10. Encontre-me outra vez

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::ANA::

Doces sonhos. Matizes distintos de uma mesma essência, de um mesmo eu. Uma gradação pictórica em minha mente que transladava por diversos lugares e diversas histórias que tinham, inevitavelmente, o mesmo fim. Não obstante, davam-me a certeza do sentimento que ardia em meu peito, davam-me o sentido dos batimentos do meu coração, do sopro de vida que me mantinha respirando.

Cada vez mais longe eu voltava no tempo acompanhando a dramática trajetória dos amantes amaldiçoados e redescobrindo quem, de fato, eu era. Mas a origem parecia demasiado longe e enquanto navegava em tantas almas de um mesmo coração percebia a mim mesma de uma maneira nova, descobria a minha essência imutável e o poder que existia dentro de mim. Provavelmente tudo aquilo seria esquecido quando eu abrisse os olhos, mas era fascinante a descoberta.

Senti que me aproximava da origem, do início de tudo aquilo. O rosto de Ferdinan era uma imagem embaçada envolta em luz, mas em meu coração, no mais íntimo do meu ser, eu o reconhecia. E sua voz dançava no ar como as notas de uma música que preenche o salão de casais apaixonados, e dizia seu nome. Mas não pude ouvir, pesadas e gélidas, as mãos vieram sobre mim arrancando-me de seus braços e levando-me para longe enquanto ele era consumido pela luz diante do meu olhar cada vez mais distante.

Subitamente abri os olhos e fui recebida pela escuridão absoluta, a floresta não mais me rodeava e meu corpo estava apertado em uma espécie de caixote que se movia como se fosse carregado por alguém. Um terror me dominou e entrei em desespero, mas precisava ser racional — por mais difícil que fosse — pensar com calma em um meio de sair dali e ganhar tempo até Ferdinan vir me buscar. Fechei os olhos e tentei me concentrar nos sons do lado de fora, mas afora os passos quase silenciosos, não havia conversas, nada que me desse uma pista sobre meus raptores.

Parece que percorremos um caminho demasiado longo, meu coração começou a apertar, lágrimas involuntárias percorreram o meu rosto como se eu conseguisse presumir o que vinha a seguir; pensei em me mover, gritar, bater com todas as forças contra o caixote de madeira, mas de nada adiantaria entrar em desespero. De repente, tudo parou e o silêncio de ate então foi envolvido por sussurros que para mim soavam em uma língua desconhecida, senti quando o caixote foi pousado no chão e fechei os olhos.

Concentrei-me com cuidado nos barulhos a seguir, um clarão veio sobre o meu rosto no momento em que o caixote foi aberto, não me atrevi a abrir os olhos por mais que a curiosidade me compelisse a fazê-lo. Mãos gélidas me tomaram e fui carregada e posta sobre algo frio e duro, minhas mãos foram amarradas pelos pulsos e meus tornozelos igualmente. As vozes, agora mais nítidas, continuavam falando na língua estranha e quando um jorro de água gelada foi derramado sobre meu rosto, abri os olhos assustada e sufocando.

Diante de mim estava um homem, aproximadamente na casa dos trinta, usava um cavanhaque no rosto angular e bem desenhado. Os olhos eram de um negro tão denso quanto os de Ferdinan, cabelos longos de um preto intenso como piche, e a tez clara. Seu corpo era poderoso, braços fortes e tórax notável, mas havia algo em seu sorriso e na forma como ele me olhava que me diziam ter algo maligno em seu ser.

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