CAPÍTULO 1 (Antes de tudo começar)

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***

"Eu levava uma vida tranquila, aqui no Rio de Janeiro. Tinha um emprego estável em uma grande Indústria Metalúrgica da minha cidade. Possuía um cargo de liderança e era bem remunerada pelo meu serviço. Além disso, eu prestava serviço de consultoria eventual e fazia trabalhos como contadora particular em meu escritório, nas horas vagas, coisa que me rendia um excelente ordenado ao fim do mês. Desse valor, consegui comprar meu imóvel próprio e um carro. Além de um imóvel comercial que aluguei para ter mais uma fonte de renda.

Nunca tive problemas com dívidas, jogos, nem vícios, nem orgias. Sempre fui muito sensata. Nunca gostei de fofocas, invejas, disse-me-disse. Sempre fui justa. Eu tinha valores e convicções, frutos de uma criação mais rigorosa. E uma religiosidade baseada na fé.

A vida social era pouco agitada. Grande parte das minhas amigas já estavam casadas, namorando ou viajando... Então eu preferia curtir um cinema, uma praia ou um fim de semana em lugar diferente com as poucas amigas que sobraram.

No âmbito familiar, eu estava separada do pai de minha filha, já há um bom tempo. Minha pequena Brenda já estava crescida, entrando na fase adolescente. Assim que me separei de seu pai, tive que ir trabalhar para manter a casa sem ajuda dele. Confesso que não foi nada fácil. Tive ajuda da minha mãe, financeiramente até me instabilizar.

O lado sentimental estava sensível. Nesse período conheci o Renato Amorim, um bom homem ao qual nos relacionamos por quatro anos. Ele me ajudou muito no início na fase em que eu me sentia um pouco perdida. Quando o conheci, eu trabalhava em um emprego escravo, sem tempo pra mim. Vivia triste e insatisfeita com minha vida. Naquele momento, eu estava em transição de ideias e com sonhos para realizar. E um deles era ingressar na faculdade. Além dos bens materiais, como a casa e o carro. Tudo muito modesto. Imaginava que os estudos seriam a porta de entrada para uma vida mais digna. E eu estava certa!

Depois de virar noites estudando para passar no vestibular, consegui a tão esperada aprovação e uma de bolsa 100% gratuita para concluir meus estudos, pois não haveria a possibilidade de pagá-lo tendo uma criança para criar e uma casa para manter.

Assim que entrei na faculdade, a minha relação com o Renato degringolou, pois a minha visão de vida se ampliou e ele não conseguiu me acompanhar. Brigamos antes mesmo que eu me formasse e decidimos dar um tempo na relação.

Pouco tempo depois, ele continuou insistindo para que eu voltasse. Mas ainda não havia terminado o meu tempo e então preferi postergar o assunto. Porém, continuamos nos falando esporadicamente."

[...]

- Esse relacionamento ainda existe? - Alice me pergunta.

- Ainda mantemos contato, mas ele sempre pede para reatarmos, mas na fase que me encontro não há possibilidades disso acontecer.

- Você disse isso para ele?

- Eu fui bem sincera e disse a ele que não estou em uma fase muito boa neste momento. E que quando eu tivesse uma resposta a altura, ele saberia.

- Ok. Conte-me um pouco sobre seu trabalho depois de formada. Algum fato que tenha incomodado ou contribuído de alguma forma nesta história?

- Certo. Contarei... - Prossigo.

[...]

"Bom, eu estava há dois anos na nova empresa e pude constatar a rotatividade de funcionários naquele lugar. A política da empresa ainda era remota. Tudo muito manual. O Chefe não nos deixava evoluir!

Um dia, durante o expediente de trabalho, precisei pegar algumas pastas de arquivo no armário da sala de "entulho", onde meu abençoado chefinho ''jogava' os documentos da empresa.

- Helena! Você vai cair daí! - Ouço a voz áspera do Sr. Victor.

Com o susto, me desequilibrei e caí da escada que usei pra alcançar a pasta de arquivos. Ele se apressou e me segurou antes que tivesse o impacto com o chão.

- Ai! - Meu gemido de dor ecoou naquele ambiente.

- O que você está sentindo? Helena? - Ele quis saber.

- Minha coluna... acho que dei mal jeito.

- Sente-se. Mas o que queria pegar lá no alto? Isso não é coisa pra se fazer.

- Preciso de documentos das alíquotas pagas para a previdência nos últimos 5 anos. Essa semana a fiscalização deverá aparecer. Preciso estar com tudo em mãos.

- Ah, sim. Que cabeça minha! Isso deveria estar em um lugar mais acessível. - Ele reconhece.

- Eu também acho.

- Providenciarei isso. Precisa de um médico? Posso te levar...

- Não! Tomarei algum remédio para dor e isso logo passará. - Digo.

Pois é. Não passou. Piorou. Sai do trabalho ao fim do expediente e fui direto casa."

[...]

- Ok, Helena. Por hoje é só. Preciso que você tenha em mente todas as informações sobre os fatos. Se for preciso, anote tudo. - Alice me sugere. - Amanhã retornaremos de onde paramos, ok?

- Tudo bem. Obrigada minha amiga. Até amanhã!

Depois que saio do consultório de Alice, o dia segue tranquilo. Em meu escritório, consigo fechar dois contratos importantes. Pelo menos o lado profissional está indo bem.

***

Adoro-te! (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora