E o quarto anjo tocou a trombeta e foi ferida a terça parte do sol, e a terça parte da lua, e a terça parte das estrelas, de maneira que se obscureceu a terça parte deles, e não resplandecia a terça parte do dia, e o mesmo era da noite.
Apocalipse 8:12
(Adriel)
Como todos os dias, ele levanta, toma banho e se dirige a cozinha para tomar café da manhã e ir para a escola. É uma rotina que ele não se importa em seguir a risca, tudo é melhor do que ficar em casa com Lília. A mãe que o odeia. E as agora as coisas estão piores, ela nem sequer fala com o filho e os olhares que lhe dá são cheios de ódio. Hoje, sentar com ela é ainda pior, seu pai não está presente.
Adriel se apressa para comer, minutos antes ele cogitou em ir para a escola sem comer, mas estava tão faminto que descartou a opção e se dispôs a enfrentar o café com a mãe.
Lília já está na mesa quando ele chega. Ele puxa a cadeira mais distante dela, senta-se silenciosamente e começa a passar manteiga em um pão. A mãe bebe café em uma enorme xícara branca, seus cabelos vermelhos soltos em seus ombros como uma cascata sangrenta, como sempre seus olhos fitam o nada a sua frente. Ela nunca usa maquiagem, nem precisa, ela tem orgulho das sardas leves e da sua pele pálida, sua beleza natural.
Adriel tem um breve vislumbre das três meias luas na diagonal, no dorso da mão direita, são tatuagens lindas, pequenas e delicadas em um vermelho quase do mesmo tom dos seus cabelos.
O garoto estica a mão para pegar uma jarra de suco, Lília empurra a o suco para ele e por um momento sua mão toca a do filho. Os dois congelam por alguns segundos. O lugar onde a mãe o tocou começa a formigar. Lília está paralisada, encarando o garoto com uma expressão que ele não sabe decifrar, mas ele entende que não lhe trará nada de bom.
- VOCÊ! – ela grita furiosamente para ele.
Adriel treme, sente todo seu corpo gelado. O medo que sente da mãe nunca fora tão evidente. A mulher parece tremer também, mas de raiva.
- Você é dos malditos escolhidos! – ela cospe pegando uma das facas da mesa.
O corpo do menino passa a agir sozinho. Ele corre para fora de casa, sabe que Lília está logo atrás dele e sabe que não pode escapar dela. Mas ele quer arriscar, qualquer possibilidade de escapar ou qualquer segundo longe daquela mulher vale a pena.
Adriel corre em direção a mata ao lado de casa, lá ele pode achar um lugar para se esconder até Eleazar chegar. Tudo que ele precisa nesse momento é da presença do pai. O menino não sabe quais são os planos da mãe para ele, mas sabe que seu pai jamais vai permitir que ela o machuque.
Por Deus, pai, onde você está?
- Adriel! – os berros de Lília não estão muito longe, ela vai alcançá-lo.
Ele aumenta a velocidade da corrida, embrenhando-se ainda mais na mata e ignorando os galhos que arranham seu corpo. Ele coloca o braço na frente do rosto para que os galhos espinhosos não arranhem seus olhos. Precisa da visão mais do que nunca. Também precisa de mais velocidade ou ficar invisível. Ele não faz ideia do que Lília quis dizer na mesa, mas para ela não é algo que possa ser perdoado.
Adriel congela ao ouvir um trovão sem o mínimo sinal de tempestade. Ele para de correr, suas pernas simplesmente travam. Instintivamente ele olha para o céu, diretamente para o sol que lança seus raios violeta claro. Algo está errado. Há um ponto escuro no meio do sol e está se espalhando rapidamente.
Ele fica hipnotizado com a cena, uma escuridão está engolindo o sol tão rápido quanto um piscar de olhos. O sol fica totalmente negro, meio segundo depois está tudo escuro, a de luz do mundo desaparece como se nunca tivesse existido.
Adriel sente o medo da escuridão, ele fica desnorteado no lugar onde está parado, não sabe se volta para casa ou continua correndo. Ele não faz ideia do que está acontecendo, uma parte sua pensa que ele está dormindo, que aquilo é só mais um dos seus pesadelos onde a luz não existe, mas no fundo esse pensamento não passa de um desejo. Ele sabe que está acordado e que de alguma forma, seus pesadelos se tornaram reais.
O menino permanece parado, não consegue obrigar suas pernas a continuar correndo. Na verdade, ele não parece ter o controle do seu corpo, o medo ou a escuridão ou talvez ambos, faz ele sentir seu corpo pesado, como se ele fosse feito de chumbo e estivesse no meio do oceano. A única coisa que ele pode fazer é se deixar afundar mais e mais. Aquela escuridão repentina não dissipou apenas a luz, mas também a energia de Adriel. Por um milissegundo ele esquece que está sendo perseguido.
Até que sente um forte golpe na cabeça e sua mente apaga. Não pode dizer que tudo ficou escuro, pois já está, no sentido literal.
Estou morto.
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As Crônicas Do Apocalipse: O Fim da Luz
FantasyO mundo não é mais o mesmo. E com a terceira guerra mundial tudo só piorou. As profecias do antigo livro do fim finalmente se cumprem e o caos se instala mais forte do que nunca. A Marca se propagou como uma praga, as pessoas mostram sua verdadeira...