13: Metáfora

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"Ah, o trio de ouro. ── Pedro."

Os ponteiros do relógio pareciam se arrastar agora que faltavam exatos dois minutos para o intervalo. Acho que ninguém mais prestava atenção ao texto que a professora de literatura lia desde o começo do período.

Tenho a leve impressão que cochilei por alguns minutos. Em um instante todo mundo estava na mesma situação que a minha e, quando abri os olhos novamente, a sala toda já tinha se dirigido até a porta e os ponteiros do relógio resolveram se deslocar de maneira decente.

Atirei minhas coisas dentro da mochila e peguei minha garrafa com água. Comecei a andar distraída até a porta mantendo minha atenção ao que tinha sido impresso no rótulo da garrafinha. Bom, não é uma boa combinação andar de cabeça baixa e com a atenção focada em qualquer outra coisa que não seja o que está na minha frente. Acabei batendo no que eu pensava ser a porta, mas na verdade não era.

Por que portas não usam tênis da Nike.

Pessoas usam tênis dessa marca, mas apenas uma usava aquela cor horrível de tênis.

Então, é, mesmo antes de levantar meus olhos até o rosto da pessoa eu já sabia que Rafael havia sido a minha porta. No caso, no que eu bati. O calorzinho gostoso que surgiu quando a mão dele segurou meu cotovelo, me mantendo em pé não havia o denunciado, claro que não. Foi o tênis verde musgo. Apenas isso.

Tentei contornar seu corpo e ir finalmente até a porta, mas grande foi a minha surpresa por descobrir que Rafael realmente estava sendo uma porta naquela situação. Ele bloqueava com o seu corpo a saída.

─ Olha, eu realmente preciso falar com a Bruna, então... Eu não li a sua carta, eu não abri a sua carta e eu não tenho a pretensão de tocar nela. Realmente não consigo entender porque você e Felipe não me deixam em paz e ficam atrás de mim. ─ praticamente vomitei as palavras em cima de Rafael. ─ Por que vocês fazem isso? Não entendem o que um não significa?

─ É tudo por você, Maria Luísa. Tudo que a gente está fazendo... É por sua causa. Eu sei que posso estar pedindo demais, mas a carta... Deixa pra lá. Você só vai entender se ler ela. ─ as palavras de Rafael me atingiram em cheio. ─ O Felipe está ficando desesperado e fazendo essas coisas por sua caus...

─ No lugar de um cérebro meu irmão colocou balas de goma, Rafael. E isso não quer dizer que você tenha que ir atrás das coisas que ele fala, caso não tenha entendido.

Que bela metáfora, Maria Luísa, estou orgulhosa nesse momento do meu desempenho para criar metáforas.

Provavelmente Rafael não tenha entendido o que eu tenha falado, mas aquela foi a maneira mais gentil que achei para falar que Felipe realmente não possuía um cérebro. Caso ele possuísse, não estava usando o mesmo nesses últimos meses.

Se eles me conhecessem tão bem quanto vivem fazendo questão de espalhar para os quatro cantos do mundo, eles então iriam saber que nada surtiria um efeito naquela situação. Palavras ou gestos não seriam suficientes.

─ Quando vai nos dar uma segunda chance? ─ Rafael colocou seus olhos ao mesmo nível que os meus. Fugir do seu olhar não era uma alternativa no momento. ─ Quando vai me dar uma segunda chance?

Preciso admitir que a minha barreira talvez tenha ganho mais uma leve rachadura por conta das palavras de Rafael.

Uma rachadura bem leve, mas que queria se tornar uma profunda a ponto de acabar com a minha barreira.

Entretanto, palavras não eram suficientes diante disso tudo.

Eu nem mesma sabia se ações seriam o suficiente! A forma que eles dois me machucaram... Ainda não encontrei palavras que descrevam o quanto aquilo tudo me machucou. E o quanto machuca até hoje.

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