CAPÍTULO 8 (A certeza)

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***

Acordo assustada com o barulho do despertador. Mais um dia se inicia e eu levanto da cama com toda a disposição possível. Claro que eu penso no meu Rafael, não com a mesma intensidade de antes, mas de uma maneira mais tranquila, em paz. Com esse pensamento sigo para o banho e em seguida me arrumo para dar início a minha rotina. Já no consultório de Alice...

- Então vocês não têm se falado muito? - Ela quis saber.

- Ele costuma fazer isso comigo, por vezes some... Depois volta, quando a saudade aperta. Talvez esteja como eu, tentando esquecer tudo.

- Isso são apenas suposições. Nunca saberemos, não é mesmo?

- Certamente! Bom, continuando de onde paramos...

[...]

"E então continuei a questionar o Rafael com as minhas dúvidas. Ele era muito reservado, então eu aproveitava o momento que ele se sentia a vontade comigo.

- E você não mencionou porque viria ao Brasil. Seria a trabalho?

- Ah, o Brasil... Conhecer sim, mas agora a minha prioridade é outra. Primeiro, sou da opinião que devemos conhecer o nosso país muito bem. Acho que as pessoas viajam para conhecer outros países sem antes conhecer o que de bom tem o deles

- Sei. Só acho que agora tens um bom motivo para isso...

-Tenho sim, tenho um FANTÁSTICO motivo! Tenho essa ideia ainda como é lógico e agora uma razão forte, vá, diz-me, o que achaste da minha vida, muito linear, não é?

- Perfeita! - Eu disse.

- Ainda havia muito para contar, obviamente, mas deu para se ter uma ideia

- És um grande homem! Sua natureza me encantou e me faz ver que não estou errada em sentir o que sinto. Você é especial!

- Entendes agora que não te vou mentir? Que não vou ser hipócrita contigo? Que não te vou dizer palavras bonitas apenas para te agradar? Entendes agora porque não me aproveitei de ti ontem? Porque me quero manter como um homem de caráter? Entendes que o facto de não te dizer que te amo não quer dizer que não o sinta? Entendes isso? Entendes agora que não deves ficar triste pela minha condição?

- Entendo, Rafael.

- Então...? Se te contasse esta história numa entrevista de emprego, teria o lugar? Hahahaha.

- Sim. E no meu coração certamente.

- Linda, és um anjo! Vou almoçar agora anjo, daqui a pouco falamos mais. Beijos muitos, na tua boca, de língua.

- Espera! Quero te falar uma coisa, antes que se vá. Mas, não sei como começar.

- Fale de uma vez!

- Acho melhor eu parar. Melhor nós pararmos por aqui. Isso pode não dar certo e...

- Parar? Parar o quê? - Ele me interrompe.

- De falar com você... Sei lá, essa 'coisa' que temos... Rafael, tens a sua vida perfeita! Eu não tenho direito de entrar nela e estragar tudo. Você tem sua namorada e eu não sou assim... eu...

- O quê? Helena... Deixas-me decidir a mim isso?

- Eu só não quero ser pivô de nada.

- Se te quero aqui isso é decisão minha! Se tu queres estar, isso já é decisão tua. Eu não interfiro nas tuas e tu não interferes nas minhas, ok? No máximo, o que poderás dizer-me é que eu te estou a fazer mal e aí eu terei a ombridade de me afastar.

- Minha decisão eu posso tomar, sim. Caramba. Estou muito confusa! Eu não sei o que pensar. Isso vai contra minhas convicções...

- A tua decisão só a ti compete. Mas, ok, Helena... Vou deixar-te pensar. Não te chamo por hora. Tudo bem? Ficarás sossegada agora para não te confundir mais.

- Agora? Mas como assim, vais sumir?

- Sim. Não é o que queres?

- Não!!! - A ideia de não o ter mais comigo me causou um certo desconforto.

- Não? Então? Anjo, eu adoro-te! Percebes?

- Então, droga... Esqueça tudo. Não vá!

- Não anjo... Não esqueço. As palavras não se apagam. Mas entendeste-me ao menos?

- Sim. Precisávamos nos afastar. Mas não sei se quero. Eu preciso de você!

- Então olha, vamos colocar as coisas de outra forma. Eu estou a fazer-te mal? Eu estou a deixar-te angustiada? Eu estou a impedir-te de viver? Tu serias mais tu, estarias mais feliz, aliviada e leve se não me tivesses conhecido?

- Não, claro de não! Eu apenas estou com medo de me machucar. Desculpa. Fiquei mesmo confusa!

- Anda, entra no Skype, quero te ver. - Abri a câmera e então ele me viu com os olhos marejados. Não contive as lágrimas. Eu sabia que não seria certo continuar. Mas eu detestava a ideia de não o ter mais em minha vida.

- Anjo. Não chores. Não gosto de ver-te assim. Ei, dê um sorriso para mim. Eu quero ver dentes!

- Desculpa. Ando sensível ultimamente. - Acho graça com o que ele disse e sorrio espontaneamente.

- Agora sim.

- Eu quero duas coisas.

- O que queres, anjo?

- Primeiro quero que tires essa caneta da boca!

- Como? O que tem a caneta?

- É suja. E também me faz sentir inveja dela...

- Ahaha. E qual é a segunda coisa que tu queres?

- Eu quero continuar.

- Tens a certeza?

- Tenho.

- Sabe anjo, as vezes em um contrato só lemos as letras grandes. Ninguém lê as letras miúdas. Elas são de suma importância.

- Que quer dizer com isso? Eu sei da tua condição. Essas são as tais letras miúdas?

- Sim. Quero dizer que deves se atentar para ler as letras miúdas. Olha, eu tenho que comportar como homenzinho de caráter. Eu sei que é errado. Mas não me vejo sem ti. Entendes? Fazemos assim. Deixemos ''rolar'', como vocês dizem. Depois vemos no que dá. - Ele concluiu.

- Está bem. - Concordei. - E naquele dia não tocamos mais no assunto.

***

Adoro-te! (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora