Capítulo 14

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Algumas semanas se passaram, a cada dia admirava mais o Heitor, eu tinha que dizer aquela verdade sobre o que eu fiz. Às vezes encontrava o Damian pelos corredores e ele seguia me olhando como que quisesse se aproximar.

Um dia caminhava próximo a casa do Heitor, resolvi lhe fazer uma surpresa, era uma confortável tarde, fazia um pouco de frio. Fui até a casa dele, e visto que começava a nutrir sentimentos por ele, decidi dizer logo de vez algo do meu passado, antes que alguém dissesse a ele. Era feriado aquele dia e provavelmente ele estaria em casa, pelo que sei não tinha planos de sair.

Fiquei aguardando ele aparecer, minha respiração estava como que travada e bem curta, não fazia ideia de como começar e o que dizer. Ele apareceu no quintal.

- Oi Rebeca – falou surpreso.

- Oi, vim te visitar, estou te atrapalhando?

- Estava lendo.

- Então te atrapalhei.

- Que nada – disse enquanto abria o portão.

- Esta sozinho?

- Estou, meus pais saíram.

- Que bom, tenho que te dizer algo, e é melhor que seja em particular.

Quando entrei na sala em tom creme, vi uma estante com vários livros, foi o que mais me chamou a atenção.

- Bela biblioteca particular!

- Quer algum livro emprestado?

- O que eu quiser?

- Sim. Pra você eu empresto.

- Depois eu escolho um.

Eu me sentei em uma cadeira e ele ficou de frente para mim sentado em uma poltrona.

- Não te esperava aqui hoje.

- E eu nem planejei vir, mas tenho que te contar o que houve entre mim e o Damian... Eu só espero que entenda – falei com receio.

- Pode dizer, vou manter minha mente aberta e sem te julgar.

- Bom, nos conhecemos na escola, e eu era muito apaixonada por ele, mas o Damian nunca notava.

- Me lembro que era desde a oitava serie.

- Isso mesmo, depois estudamos na mesma sala, chegamos a fazer trabalhos juntos e tudo. Mas nada mudou, chegou um momento em que eu não podia mais me calar, no último ano de escola foi o momento em que eu tinha que fazer alguma coisa. Eu tinha duas opções, falar sobre os meus sentimentos a ele ou fazer a loucura que se passou pela minha cabeça. Escolhi a segunda opção.

- E qual foi à segunda opção?

- Algo do qual me arrependi profundamente e me trouxe remorso. Decidi criar um perfil fake.

Heitor ficou espantando, mas continuou ouvindo. Contei em mais detalhes como tudo foi acontecendo. E ele não disse mais nada e eu prossegui falando.

- Naquele dia eu estava tão tensa, dançamos juntos e eu só conseguia pensar em como diria sobre o perfil fake, mas resolvi dizer para ele tirar a máscara e ver quem estava na frente dele. E então Damian viu que era eu e ficou irritado, desde então não nos falamos.

Heitor continuou calado e eu imaginei que estivesse me detestando depois do que eu contei.

- Então eu fiz tudo isso por amor, mas não foi o caminho certo. Era mais fácil dizer, do que ter que enganar... Mas depois disso o que você vai pensar de mim – falei com a cabeça baixa e envergonhada.

- Vou pensar que você é igual a mim – disse olhando nos meus olhos.

- O que? – disse não esperando por aquela resposta.

- Você é tão humana e imperfeita igual a mim. Quem nunca agiu por impulso? Quem nunca errou em uma decisão? Foi sim muito errado o que você fez, mas se esta arrependida e aprendeu uma difícil lição, por que não perdoar?

- Mas Damian nunca me perdoou.

- Talvez fará isso no tempo dele. Esqueça essa culpa, você já sofreu todas as dores desta decisão, o que tá feito esta feito, erga a cabeça e comece de novo.

Pensei por alguns segundos, estava aliviada depois de ter dito e do que ouvi, me levantei e fui até ele com um enorme sorriso. Eu o abracei, estava grata por ele aceitar, entender e por suas palavras que me aliviaram.

- Fiquei feliz pelo que me contou, não deve ter sido fácil.

- Não mesmo. Achei que me desprezaria.

- De jeito nenhum. Gosto de você – disse segurando minhas duas mãos.

- Eu também gosto muito de você, não quero que se afaste de mim.

- O que você sentiu por ele foi muito forte. Acho que tem que resolver essa situação.

- É o que vou fazer.

Segunda-feira eu apareci na biblioteca sorrindo, Heitor também sorria.

- Estava agora pouco pensando em quando te vi entrar nessa biblioteca pela primeira vez, sabe o que pensei.

- O que? – perguntei curiosa.

- Que eu gostei de você, bem que poderia ser minha namorada – comentou Heitor.

Fiquei surpresa, sem reação, jamais imaginei que ele diria aquilo naquele momento.

- Por quê? – foi à única coisa que pensei em dizer.

- Heitor eu preciso de um livro – disse uma jovem entrando na biblioteca. – Em que parte está os livros de física?

- Ali – ele apontou.

- Me ajuda, não consigo alcançar.

- Heitor, eu volto outro dia, não quero atrapalhar seu trabalho.

Era inconveniente falar sobre aquele assunto naquele momento, seriamos atrapalhados o tempo todo.

Na saída o vi, fiquei olhando para ele fixamente, ele se aproximou e me acompanhou até o ponto de ônibus, quando olhei de novo para ele, sorri.

- Que noite linda! – disse ao olhar para cima.

- Verdade – falei ao observar uma bela lua e estrelas em meio ao céu escuro.

Nos olhamos novamente, foi então que ele se aproximou e me beijou, naquele instante mais perto dele, senti que nossos corações batiam num mesmo ritmo, logo após o beijo inesperado ele foi embora sem dizer mais nada. Talvez fosse muito cedo para dizer te amo. E talvez ele não soubesse o que dizer e simplesmente decidiu apenas me beijar e não dizer mais nada. Algo que causou mais impacto do que palavras, eu estou feliz que ele corresponda ao que eu sinto.


Enganosa atração - completoOnde histórias criam vida. Descubra agora