Capítulo oito

94 13 11
                                    

(Lysa)

Lysa balança a cabeça negativamente para Trinna. Ela afunda mais entre os acentos do ônibus. Trinna está no andar superior ônibus, ela quer que Lysa suba lá também, mas Lysa se recusa. Caso precise fugir dali, o andar principal está ligado às saídas. No andar superior elas estariam encurraladas.

Lysa levanta a cabeça lentamente até a altura do vidro rachado e poeirento. O Empire States é do outro lado da rua, Lysa só precisa chegar ao outro lado para encontrar Alex e Miguel, se eles estiverem lá dentro. Ela rola os olhos azuis pela rua vazia de almas vivas, o vento leva uma camada de poeira marrom, sacolas de plástico e papeis. O sol está quase no meio do céu, Lysa olha para o relógio dourado em seu pulso, já passa das nove e meia da manhã.

Ela olha para Trinna e aponta para o relógio em seu pulso. Trinna olha para o relógio, ela exclama uma serie de palavrões num sussurro. Lysa não consegue evitar um sorriso, ela sacode a cabeça e volta a olhar para a rua. Ela nunca pensou que veria aquela rua tão vazia, os atentados da Ásia estão acabando com a América. Do ponto de vista de Lysa os dois continentes parecem não se contentar com a natureza furiosa, que resolveu revidar todas as agressões do homem contra ela, e insistem em se autodestruir.

A porta principal do Empire States se abre. Vários homens jovens saem gritando e rindo.

Puta merda, Lysa amaldiçoa os homens por terem saído. Ela só quer chegar até Miguel e Alex, principalmente Miguel. Ela não se atreve nem a pensar em perdê-lo, ela já perdeu muito. E com todo esse caos, foi Miguel quem passou todas as noites de escuridão ao lado dela, ele e Trinna. Ela conheceu-o há dois meses, duas semanas antes de Juliette e Audrey morrerem... Pouco depois de Tristan morrer. Foi Miguel que encontrou Lysa aos gritos na casa, com uma Juliette de garganta estraçalhada nos braços.

Lysa vê Trinna se abaixar rápido, ela quase pode ouvir o martelar frenético do coração dela no peito. Trinna tem mais medo dos Maus do que Lysa. Ela viu o que eles fizeram a seu pai, ela foi amarrada a uma cama e estuprada. Quando Lysa a encontrou na casa ela não chorava, quando Lysa a desamarrou ela não desabou. Ela tinha a imagem vívida do homem que a machucou. Ele pagou pelo que fez, Lysa se lembra da cena: O homem nu amarrado a um poste de ferro, seus órgãos genitais – ou o que sobrou deles – sangrando, sua boca amordaçada, ele estava como Trinna esteve, machucado, humilhado e como ele fez, Trinna o deixou ali para morrer. Lysa nunca pensou que a amiga pudesse ser tão fria, ela já teve que matar, mas foi para sobreviver e não para se vingar. Mas ela não repreende Trinna por isso, aquele homem mereceu aquilo.

-Trinna, desça. – Lysa sibila acenando para ela.

Trinna mostra o dedo do meio para Lysa. Lysa volta a se concentrar na rua. São seis homens, alguns deles trazem garrafas de bebidas, outros fumam, mas apenas um deles se mantém quieto, Lysa não vê seu rosto, ele está de costas para ela. Lysa sente uma vibração seguida de um estridente som de vidro sento quebrado. O coração dela parece inchar do peito. Uma serie de palavrões é gritado alto o suficiente para metade de a Nova Iorque silenciosa ouvir. O homem menos ativo se vira de lado, ele usa uma camiseta cinza com o nome de uma banda que Lysa não consegue ler de onde está. Ele lhe é vagamente familiar, desde a pele suave ao cabelo preto azeviche e a tatuagem de um crucifixo preto no músculo do braço.

Uma memória de dois meses atrás viaja como uma folha perdida no outono, o irmão mais velho de Lysa, Kane, sentado ao pé da cama dele segurando uma pistola ponto quarenta, no Harley todos tinham uma daquela para se proteger das Coisas e dos assaltantes, eram dias difíceis, pouco antes do atentado da Ásia.

As Crônicas Do Apocalipse: O Fim da Luz Onde histórias criam vida. Descubra agora