"Queria ser capaz de fazer alguma piada para quebrar a tensão desse momento ou até mesmo falar algo profundo, mas a única coisa que consigo pensar agora é que acabou. E não acabou para recomeçar no ano seguinte: acabou de verdade. A partir de agora seremos adultos ou metade disso... O que meios-adultos fazem quando o colégio acaba e a única coisa que eles querem é mais um ano tendo um ponto de reencontro com todos os seus amigos? ── Bruna. "
Era sufocante ter que usar uma beca e um capelo em pleno verão no Rio de Janeiro.
Sufocante não, na verdade, é uma tortura.
─ Eu achei que nós iríamos usar essa roupa só quando nos formássemos na faculdade. ─ Felipe resmungou, puxando um pouco da gola e soprando uma quantidade de ar para dentro da roupa. Ou melhor: forno. ─ Isso é tortura.
─ Não me deixa esquecer de agradecer a Júlia por ter tido essa ideia maravilhosa.
─ Vocês podem, por favor, pararem de reclamar e sorrirem para a câmera, sim? ─ parei de puxar a minha gola também e me posicionei ao lado de Felipe, sorrindo para a câmera de Marco que estava tão animado pelo dia de hoje. ─ Foto de formatura, uhul! Formatura, uhul! Qual é, crianças? Ânimo! Meus dois filhos mais velhos vão se formar e estão aí com essas caras de quem comeram e não gostaram.
─ Estamos com cara de quem está sendo torturado, Marco.─ falei. ─ Está muito quente aqui dentro.
Ele riu do meu drama e continuou tirando fotos enquanto esperávamos Kia e Lia terminarem de se arrumar e minha mãe finalizar uma ligação na cozinha. Mais um dia comum na nossa casa.
Tirando o fato de que hoje era a nossa formatura.
Acho que hoje não é um dia tão comum na nossa casa assim, afinal de contas.
O momento mais aguardado daquele ano finalmente havia chegado e eu simplesmente não sabia como agir. Eu estava feliz e animada, é claro que eu estava, mas tinha aquela coisa no meu peito... Aquela coisa pinicando e pesando e que não me deixava ficar pulando de um lado para o outro. Ou sorrindo para as fotos que Marco tirava ou respondendo as mensagens animadas de Bruna.
Talvez fosse ─ eu sabia no fundo que era ─ a consciência de que, depois de hoje, esse ciclo estaria finalizado oficialmente.
E me assustava demais pensar nisso.
Depois de hoje, eu não seria mais Maria Luísa Espíndola Alves, aluna do colégio Basso de Souza e uma das integrantes da equipe de natação do projeto. Eu seria apenas... Maria Luísa Espíndola Alves... A garota que tinha uma tartaruga de estimação e que passava mal no looping.
Depois de hoje, tudo mudaria.
E eu ainda não sabia se gostava tanto assim dessa mudança.
Minhas irmãs desceram dez minutos depois e minha mãe ainda continuava no telefone. Não seria a nossa família se nós já não estivéssemos quase atrasados para eventos importantes. E isso incluía até mesmo a nossa formatura hoje.
Marco disse alguma coisa parecida com "vão entrando no carro enquanto chamo a mãe de vocês" e, assim que abrimos a porta, nos deparamos com a figura alegre e saltitante de Augusto Marques atravessando o nosso jardim. Por que Augusto estava usando um capelo diferente dos nossos não era a pergunta certa naquele momento, mas o motivo de Augusto estar no nosso jardim quando ele já deveria estar a horas no Basso ─ ele é o orador!─, essa sim era a grande pergunta em questão.
─ Augusto... Você não deveria, sabe, já estar no colégio?
─ Meus pais me largaram aqui porque achei mais divertido chegar no carro lotado de vocês. ─ ele apontou para o carro que estava parado na frente da nossa casa e eu logo reconheci seus pais lá dentro. Acenei para tia Magnólia e tio Hugo e eles acenaram de volta.─ Tchau, mãe! Tchau, pai! A gente se vê daqui a pouco! Vou ser o cara mais lindo de toga no meio daquela gente toda.
VOCÊ ESTÁ LENDO
5inco | ✓
Подростковая литература(Sobre Amores e Amizades, #1) Quando o último ano do ensino médio começou, Maria Luísa Alves teve certeza que nada mais poderia a surpreender: entre se dedicar aos estudos e a equipe de natação, se dividir entre seus amigos e família, nada mais deve...