Entrando em um acordo

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O quê? Como assim? Não conseguia acreditar. Mas ele me salvou! Como ele é lobisomem se ele me salvou em uma noite de lua cheia?

Parece que ele leu a minha mente, pois logo disse:

- Não Liza, eu tenho os meus segredos...

- O que...

- Eu sei o que você está pensando: "Mas o Carl me salvou, como ele é aquele criatura horrenda que sequestrou as pessoas que tanto amamos?" - falou ele, num tom zombador, como se tentasse imitar a minha voz, o que não deu certo.

- Ora, seu...

- Liza, você é uma garota...

- Não me diga o que eu já sei! - gritei, ironizando minha fala.

- Acalme-se! Eu nem terminei de falar - disse ele, calmamente.

Soltei um suspiro de frustração.

- Você é uma garota, uma garota muito burra! - disse ele, ofensivamente.

- Como é que é? - perguntei, chocada.

- Isso mesmo! - afirmou ele.

Que...

Como ele pode me tratar dessa maneira? Quem é ele para dizer uma coisa assim? Ah, é mesmo, o lobisomem!

- Você tem sorte de meus braços e minhas pernas estarem amarrados nesta cadeira! - falei, com os dentes semi-cerrados.

Ele chegou perto de mim.

- E o que você iria fazer se estivesse livre? - perguntou ele, com o rosto bem perto do meu.

- Algo ruim! - respondi.

- Como o quê?

- Não te interessa, lobinho mau.

Ele se afastou, rindo.

- Eu não imaginava que você era tão engraçada - falou ele.

- O que você quer comigo? Por que você faz isso com as pessoas? O que elas fizeram para você? O que...

- Opa! Uma pergunta de cada vez - diz, pondo as mãos ao alto. - Eu sou apenas UM lobo!

Carl deu um sorriso e fez um silêncio, misterioso. Ele ficou andando de um lado para o outro, como se estivesse ansioso.

- Por que você sequestra as pessoas? - repeti, mais calma.

Carl olhou para mim e sorriu.
- Não sei se você se lembra, mas quando eu era pequeno, minha mãe era considerada bruxa - começou.

Sim, eu me lembro. Todos diziam que sua mãe era bruxa, por esse motivo ninguém andava com ele. Acreditavam que algo muito ruim aconteceria com eles se andassem com o garoto.

- As pessoas tiravam sarro de mim e de minha mãe. Éramos ignorados pela sociedade, só porque minha mãe fazia rituais católicos e eles pensavam que eram rituais satânicos! - continuou.

- Sim, eu me lembro disso! - disse, com o olhar baixo e triste ao pensar no sofrimento que ele e sua família devem ter passado.

- Lembra? Que bom! E você lembra quantas pessoas falavam coisas ruins da minha família? - perguntou ele, bem nervoso.

- Não tenho certeza, muitas pessoas...

- Pois é. Muitas pessoas, quase todo o vilarejo! - gritou Carl, me cortando. - Você acha que foi fácil para mim viver assim? Com as pessoas criticando, falando coisas ruins de mim e de minha mãe pelas nossas costas e na nossa cara? Não foi, minha vida se tornou um inferno!

Sequestro À Meia-NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora