Jocelyn Strowf

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Mirelly

-Quem é você? - a menina pergunta.

-Você está bem?

-Sim. - ela não parecia querer conversar.

-O que aconteceu?

-Nada. - ela se levanta e volta a dançar.

-Não. Pare de dançar, você acabou de cair.

-Você não manda em mim.

-Para, você está tão pálida.

-Por quê está fingindo se preocupar?

-Eu estou preocupada. Você acabou de cair. Eu só quero saber o que houve.

-Estou sem comer o dia todo. É isso. Minha pressão só deve ter caído.

-Então vamos comer comigo.

-Eu nem conheço você.

-Meu nome é Mirelly.

-Eu sou Angely.

-Eu sei.

-Como você sabe?

-Eu ouvi a vaca velha falar.

-Vaca velha? - ela ri.

-E ai, aceita comer ou não?

-Eu não trago dinheiro para o Teatro.

-Tudo bem eu pago, eu só não posso pagar um dos restaurantes caros que você está acostumada, mas podemos comer X-Salada.

-X-Salada? O que é isso?

-Você nunca comeu X-Salada? - ela balança a cabeça negando. -Até quando eu era rica eu comia X-Salada. Vamos?

-Como vamos sair sem sermos vistas?

Sorriu maliciosa para ela.

-Como acha que eu entrei aqui?

Passamos escondidas por uma porta de baixo do palco.

-Agora corra. - eu falo e ela tenta correr. Paramos no fim do quarteirão. Ela respira ofegante. E depois cai na risada. -Faz quanto tempo que você não corre?

-Eu nunca corri.

-Nunca correu? Como faz para pegar o ônibus?

-Que ônibus?

-A ta, intendi. - sorrio. -Vamos?

-Vamos. Onde vamos?

-Tem uma lanchonete boa aqui perto.

Caminhamos até a lanchonete e eu pedi dois X-Saladas, e sentamos na mesa.

-Me conta mais sobre você.

-Bom, Mirelly Strowf. Faço faculdade de administração. Alguns anos atrás meus pais morreram, eu era milionaria, mas eles deviam muito, e o dinheiro foi para pagar as contas. E só sobrou o dinheiro para mim terminar a faculdade. Estou procurando um emprego. Fui expulsa hoje do apartamento que eu estava e eu não faço a menor ideia de onde eu vou dormir essa noite. Acho que vou passar a noite em clara.

-Nossa. Sinto muito, deve ser horrível dormir sozinha, longe de casa.

-Você nunca passou a noite fora?

-Não.

-É ruim, mas eu vou ir em algum bar e beber muito. Nem vou ver a noite passar.

-Quer passar uns dias na minha casa? Até você arrumar um emprego?

-Sério?

-Sim, mas vamos ter que mentir para o meu pai.

-Que tipo de mentira?

-Eu posso dizer que você é a nova bailarina da cidade. Nosso corpo não é diferente. Você pode vestir uma das minhas roupas do balé.

-Obrigada. É a melhor coisa que alguém ja fez por mim desde que meus pais morreram.

Ela sorri.

-Vamos voltar para o Teatro.

Voltamos sem sermos percebidas. Ouvimos um barulho e Angely subiu no palco e fingiu estar ensaiando a eu me escondi, era a Vaca Velha.

-Ainda? Termina logo e vai embora. Eu ja vou também.

-Sim senhora. - fala Angely de cabeça baixa.

A Vaca Velha sai e Angely corre até mim e me puxa até o toalete. Me entrega uma roupa e eu visto com a ajuda dela.

Me olho no espelho, e fico hipnotizada. Estou linda. Uma lágrima cai do meu olho, era como se eu estivesse vendo minha mãe na minha frente. Enxugo minhas lágrimas quando lembro que não estou sozinha.

-Tá bem Mirelly?

-Minha mãe também era bailarina, eu estou a cara dela.

-Quem era sua mãe?

-Jocelyn Strowf.

-Eu não acredito que você é filha de Jocelyn? Ela é a melhor dançarina da França. Bom, era.

-Eu não via ela como a melhor dançarina da França. Eu via ela como a melhor mãe do mundo.

-Sinto muito. Mas por quem é sua mãe, você deve ser uma ótima dançarina.

-Eu fui uma adolescente muito rebeldi. Eu era revoltada pois meus pais sempre viajaram muito e eu ficava louca. Eu não queria dançar que nem ela, eu queria beber, fumar, ir para festas e namorar. No meu aniversário de 15 anos eles não foram, bancaram o maior salão, buffet, decoração, tudo. Mas eles não foram, nesse dia eu fiquei muito revoltada. Então eu liguei para os meus amigos barra pesada. Logo já estava tudo dividido, de um lado os amigos e família da alta sociedade, e meus amigos pobres, "mortos de fome". Meus amigos ricos foram embora cedo com medo de serem roubados. E quando foi quase todo mundo, começou a rolar uma suruba, eu não queria que chegasse a esse ponto. Mandei eles embora, mas eles estavam chapados. Me levaram para o banheiro, eram cinco homens grandes que eu nunca tinha visto, eu tentei lutar, mas eles me estupraram. Eu ainda era virgem. Não contei isso para eles, minha mãe morreu achando que eu tinha dado para eles porque eu queria. - eu não sei porque eu estava contando tudo isso para ela, mas gostei de Angely, ela me passava confiança. -Uma semana antes deles morrerem no acidente de avião, eu estava com um precentimento ruim, então eu liguei para eles e pedi desculpas pela filha que eu era, disse vários eu te amo. Que eu terminaria a faculdade de administração que meu pai tanto queria e iria assumir a Impresa dela. Por isso ainda faço a faculdade.

-Nossa, não sei o que dizer.

-Não precisa dizer. Eu me arrependo muito. Se eu pudesse voltar no tempo eu seria a melhor filha, falaria todos os idiomas que ela quisesse, e dançaria.

-Nunca é tarde, se quiser posso te ajudar. Agora vamos esperar meu pai lá fora.

Saímos la para fora.

-E você Angely, me fala mais sobre você.

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AnaMedrade

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