Capítulo Catorze

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(Lysa)

Está escuro, como é de se esperar. Do topo do prédio é possível ver a enorme e laranja lua cheia. Por algum motivo, há mais de ano, a lua não míngua, está sempre cheia e alaranjada, não importa à hora da noite. Lysa conta as pequenas e distantes esferas flamejantes, as estrelas. Elas não têm mais aquele brilho prata, não parecem inocentes, agora elas parecem tochas de fogo alimentadas pela mais pura raiva.

Lysa respira fundo, tragando para dentro de seus pulmões o ar úmido e que cheira a fumaça podre. Dali, do topo do Empire States ela consegue ver o estrago em Nova York, não há luzes acesas nos postes, nas janelas dos prédios, não há faróis de carros ou pessoas vestidas para a noite louca nas boates. Ali há apenas centenas de prédios escuros e bombardeados pela Liga Euro-Asiática, e os outros queimados pelos Maus. As ruas são desertas e nem a mínima brisa ousa levantar um único pedaço de papel do chão. Parece uma cidade fantasma. O que de fato há de se tornar assim que a ultima pessoa for devorada por uma daquelas coisas.

Lysa olha em direção ao Central Park, o brilho alaranjado do fogo chama a sua atenção. É uma fogueira. Por que eles ainda insistem? Pensa indignada com a falta de consciência das pessoas que possivelmente cercam a fogueira, Eles sabem que os Maus vão encontrá-los mais rápido desse jeito, se não eles, serão as Coisas.

-No que está pensando? – a voz de Kane atrás de si a pega de surpresa, mas não a assusta.
Ela olha para o irmão, ele chuta um pedaço de papel e se aproxima dela.

-Como você encontrou esse lugar? – Lysa pergunta desviando o foco da conversa.

Kane ri. Lysa não consegue distinguir sua expressão no escuro, mas sabe que algo sombrio paira em seu rosto.

-Não foi difícil – diz ele sério. – Além de ser um cartão postal, é um prédio enorme. Difícil é não achar. – mais uma risada sarcástica que faz Lysa se irritar.

-É incrível como você ainda tem humor com toda essa droga acontecendo. – resmunga ela.

-Isso é tudo que temos agora Lysa. – ele diz, agora não há divertimento em sua voz. – Temos que tirar algum proveito disso, uma carranca não irá nos proteger.

-Eu sei. – ela suspira e ajeita uma manta de lã sobre os ombros. – Mas eu não consigo sorrir sabendo que meus amigos estão lá fora. – ela desvia os olhos de Kane para que ele não note as lágrimas em seus olhos. Falha.

Kane se aproxima da irmã e senta-se ao lado dela na borda do prédio.

-Me fale dele. – Kane diz acariciando suavemente o braço de Lysa.

A garota suspira, as lagrimas se ausentam de seus olhos e ela aproveita a oportunidade para falar de Miguel para o irmão.

-É o Miguel. – revela, olha para a rua centenas de metros abaixo. Vê uma silhueta minúscula saindo de um beco, ela sabe o que é, viu aquelas coisas algumas vezes e sabe o que elas fazem. De longe parecem pessoas, de perto são monstros devoradores de carne. - Lembra dele? - pergunta, ainda não ousa fitá-lo, matem seu olhar focado na coisa que se move lentamente na rua.

Kane se lembra, e isso o faz sorrir. Mas seu sorriso não dura muito, ele se dissolve nas peles do seu rosto assim que um pensamento transpassa sua mente... Lysa estava se arriscando por esse garoto, como se arriscou por Tristan. E Tristan está morto agora e o coração de Lysa quebrado.

-Ele vale a pena Lysa? - Kane pergunta, sabe que isso pode ofender sua irmã, mas não importa. Melhor ela tê-la ofendida do que morta, pensa.

-É claro que vale. - Lysa diz, não há sinal algum de que se ofendeu em sua voz, há apenas incredulidade. - Ele me salvou, algo que Tristan jamais faria. - completa.

As Crônicas Do Apocalipse: O Fim da Luz Onde histórias criam vida. Descubra agora