Prólogo (O Fim justifica os meios)

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Passavam das 08:00 h quando eu aguardava ser chamada para uma consulta, na sala de espera da Clínica Reabilit. Calma, eu não estou louca! Ou, pelo menos, acredito que ainda não esteja!

Depois de um período conturbado na minha vida, quando eu achei que tudo estava resolvido, comecei a sentir coisas estranhas, como palpitações, pesadelos e vontade de desistir de tudo. Talvez isso se deva pela frustração de não ter realizado meu grande sonho: estar com a pessoa que eu amo.

Eu sei que a vida tem dessas coisas e que nem tudo é conforme eu gostaria que fosse. Mas bem que o destino poderia ser camarada comigo e trazer para mim o remédio para a cura dos meus dias tristes...

Demorou algum tempo até eu perceber que precisava de ajuda profissional. E admitir isso era apenas o primeiro passo. O segundo passo seria a escolha do profissional ao qual eu me sentiria a vontade para contar meus problemas. Lembrei-me da Dra. Alice Ramos, que conheci na faculdade quando estudava o módulo isolado de Psicologia Organizacional. Eu estudava Administração, ela Psicologia Clínica. Ficamos amigas e após a formatura cada uma seguiu sua vida e não nos vimos mais. Procurei o seu contato nas redes sociais e consegui achar seu endereço de trabalho. Marquei uma consulta e agora estou aqui, aguardando ser chamada.

- Maria Helena Dutra! - Ouço meu nome ser chamado pelo alto-falante. Levanto-me e vou até a recepção.

- Consultório da Dra. Alice, sala 05. - A recepcionista me informa.

- Obrigada! - Digo.

Sigo pelo corredor à procura do número 05. Assim que avisto o número, bato duas vezes na porta até que me autorizem a entrar.

- Entre! - Ouço a voz de Alice.

- Bom dia, Alice! - Digo com um sorriso no rosto.

- Helena! Que bons ventos a trazem? Que saudades! - Ela me abraça. - Você linda!

- Também senti saudades! Te encontrei pelas redes sociais...

- Sente-se. Em que posso te ajudar?

- Na verdade preciso de sua ajuda profissional. Mergulhei em um profundo abismo e não estou conseguindo sair.

- Poderia ter me ligado que eu iria a sua casa. Falaríamos sobre isso sem precisar você vir aqui.

- Não Alice, não quero ter prioridades por ser sua amiga. Vim aqui como paciente e quero ter tratada do mesmo jeito que você trata a todos!

- Tudo bem, então. Pelo que vejo a história é longa...

- Sim é. Me apaixonei por um homem que vive a km de mim, em Portugal para ser mais exata.

- E a distância é o fator gerador do problema?

- Não, não é. Mas aconteceram tantas coisas ao logo de quase dois anos, que nem sei como ainda nos falamos. Eu já era para ter superado isso... No entanto, não consigo. Existe uma força invisível que me mantém presa a ele. E isso tornou-se recíproco. Ele também não tenciona me deixar.

- Bom, certamente teremos que fazer uma regressão para percebermos quando foi que o controle da situação se perdeu... Vamos tentar a psicanálise com o uso do divã. Caso não tenhamos evolução, recorreremos a outras alternativas. Venha comigo.

Ela me direciona para outra sala bem menor, porém mais aconchegante. Ela apaga a luz e coloca uma música clássica em um volume baixo, que julgo ser fundamental para um momento de relaxamento e reflexão.

- Acomode-se e me aguarde... Eu já volto. - Ela me diz e sai da sala.

Respiro fundo e olho para o teto. Percebo que sem a iluminação na sala, pontos florescentes com formato de estrelas colados no teto, imitam o céu durante a noite. Procuro então olhar para aquela constelação, relaxar e não ficar nervosa. Tenho a convicção de que farei isso muitas vezes!

Alice retorna com uma prancheta e uma caneta nas mãos. Coloca seu jaleco branco para que tudo fique formal, conforme eu havia pedido. Ela senta ao meu lado, porém não a vejo, a impressão é de que o sofá único foi posto estrategicamente um pouco atrás para o paciente não ver seu psicanalista. Isso me traz um certo conforto... Alguns segundos depois e ela me autoriza a iniciar.

- Está pronta? Podemos começar? - Alice me encoraja.

- Sim, podemos. - Digo convicta.

- Vamos começar do início. A sua aflição tem um nome. Eu quero que me diga tudo a respeito disso, inclusive, antes disso, sem esquecer uma vírgula sequer.

- Certo. Pois bem... Antes dessa história começar eu quero falar um pouco de como eu vivia antes dessa loucura toda...

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Adoro-te! (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora