe para mandar prendê-las. E a pessoa a quem vocês contaram também. Aterrorizante, não?

Pare já de lamentar por não poder contar nada a Sra. Lopez. Acredite em mim, isso seria terrível, pois eu iria conseguir ouvir a Brooklyn rindo de mim daqui. Tá, eu sei que ela ficaria feliz por mim, mas é óbvio que ela também não deixaria de dizer um grande "Eu estava certa".

Ok, você também vai fazer isso, eu sei, mas enfim, a senhora é minha mãe. Tudo bem, tudo bem, eu vou parar de enrolar.

Não quer mesmo saber sobre como os muros do palácio brilham na aurora da manhã? Certo, já entendi, não quer.

Se eu estivesse aí agora eu teria suspirado.

Bem, vamos lá.

Primeiramente, gostaria de parabenizá-la pelo seu dom de vidência. Pode revirar os olhos se quiser, mas eu falo sério, a senhora tem que me ensinar isso algum dia. Não só previu que eu seria selecionada como também previu que haveria algo entre mim o príncipe. E há mesmo. Ou pelo menos eu acho que há.

De qualquer forma, no momento parece ser mais da minha parte do que da dele.

Se prepare, porque isso vai ser mais complicado de entender do que todos os problemas de matemática que você já me viu resolver na vida, juntos. Eu mesma ainda não sei nem por onde começar a compreender. Mas talvez o amor deva ser assim mesmo, algo que você não precise entender, só sentir. Não volte para reler a frase anterior, porque a resposta para a sua pergunta é sim, eu escrevi amor mesmo. A palavra misteriosa de quatro letras e duas sílabas. Deixa eu repetir em maiúsculas para a senhora poder acreditar: AMOR.

Eu estou apaixonada pelo Osten.

Não desmaie agora mãe, e por favor, releia a frase acima.

Suas sobrancelhas devem estar arqueadas, pois imagino que a senhora deva ter percebido que tratei o príncipe pelo primeiro nome dele. Se não tinha feito isso ainda, o faça.

O fato é que chamá-lo assim está começando a me parecer tão natural quanto fechar os olhos para dormir. E por falar em dormir, eu já passei três noites com Osten.

Eu sei que mesmo no fundo sabendo que nada demais aconteceu, a senhora agora deve estar imaginando coisas. Então, permita-me que eu a acalme de vez: Não há probabilidade alguma de ter um netinho seu à vista. Nós dormimos juntos e foi só isso o que houve. Ainda bem que a senhora não pode ver o quanto eu corei ao escrever isso, porque certamente devo estar ridícula.

Voltando ao assunto, as duas primeiras vezes em que dormi com Osten se passaram num dos abrigos contra ataques do palácio. Nós ficamos presos lá por dois dias, e isso aconteceu logo na primeira noite em que cheguei aqui. Desastrada como sou (às vezes), acabei caindo e machucando o joelho depois que sai do quarto para pegar água. O príncipe me encontrou e me levou para o abrigo a fim de buscar o kit de primeiros socorros, mas a porta se fechou e ele não tinha a chave. Não posso contar como saímos de lá em razão das medidas de segurança do palácio. Mas posso te dizer que foi por causa daquele tempo que passei com Osten que eu ainda estou aqui.

Demore o quanto precisar para absorver essa primeira leva de informações.

Pronto, agora eu posso continuar.

A terceira vez em que dormimos juntos foi quando ele me pediu há dois dias atrás. Sinceramente, mãe! Já pedi para a senhora não comemorar nada antes de acabar a leitura. Bem, como eu estava dizendo, ele me pediu e eu não hesitei em aceitar. É sempre assim quando estamos juntos, parece que ambos queremos prolongar o momento ao máximo. Mas isso não significa que eu já posso confiar nele. O que por sua vez não significa também que eu já não o tenha beijado. Quatro vezes para falar a verdade.

Agora eu estou realmente preocupada com você, mãe. Se a senhora não estiver lendo isso sentada, provavelmente acabou de cair no chão.

Mas eu ainda não terminei, então trate de não desmaiar de verdade.

Ontem nós dois visitamos o Centro Schreave. Você já deve ter tido conhecimento disso pela televisão, mas enfim. Lá eu acabei escutando uma conversa entre Osten e Antonella, a dona do Centro, uma pessoa maravilhosa por sinal. Vocês duas se dariam muito bem. O príncipe falou para ela que está confuso e receoso em relação a mim, pois já teve muitos relacionamentos e todos eles acabaram porque, deixe-me me ver qual palavra ele usou..., porque "desbotaram". Isso, foi isso aí que ele disse.

Antonella lhe rebateu dizendo que na verdade ele estava era com medo. Medo de me machucar se tentasse algo comigo, e isso significava que ele me amava, pois estava pensando primeiramente em mim e não nele. Já lhe disse que achei essa mulher maravilhosa?

Bom, o fato é que as atitudes do príncipe para comigo quando estamos juntos não condizem com o estado de confusão em que ele diz se encontrar. Por exemplo, ontem Osten praticamente expulsou as minhas criadas do meu quarto na ala hospitalar e passou a noite inteira na poltrona ao lado da minha cama. Pois é, difícil de entender, não é mesmo?

Falando em ala hospitalar, não precisa se preocupar comigo. Foram só uns cortes na pele e eu já estou quase curada. Foco no assunto central, mãe.

Acabei resolvendo não dizer a ele o quanto doeu ouvir àquela conversa. E de bônus, ainda fui idiota o suficiente para afirmar que ele está numa Seleção, e não posso cobrar nada dele agora. Traduzindo, mãe, ele vai tentar um pouco mais com as outras garotas para poder ver o que realmente quer. Sabe como eu me sinto ao pensar nisso? Espero que sim, pois eu nem vou tentar te contar, já que a sensação é horrível demais até para ser descrita.

Pena que a senhora não possa ouvir o meu suspiro daí.

E é assim que nós dois estamos. Eu, apaixonada e com medo, o qual por mais surpreendente que seja, é maior no sentido do que pode acontecer entre Osten e outra selecionada do que no sentido de confiar propriamente nele. E ele, confuso e extremamente amoroso comigo.

E para coroar o nó dessa situação, quando estamos juntos, parece que nada mais importa.

No fim, concordo com uma das coisas que ele falou para Antonella. Estando a sós, nós agimos como se já estivéssemos casados.

Eu sei que a senhora vai reler essa carta pelo menos mais umas cinco vezes e já deve estar pensando em fazer isso agora mesmo, então eu só queria te dizer mais uma coisa:

Eu estou perdida mãe, em todos os sentidos que a senhora puder imaginar.

Desculpe por demorar a escrever. Espero que essa carta de 3 páginas repare esse meu erro.

Amo todos vocês. Com carinho,

Alice

PS: Eu contei que me tornei tutora e professora de balé da princesa Kerttu?

PS 2: Se a senhora e/ou meus tios ouviram aquela gravação que passou na televisão, por favor, me confirmem que aquela voz não é de quem eu estou pensando.

A PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora