4: Retornos

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"Sentiu a minha falta maninha? Sentiu a minha falta maninha o escambau todo! ── Maria Luísa."

Não lembro direito o que aconteceu durante o tempo que estive dentro da sala de Clara depois que Felipe apareceu.

Falando a verdade, eu lembro sim e muito bem do que fiz, mas não era algo digno de orgulho, entende? Por isso estou tentando ─ de maneira falha ─ apagar o que aconteceu algum tempo mais cedo.

Não pensei duas vezes antes de dar o fora do Basso. Deixei todos meus livros e cadernos na aula de história, minha mochila e dei o fora do colégio. Passei uma mensagem para que Júlia pegasse minhas coisas naquela aula.

Eu não tinha condição alguma de ver alguém depois de tudo aquilo.

Passei o resto da manhã sentada no Caís porque era o único lugar que me faria pensar e o único lugar que ninguém ia me procurar; Não era um lugar conhecido e, mesmo que fosse, duvido que alguém fosse vir atrás de mim.

Isso tudo simplesmente não podia estar acontecendo.

Só podia ser uma espécie de pesadelo.

Felipe simplesmente não podia brincar com as pessoas desse jeito! Não podia. Ele pensava o que? Que somos como brinquedos que ele pode aproveitar, brincar até cansar, descartar e depois voltar a brincar? Mas não mesmo.

Eu estava a ponto de surtar. De ter um ataque de nervos ou qualquer coisa parecida com aquilo. A volta dele me afetava, e não era pouco. Ele é meu irmão mais velho, passou por coisas comigo que nenhuma das gêmeas teve que passar e... Droga, Lia e Kia. Como elas iriam reagir a isso?

Consigo lembrar perfeitamente do quão devastadas as duas ficaram depois que nossa mãe deu a noticia para gente. Lia chorou durante dias seguidos, com a Kia não foi diferente, mas o que eu mais lembrava daquela era época, foi como elas ficaram depois de aceitarem o fato de que Felipe não ia voltar tão cedo. Cada uma de nós reagiu de uma maneira e por mais ligada que eu fosse a Felipe, ele e Kia tinham uma coisa só deles.

Então, de nós três, a que mais sofreu danos foi Kia.

Kia mudou. Totalmente. E não estou falando de aparência ou amizades, ela mudou mesmo. Tudo. Fechou-se de uma maneira diante daquela situação que nada que minha família e eu fazíamos foi capaz de a trazer de volta. Até hoje.

Como ela iria reagir com a volta de Felipe?

Como todo mundo iria reagir com a volta dele?

Era óbvio que a minha mãe já sabia disso, Marco com certeza também, mas tamanha era a minha surpresa com duas pessoas nessa situação. Augusto e Bruna sabiam disso e não me contaram; Logo Augusto e Bruna que eu jurava que nunca me esconderiam alguma coisa como essa! Meus dois melhores amigos...

Que sensação esquisita essa de ser a última a ficar sabendo das coisas.

Não sabia ao certo o que eu sentia. Era raiva, frustração, ira, uma vontade absurda de gritar e chorar, mas também tinha aquela sensação que se fazia presente desde o dia que meu irmão foi embora... Aquela sensação chatinha de saudade juntamente de uma dose quase nula de alegria.

Eu assumo o que sinto, pelo menos para mim mesma tenho que ser totalmente verdadeira: uma parte minha ─ quase nula ─ tinha ficado feliz pela volta do meu irmão. Ora, era claro que uma parte de mim iria ficar feliz em ver Felipe depois de três anos separados!

Mas tinha aquela parte que sempre estragava as coisas. A parte que não conseguia superar o modo como ele foi embora e como ficou ausente durante esses três anos. A parte que sempre me lembrava que ele agiu como Guilherme. A parte que sempre vencia naqueles momentos.

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