Prólogo

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Desanimei ao abrir a porta do quarto de meu pai e ver que não tinha resquícios de objetos pertencentes a minha mãe. Eu precisava sentir o seu cheiro, ler cada frase escrita em seu diário, escutar sua voz através dos discos... Precisava dela e só assim me sentiria melhor. Mas não havia nada. Nada. Apenas o vento entrando pela janela do quarto e os cômodos intactos.

Já faz oito anos.

Oito anos.

Ora, mamãe. Porque me deixastes?

Saí daquele cômodo quase vazio, fechei a porta e desci as escadas, rumando à sala.

Ludmila, minha irmã mais velha, lia mais uma edição daquelas revistas de fofoca enquanto meu pai, Germán Castillo, estava concentrado em seu jornal diário. Não perceberam a minha presença, mas nem me preocupei com isso. Já estava acostumada. Os dois nunca se importaram com o falecimento de minha mãe. Ainda assim, era um dia tenso em casa.

A governanta da propriedade trouxe o meu café da manhã. Sorri em forma de agradecimento.

- Não era necessário trazer até aqui, Olga! - exprimi.

- O que eu não faço para ver minha menininha forte e saudável?

Vi Ludmila me olhar de relance.

Olga é uma das poucas pessoas que dava conta de minha presença naquela casa e talvez a única razão do meu bem-estar. Ela era uma grande amiga da minha mãe e isso faz com que a sua companhia me agrade. Sempre me mimava me agradava, quando era preciso me dava broncas... Era minha segunda mãe.

Tomei o delicioso café da manhã que Olga preparara especialmente para mim e logo já estava caminhando pelas ruas de Buenos Aires. Fui a uma floricultura e comprei algumas gardênias. Logo já estava entrando no cemitério. Andei até o túmulo de minha mãe. Ainda não havia flor alguma na lápide. Quanto minha mãe era querida? Muito, mas ainda está cedo. Coloquei o buquê de gardênias próximo à foto dela.

As folhas da Gardênia apresentam um tom escuro de verde e brilhante e suas flores brancas exalam um perfume tranquilizante e especial. Minha mãe amava gardênia. Ela significa pureza, sinceridade, doçura e agradecimento.

Toquei a sua foto. Morrera tão jovem.

- Porque mamãe? - uma lágrima pesada rolou sobre meu rosto.

"Sorria mesmo nas dificuldades...". Sua voz soou em minha mente.

Não dá.

Era para estarmos em casa, todos juntos e unidos iniciando mais um dia como todos os outros. Até então seriam dias felizes. Mas a realidade é outra. Minha mãe não estava mais ao meu lado, meu pai parece que se esqueceu de mim e a minha irmã me ignora.

Mais lágrimas vieram.

"Você é forte, Vilu. Vai superar tudo o que te atormentar."

Não sou.

Eu fiquei trancada no meu quarto por tempos, chorando, com a esperança de que fosse consolada com seu carinho materno. Só sairia de lá quando a minha mãe aparecesse. Mas não apareceu.

"Um dia, você vai amar e poder ser amada. Será tão feliz quanto jamais foi!".

Amar? Diz-me pelo menos o que é o amor, mamãe.

Não consegui aprender.

O amor que havia naquela casa também faleceu.

Quem haveria de amar alguém que não sabe o que é o amor?

Porque não estás aqui, mãe?

Passei horas chorando sobre aquela pedra. Logo as pessoas começaram a chegar. Reconheci algumas por serem amigos próximos, outras deveriam ser admiradoras do seu talento.

Com muita dificuldade, saí de lá. Algumas lágrimas escorregaram sobre meu rosto e nem fiz questão de enxugá-las. Eram de saudades. Quanto mais sentia falta da minha mãe, mais necessitava de sua presença.

Assim que passei pelo portão do cemitério, decidi relaxar um pouco. Não era nada fácil continuar, mas eu tinha que ser forte.

Enfrentaria o que fosse. Não abaixaria a cabeça. Poderia amar. Seria feliz.

Comprei um suco de maracujá - o meu calmante - e caminhei em direção a minha casa. Minhas lágrimas já foram enxutas e, eu acho que, não havia resquícios de choro.

Só de pensar em como tudo será quando eu chegar, me dava vontade de voltar para o cemitério correndo. Será tudo igual. Ludmila e papai num canto, eu noutro. Se não será, porque mudar agora? Não há motivo algum.

Respirei fundo e parei de caminhar. O ar de Buenos Aires parecia tão puro, mas o céu estava nublado e o Sol ainda não apareceu. Gosto de pensar que ele brinca de pique-esconde nas nuvens.

Ri fraco e voltei a andar.

Pois bem, eu tinha voltado até que veio uma força externa e me parou.

Derramei meu suco na camisa de um garoto. O meu suco de maracujá.

- Mil desculpas, eu não te vi! - justifiquei-me enquanto limpava a mancha amarela em sua camisa branca.

- Não precisa, também foi minha culpa.

Ignorei e continuei a tentar limpar a camisa. Céus, a mancha estava piorando! O que fazer?

- Como não? - olhei para ele, sem entender - Eu derramei suco na sua camisa!

- Se eu estou dizendo que não precisa...

Tentei mais uma vez, mas não tinha mais jeito. A mancha já estava espalhada pela camisa e o tecido já tinha absorvido o suco.

- Se diz... - ia me retirar, mas fui impedida por uma voz:

- Espera!

Olhei para ele.

- Qual o seu nome? - perguntou interessado.

- Violetta.

- Sou León, cheguei há dias do México.

Como se eu estivesse interessada na biografia dele. Fitei bem os seus olhos. Eram verde cor de esmeralda. Bastante lindos.

- Ah, moro em Buenos Aires desde que nasci, mas já fui para o México.

Ele sorriu como se aquilo fosse confortável para ele. Bem, uma pessoa que chega para morar em outra cidade merece se sentir a vontade.

- Mora aqui neste bairro?

Olhei ao meu redor e por impulso falei:

- Nesta rua.

- Ah - falou sem reação. Talvez não tivesse mais nada para falar. - Foi um prazer te conhecer Violetta. Acertei?

Hey, meu nome não é tão difícil.

- O prazer foi meu... León.

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