Capitulo treze

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(Neela) 

Neela observa o sol nascer debruçada em sua janela. Ela acha lindo os tons metálicos de violeta, laranja e rosa que as nuvens ficam quando os raios da alvorada as tocam. A imensa esfera flamejante se ergue preguiçosamente às sete da manhã, aplacando a escuridão com sua luz de fogo.

Neela sente o estômago dar um nó. É seu aniversário, mas ela não espera por presentes e uma festa que nunca irá ter, ela só espera por um pouco de paz, felicidade e de novo paz. Ela realmente não se importa com nada caro, a não ser o colar que ganhou de James, aquilo deve ter custado mais do que o guarda-roupa inteiro dela, mais até que a bicicleta do seu irmão.

-Nee? - a voz fininha de Eva soa atrás dela.

Neela se vira para ver a garotinha, seus cachos cor de bronze estão um verdadeiro ninho, os olhinhos verdes, remelentos e inchados de sono. A bochecha esquerda tem marcas do lençol, e ela sorri.

A irmã mais velha vai até a cama que divide com menina e lhe aperta as bochechas.

-Bom dia Ev. - diz beijando a testa da irmã.

-Estou com fome. - Eva fala docemente.

O sorriso de Neela oscila. Ela sabe que sua mãe ainda não fez as compras para o mês, ontem, no jantar eles comeram a última porção de feijão e arroz. Neela não sabe se ainda há alguma comida.

-Vá escovar os dentes primeiro. - Neela diz pegando a menina por debaixo das axilas e a colocando no chão. - Eu vou ver o que tem para comer.

Eva corre para fora do quarto sem se preocupar em vestir um vestido ou sequer uma blusa. Neela caminha calmamente até a cozinha e abre a primeira porta de um dos armários. Está vazia. Ela abre outra, e mais outra, estão vazias. Sem esperança, ela abre a última porta. Lá no canto há apenas meio quilo de farinha de mandioca, um pouco de pó de café e açúcar.

A menina morde o lábio inferior e lágrimas se acumulam em seus olhos. Aquelas coisas só darão para uma refeição, mas pelo menos a família não vai morrer de fome.

Neela pega uma chaleira velha de inox na pia e enche com água de uma jarra de barro. Ela leva a chaleira cheia até o fogão velho a gás e tenta acender uma das bocas com fósforo. Falha. Ela tenta outra. Falha. Tenta outra. E novamente falha. Há apenas mais uma boca e um dois palitos de fósforo na caixa.

Por favor, que o gá não tenha acabado, ela reza silenciosamente.

Ela risca um palito de fósforo e aproxima da última boca do fogão. Ela espera por uma chama azulada, mas nada. O gás acabou.

Neela sente vontade de gritar, o choro está à espreita e várias vezes ela engole com força para mantê-lo longe. Ela já passou por isso diversas vezes, mas nunca fica mais fácil. Como irá dizer para Eva que a comida acabou e o gás também?

Lenha! Pensa ela rapidamente.

-Nee, eu não consigo pegar a pasta! - Eva grita do banheiro.

Neela atravessa a cozinha e empurra a porta do banheiro. Eva está na ponta dos pés tentando alcançar a porta do armário espelhado. Ela abre a porta e pega o tubo de pasta de dente quase vazio. O dia não começou bem, Neela pensa espremendo o tubo de pasta sobre a escova de dente rosa de Eva.

Eva deixa o banheiro para pegar uma caneca de água na jarra. Depois ela sai pela porta dos fundos da casa para escovar os dentes lá fora. Neela respira fundo e atravessa a porta. Tem certeza de que há um pouco de lenha e carvão no alpendre de sua casa, o suficiente para fazer ao menos uma chaleira de café.

As Crônicas Do Apocalipse: O Fim da Luz Onde histórias criam vida. Descubra agora