Mirelly
-Quando eu era criança, eu sonhava em ser cardiologista. - falei para Marcelo, acabando com o silêncio.
-É? E por que desistiu?
-Desistir? Eu não sei se eu desisti, só dei prioridade a outras coisas.
-A que outras coisas?
-Não sei. Me revoltar com os meus pais, eu acho. Eu era uma criança muito rebeldi.
Ele me olha curioso.
-E por que depois de adulta, não tenta?
-Meu pai sempre sonhou que eu fizesse administração...
-Você não pode fazer uma faculdade que não gosta, só porque seu pai quer.
-De todo jeito, eu não tenho mais idade para mudar de carreira.
-E aquele papo de "nunca é tarde demais"?
-Sabe Marcelo, eu queria muito ser cardiologista, mas agora, eu quero comprar a empresa do meu pai, e esse é o meu único foco, depois eu vou pensar nisso.
-Só toma cuidado, quando decidir, aí pode ser tarde demais.
-Nunca é tarde demais. - sorrio para ele.
Chegamos no hospital, ele estaciona na garagem e eu entro logo atrás dele.
-Bom dia, Sr Blane. - um homem de jaleco comprimenta.
-Bom dia, Marcelo. - uma senhora fala.
-Bom dia, doutor. - uma garotinha que deduzo ser uma paciente com câncer.
Ele para e fala com ela.
-Oi Sofia.
-Oi.
-Sofia, essa é minha nova secretária Mirelly.
-Oi Mirelly.
-Oi meu anjo. - me ajoelho para ficar na sua altura e acaricio seu rosto. -Você é linda.
Ela sorri para mim e uma lágrima cai do meu rosto.
-Até mais Sofia.
-Tchau doutor.
Ele chama o elevador, entramos.
-Se acostume, é difícil a rotina. Aqui você encontra gente com câncer, aids, DST, mal de parkinson, depressão, acalasia, tudo.
Olhei para ele, isso seria um problema no começo, mas eu gosto disso, conviver com gente de verdade.
Ele me mostrou onde seria a minha sala, era bem grande e espaçosa, era do lado da dele e tinha uma porta de conexão com a dele, me mostrou também o que eu deveria fazer.
Passei a manhã anotando compromissos e agendando consultas, faltando uma hora para o fim do meu expediente, eu não tinha mais nada para fazer então resolvi sair da sala e explorar o hospital.
Desci um andar de escada e li uma placa: "Ala Medica".
Eram onde ficavam os pacientes internados. Comecei a andar pelos corredores até ver uma porta entreaberta, e não contive minha curiosidade. Havia uma menininha branquinha e loira, parecia ter uns 6 anos, e em pé um homem alto e até bonito, não tão bonito como Marcelo, usando um jaleco, segurando um cachorrinho. A menina parecia se divertia pela presença do cachorro.
Por um instito louco, entrei no quarto o homem de assustou.
-Senhora, eu posso explicar.
-Por quê está me chamando de senhora? Temos a mesma idade. E explicar o que?
-Você não é a nova secretaria do Sr Marcelo? - afirmei com a cabeça. -Por favor, não conte a ele que eu trouxe um animal para dentro do hospital.
-O Sr Marcelo não é nem um monstro, eu acho que ele não se importaria.
-Não sei qual seria sua reação, mas por favor, não diga nada. Ele é o cachorro da minha filhinha, é só ele que traz alegria para ela. Não sei o que seria de mim se ele proibisse a entrada dele aqui.
-Fica tranquilo, eu não vou falar. O que sua filha tem?
-Hemofilia.
-Sinto muito. Você trabalha aqui?
-Sou veterinário.
-E como entrou aqui com um cachorro?
-Disfarçado, fui confundido com um enfermeiro.
-Tá. Então eu já vou indo.
-Obrigado?
-Mirelly.
-Prazer, sou o Dr Ian, o veterinário.
Sorrio e saio do quarto, subo de novo as escadas dando de cara com Marcelo.
-Onde você estava?
-Desculpa, fui conhecer o hospital. Não tinha mais nada para fazer - abaixei a cabeça.
-Eu não estou brigando com você. Vamos ir embora?
-Ainda falta meia hora para meu expediente acabar.
-Esqueceu que eu que sou chefe? - sorrio
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AnaMedrade
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Intended
RomanceVocê acredita em destino? Se fosse tempos atrás eu seria arrogante e diria " Aff claro que não! Ser humano só inventou isso para ter a ilusão de que algum dia irá ser feliz" Só que minha opinião mudou completamente depois de ser vítima de um destino...