Capítulo 9

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Passaram-se quatros dias desde que tudo aconteceu. Eu e o meu pai estávamos mais próximos e acertamos alguns detalhes da festa juntos. Estava na minha glória. Tê-lo de volta era ter uma parte de minha mãe também e eu espero transmitir essa mesma sensação a ele. Ludmila ainda me tratava como sempre, aliás porque ela mudaria? Só uma coisa parecia não estar certa. Nesses dias, eu e León não nos falamos.
Eu estava indo guardar o material da aula anterior no armário quando León está vindo em minha direção. Finjo que não o vejo, fecho o armário e entro na sala de dança. Sim, nós não nos falamos porque eu o evitava. Preferia deixar as coisas como sempre foram: eu e León afastados pela Ludmila sem trocar um palavra.

– Violetta! – ele me chamou, entrando na sala. Mais uma vez fingi que não escutei – Dá pra parar de me evitar e tenta me escutar pelo menos uma vez?

– Não fui clara quando falei que as coisas deveriam voltar a ser como antes?

– Ela não sabe o que aconteceu e nem precisa saber.

– E se eu contar? – ameacei.

Ele riu irônico antes de falar:
– Você não faria isso – segurou minha mão.

– Como tem tanta certeza disso?

– Não importa, hoje é o dia da apresentação e...

– Vamos logo ensaiar, Leãozinho!

+++

Eu e León fomos os últimos a se apresentar. Cantamos com uma conexão incrível e no final, dei-lhe um forte abraço. Até esqueci que Ludmila estava presente, ri fraco ao ver os seus olhos fuzilarem. Nós saímos para tomar sorvete e como já era lei, o silêncio dominava.

– Já encontrou o presente da Ludmila? – perguntei de repente.

– A verdade é que não, está sendo mais difícil do que imaginava – suspirou decepcionado.

– Quer ajuda? Digo, eu posso te ajudar!

– Você sabe o que ela quer não é?

– Digamos que sim...

– Você é uma ótima pessoa – comentou.

Ele também é. Me surpreendeu muito que não seja igual a Ludmila, talvez eu já soubesse disso mas o Formigueiro — como ela chama o pessoal que a partir do seu ponto de vista é menor que o seu grupinho — encheu a minha cabeça com essas coisas e eu só me confundi mais. Acham que León é capaz de pisar em qualquer um, mas eu sei que é o contrário. Não falo isso pelos dois dias que conversamos e pelos quatro que nos evitamos, e sim pelo seu olhar ser o mesmo de alguns anos. Pelo seu olhar ser algo que só eu conheço.

– Você me faz bem – falei.

– Você é diferente da sua irmã, muito diferente. Achei que fossem iguais, mas me enganei feio. Por exemplo, a Ludmila seria capaz de amar?

Estranhei que ele me fizesse esse pergunta porque a resposta era muito óbvia ou ele queria responde aos seus sentimentos.

– Você a ama? – perguntei. As palavras simplesmente escaparam.

– Porque a pergunta? – ele me olhou curioso.

– Só queria saber...

– É uma pergunta difícil. Não sei, mesmo com todo o tempo que estamos juntos. Não sei se a amo como antes – se é que ele a amou – independente disso não consigo me ver longe dela.

– Seria difícil superar... – sussurrei.

– Já teve um namorado? – ele perguntou sorrindo.

– Nunca, mas já gostei de alguém.

Me sentia estranha falando isso a ele, eu não estava admitindo quem era, mas de qualquer forma eu estava nervosa. Ele poderia perguntar mais e mais, e o que eu responderia? Sim, eu já gostei dele, mas é passado não é? Então não faria diferença alguma se eu contasse ou não...

– Por que não puderam estar juntos? Ele não sentia nada por você?

– Nunca pude dizer a ele o que eu sentia – pus minha mão direita em cima da mesa.

– Então não aconteceu nada? – ele colocou a sua mão em cima da minha.

– Ele tem namorada agora – sorri fraco.

– É preciso enfrentar o medo e a vergonha para não perder quem ama – proferiu.

– Mas eu já perdi e exatamente por isso!

– Nunca é tarde e um dia você vai ter que dizer, não?

– Mais fácil uma galinha ter dentes e uma cobra ter braços do que esse dia chegar! – Revirei os olhos.

– Ah, mas você bem que merecia um namorado...

– Não quero um namorado tão cedo – baixei a cabeça e mordi o lábio inferior – por medo de sofrer, de acabar me magoando...

– É um medo comum, logo passa. Ou você tem namorofobia? – gracejou.

Não tive como deixar de rir dessa. Meu medo de namorar era grande, mas nem tanto assim, não a ponto de sentir pavor.

– Não sou namorofóbica!

– Então como seria o namorado perfeito? – indagou.

– Não León! E esse questionário? – reclamei – Me recuso a responder!

– Será a última! – garantiu.

– Não quero um namorado perfeito, só quero um cara que me ame pelo que sou, que seja fiel, que tenha apenas uma palavra e, principalmente, que respeite o meu espaço – revelei.

Ele bateu palmas e eu não entendi o motivo, só depois me dei conta do que tinha falado. Disse o que eu sentia, não o que veio na cabeça. Evitei olhar para ele e na porta da sorveteria estava a figura loira de Ludmila. Não me surpreendi quando ela deu passos em nossa direção.

– O que vocês dois estão fazendo aqui, juntos?

"O que duas pessoas normais fazem numa sorveteria..." respondi mentalmente.

– O que você faz aqui? – rebateu León.

– Credo Laión, você está tão... – ela botou a mão no peito, fingindo indignação.

– E você está tão insuportável esses dias!

– Lembra daquela ruivinha hippie? Deveria andar mais com ela para entender o quanto é importante amar, ser honesto e respeitar. Assim, nós colaboramos com a paz mundial.

Ainda bem que ela sabia disso, mas era uma pena que não contribua isso, sequer dá importância.

A paz vem de dentro de nós, não devemos esperar que os outros a tragam consigo. Talvez ela seja apenas o silêncio.

Ludmila não tinha paz e não dá. Vive a prejudicar pessos quando se sente ameaçada por elas, provoca brigas em relacionamentos por diversão... Ela deveria se perdoar, quem sabe esse não seja o motivo de tantos desentendimentos no Studio?

– Parece que você estava com ela – León sussurrou e, como estava mais perto dele, consegui escutar perfeitamente.

– Ela tem um nome que é Camila! – falei pela primeira vez.

– É só mais uma qualquer no Formigueiro e eu como rainha não tenho a obrigação de lembrar o seu nome só porque é amiga da pessoa que o sangue diz que é irmã.

Senti a minha coluna se curvar. Abracei-me como forma de consolo. Ainda com todos os problemas que nos separam, ela é a minha irmã, no entanto não aceita.

– Vamos León, você não pode passar muito tempo com um súdito! – ela chamou.

– Não vou com você! – ele negou.

Meu queixo caiu. Foi isso mesmo que eu escutei? Esperava que León fosse se levantar e ir com ela, não me importaria em ficar só.

– Você está me negando, Leóncio Vargas?

– Sim – deu de ombros – e meu nome não é Leóncio!

– Se é assim, Ludmila vai sozinha – estalou os dedos e saiu.

Eu ainda estava digerindo o que acabou de aconteceu. A ficha não caiu até agora. León é a primeira pessoa na face da Terra a dizer não a Ludmila. Depois de um tempo, percebi que ele chamava a minha atenção e ri fraco.

– Quer outro sorvete? – ele perguntou.

Assenti, ele levantou e foi buscar. Voltou com dois. Sorri e peguei o meu. Ele sentou-se ao meu lado e me abraçou.

– Não dê ouvidos ao que ela fala... – disse, beijou minha cabeça e acariciou meu braço.

Não teria outro lugar em que eu gostaria de estar agora. Os braços de León me envolviam e eu me sentia protegida. Não nos soltamos um minuto, nem para tomar o sorvete.

– Vamos comprar o presente daquela chata? – propus.

+++

– Desisto! – suspirei cansada de tanto olhar os sapatos.

– Você não vai desistir! Não é possível que aqui não tenha o presente ideal para ela – persistiu. Já passamos em cinco lojas antes de entrar nessa.

– Vou olhar as bolsas, então! – falei enquanto ia procurar o presente naquela seção.

Na vitrine estava a Pallas Chain da Louis Vuitton, a bolsa que Ludmila queria. Ela possui um couro flexível que combina com um efeito elegante e uma corrente dourada que permite que ela seja carregada no ombro da forma em que a pessoa preferir – mais curta, mais longa e até na transversal.

Gritei pelo nome de León que logo apareceu assustado e preocupado, me perguntando se estava tudo bem.

– Achei o presente perfeito para ela!

Mostrei a bolsa para ele, depois ele a comprou. Fomos para casa juntos porque ele insistiu em me acompanhar. Foi um dia maravilhoso e gostaria que viessem mais dele!
Entrei em casa e vi Ludmila sentada no sofá lendo mais uma revista de fofocas. Ignorei e fui até a escada.

– Violetta! – ela me chamou em um tom não muito agradável.

– O que você quer? – me virei para ela.

– Estava até agora com o León?

– Sim, por quê?

– Isso acaba hoje!

– O que está querendo dizer?

– Você está me afastando do León. Ele prefere passar o tempo com você, te leva a sorveteria e para fazer compras... É humilhação ser traída pela irmã! Você vai cantar glória quando o León terminar comigo. Não é isso o que você quer? Não é o que sempre quis?

– Eu e o León não estamos te traindo e eu nunca quis que vocês terminassem!

– Ah não? Veremos então! Se aproxime dele e no dia seguinte ele saberá o seu segredinho – ameaçou, sorrindo com malícia.

Não pude revidar, eu estava perdida.

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Hey leitores!
Eu falei que continuaria mais rápido dessa vez e continuei! Vocês não imaginam o tamanho do meu sorriso ao receber notificações suas, hehe. Me digam o que acham que preciso melhorar... Gostaria de saber.
Viram a nova capa?
Segredo, Vilu? Eita, quero saber! Dêem palpites sobre esse segredo.
Capítulo um pouquinho longo para compensar alguns dias que não publiquei.

Deixem seu voto e o seu comentário, me incentivem a continuar mais rápido!

Beijo!

Laryssa

Um Amor Quase ImpossívelOnde histórias criam vida. Descubra agora