Cartas ocultas

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Andrés levanta bruscamente da mesa e começa a andar de um lado para o outro feito um cão raivoso, com as mãos apoiadas na sua cintura e a testa enrugada.

- Sabe que para uma primeira capa de jornal eu até que fiquei bem na foto. - faço piada tentando amenizar o clima tenso, Lorenzo começa a rir. 

Andrés me olha de maneira seca e vai direto para o quarto.

- iii, o bofe azedo! - comenta Lorenzo.

- Melhor eu ir até lá e conversar com ele. - respondo, indo de imediato.

- Oi. - digo sondando pela fresta da porta aberta e entro de mansinho. - Desculpa pelo que disse, foi só um comentário besta.

Está sentado na cama e aquele V de descontento está estampado na sua cara.

- Não me importei com que você disse, até lhe dou razão, ficou muito bonita na foto.

- Então por que tanta preocupação ? Isso pode afetar seus negócios?

- Meu negocio é sólido o suficiente, noticias não interferem.

- É sua mãe então? - ele me olha e um sorrisinho escapa.

- Não, ela vai surtar com isso. Mas não me importo.

- Então o que é? Não entendo. Eu quem deveria estar furiosa, todo mundo vai me olhar torto e me tachar de vadia que rouba noivos. Ou interesseira. Ou a golpista. - chego a suspirar de desanimo.

- O primeiro que te olhar torto vai ficar sem olho. - segura meu queixo e me olha sereno. - Prometo! Não se preocupe com essas baboseiras, isso é noticia hoje, amanhã já nem lembram mais. Com o passar do tempo vão perceber que estamos juntos porque nos gostamos de verdade e que o resto foi só especulação.

- Melhor assim, mas então o que é que incomodou tanto você?

Ele  caminha na direção da janela, passando a mão pelos cabelos, demonstrando seu nervosismo.

- Fala pra mim! - exijo e começo a ficar nervosa também.

- Por favor, fica fora disso. - é quase uma lamuria. - Complicado demais para te explicar.

- Eu posso entender. - solto o ar pelo nariz e volto a encher os pulmões. - Prometeu que não haveria mais segredo e que quando eu voltasse me esclareceria as coisas.

- Sei o que prometi. Só que agora acho não ser o melhor a fazer.

- Para com esse mi mi mi e fala de uma vez. - determino.

- Por Deus Anna, por todo amor que tens por mim, esquece.

- Não estou te dando escolha, não desta vez.

Ele deixa sua cabeça repousar no vidro da janela. - Vamos para minha casa.

- Não mude de assunto, dessa vez não vou deixar que me enrole. - vindico.

- Tem algumas coisas em casa que preciso que veja.

Agora ela me deixou nervosa, ansiosa e curiosa.

O que ele esconde em casa?

Calçou o sapato e pegou o blazer. - Se vista, te espero na sala.

- Está bem, me dê 10 minutos.

- Todo tempo do mundo! - piscou e saiu.

Uiii

Como pode uma simples frase arrepiar todos os meus pêlos?

Coloco um macacão florido que tem um decote bonito, um cardigã por cima, prendo os cabelos e pego a bolsa. Já na porta do quarto me lembro de um detalhe importante, volto e passo o perfume predileto dele.

Sempre AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora