42: 5inco

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"É hora de dar tchau. ── Maria Luísa."

É difícil fazer a sua e tentar colocar nela tudo que vai precisar para começar uma nova fase da sua vida em outro lugar, sem sua família e sem seus amigos.

É difícil fechar essa mala.

É difícil sentar com meus cachorros, gato e tartaruga e me despedir deles.

É difícil olhar para o meu quarto e saber que ele não vai ser mais o meu quarto por algum tempo. Que aquele cantinho, que sempre foi o meu refúgio, vai ficar esperando pela minha volta e que ela vai demorar para acontecer.

É difícil sentar na mesa com a minha família, almoçar e saber que aquele vai ser o último almoço que vou ter com eles por algum tempo.

É difícil, sim, é muito difícil, me privar de viver tantos momentos com eles porque tomei a decisão de ir para outro estado e cursar o curso dos meus sonhos, mas, ao mesmo tempo que tudo isso pode ser difícil e até mesmo sacrificante, é gratificante. Porque não estou fazendo isso só por mim; é por eles também.

É difícil me despedir do meu irmão mais novo logo agora que o conheci, mas é um momento feliz o ver em pé, sem nenhuma tubulação, sem nenhum hospital. É Cícero ali, saudável, feliz e sorrindo para mim. Palavras nunca vão conseguir expressar o sentimento que sempre me atinge em cheio toda a vez que vejo Cícero sorrindo, vivendo um dia após o outro e se recuperando de tudo o que passou. Então dizer tchau para ele por algum tempo era talvez o tchau mais difícil, mas eu sabia que ele teria nossos irmãos e a família dele por perto.

Não é difícil me despedir de alguém que deveria ser o meu pai. É apenas um momento impessoal onde ele diz que deseja toda sorte do mundo para mim e, então, sem mais nada a ser dito entre nós, eu apenas abraço o meu irmão uma última vez e volto correndo para o carro dos meus pais. Sem abraço, sem beijos, sem apertos de mãos, sem nada.

É muito difícil me despedir de todas as minhas tias e tios emprestados. Tem muito choro, muito abraço e mil recomendações que eu escuto porque sei que em todo aquele cuidado e zelo, existe apenas um sentimento escondido por trás de tudo: o de amor. Eu chorei muito com eles e acho que meu estoque de lágrimas acabou...

Até que eu cheguei no aeroporto e encontrei com todos os seus amigos, esperando por mim para a tão esperada hora de despedida. Começo a chorar antes mesmo de sair do carro, antes mesmo de alcançar qualquer um deles e então descubro que não, o meu estoque de lágrimas ainda não acabou e ele parece longe de acabar naquele dia.

O dia da despedida oficial.

O dia que achei que iria demorar muito para chegar, mas que, na verdade, chegou tão rápido quanto um piscar de olhos. Em um dia, eu estava simplesmente indo com a minha mãe para Porto Alegre, entregar os documentos na faculdade, ajustando todos os detalhes para minha estadia e depois voltei para casa, com um tempo limite para ficar, mas achando que esse tempo poderia ser quase eterno. Mas o momento não é eterno. Ele é, na verdade, muito efêmero.

Então, em uma manhã, eu simplesmente abri os olhos e a realidade me atingiu. O dia havia chegado. Estava na hora de colocar as últimas coisas nas malas, certificar que tudo estava certo e... Ir. Simplesmente ir, mas não facilmente ir. Nunca é fácil ir.

Não é uma despedida eterna, eu sei, mas não é como se eu pudesse ir embora e simplesmente não dizer tchau para ninguém. Nunca faria alguma coisa como aquela. Dizer tchau é difícil. Talvez uma das coisas mais difíceis que eu já tenha feito na vida, inclusive.

Dizer tchau para Pedro Ferreira é fácil, de certa forma, mas é porque não existe qualquer coisa difícil com Pedro. É tudo engraçado e sempre vai ser assim. Então, quando eu digo tchau para ele e o abraço apertado, a única coisa que ganho como resposta verbal é um:

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