Marcelo Blane

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Mirelly

Desci até a cozinha, me perdendo algumas vezes em algum cômodo. Até que eu não fiquei brava em cozinhar para o pai de Angely. Sem contar que ele é muito bonito, eu também adoro cozinhar, era a única coisa que eu fazia com meu pai. Ele insistia que cozinhar era coisa de mulher, mas ele adorava cozinhar. E cozinhava muito bem. Quando eu era pequena em todo aniversário de minha mãe cozinhavamos para ela. E ela adorava.

-Senhor Marcelo. - falei o comprimentando.

-Senhor, por favor não. Não sou tão velho assim. Deve ser só 10 anos de diferença.

-Quantos anos você tem? - pergunto.

-32.

-7 anos.

-Viu, não é muito.

Sorriu.

-Eu não sei fazer torta, que tal pizza?

-Eu não estou acostumado com pizza, mas é uma boa ideia!

-Tem massa aqui?

-Ali. - ele apontou para o grande armário dourado. Peguei a massa e ele abriu a geladeira. -Do que mais precisa?

-Tomate, - ele ia pegando tudo e colocando no balcão de mármore. -cebola. Orégano. De que sabor você quer?

-Fica a sua preferência.

-Vou fazer de 3 sabores, tudo bem? Tem molho catupiry? - ele pegou o molho e pôs junto com os outros ingredientes. -Calabresa e 4 queijos.

-Sim. - ele se sentou e ficou me olhando rechear a massa. -Então, você veio de onde?

Merda. De onde eu vim? Pensa, pensa. Fica difícil pensar com um gato desse olhando para mim. Que peitoral. Se concentra Mel.

-Da França, eu vim da França.

-E veio para cá só por causa do Teatro?

-Não, me mudei. Vou procurar um emprego, e vou mudar para cá. Aí eu prometo que saio daqui.

-Que isso, pode ficar. Mas e seus pais?

-Eles morreram.

-Nossa sinto muito.

-Não sinta.

-Você quer trabalhar com o que?

-Eu faço faculdade de administração, quero arrumar um trabalho como secretária. E um dia poder comprar a empresa do meu pai, que infelizmente teve que ser vendida.

-Vendida, por que?

-Prefiro não falar.

-Ok. E qual era a empresa do seu pai?

-Construtora Strowf Inc.

Ele por um momento ficou pensativo.

-Strowf? Você é filha do Guz Strowf?

-Conheci meu pai?

-Não. - ele ficou sério, parecia estar mentindo. -Só pela tevê. E em festas sociais em que ele também estava.

-A sim.

-Seu pai foi um homem muito importante.

-Mas para mim ele foi ainda mais.

-Você é a cara da Jocelyn.

-Conheceu minha mãe?

-Quem não conhecia Jocelyn? Ela e a mãe da Angely já haviam se apresentado juntas. Foi a melhor apresentação que eu já vi. As duas pareciam voar, eram o destaque do espetáculo.

Coloquei a pizza para assar e me sentei na sua frente.

-Tenho saudades da minha mãe.

-O palco tem saudades da sua mãe. Da sua mãe e da mãe de Angely. - o olhar dele foi tomado por um vazio.

-Desculpa, você também teve uma grande perca.

-Sim, ela foi a única mulher que eu amei. E eu acho que será a ultima.

-Não diga isso, sua filha me falou uma coisa mais cedo, nunca é tarde demais.

-É o que minha mulher sempre dizia, nunca é tarde demais.

Mordo os lábios e ele fica pensativo.

-Eu tenho uma coisa, eu acho que você iria gostar de ver. Espera aí, vou buscar.

O que ele teria? O que aquele homem que eu conheci hoje teria que me interessava? Além do sorriso, dos olhos azuis e o conjunto peitoral, abdômen, panturrilha, bíceps, tríceps, e tudo que tenha "íceps"?

Ele voltou trazendo um álbum de fotos com a aparência de antiga, abriu e pegou quatro fotos e me entregou.

-A mãe de Angely guardava isso, era muito especial. Ela costuma guardar as fotos de todas apresentações dela aqui. - apontou para o álbum.

Na primeira foto vi uma mulher de cabelo escuro e pele clara muito parecida com Angely com um sorriso de orelha a orelha, do seu lado a minha mãe, ela fazia uma careta, mas parecia feliz, a foto era em Preto e branco, mas eu podia ver seu cabelo louro amarrado em um coque. Minha mãe tinha o cabelo mais lindo que eu ja vi, a raiz lisa mas todo cacheado, com um louro muito claro. Mas, antes dela morrer ela resolver mudar, então pintou seu cabelo de vermelho, cortou e alisou, estava linda mesmo assim. Uma lágrima cai no meu rosto.

Olhei a foto seguinte, minha mãe fazia um passo de balé e seu sorriso era contagiante, ao seu lado a mãe de Angely fazendo o mesmo passo com o mesmo sorriso. Atrás delas vi um rosto conhecido, era Molly, a melhor amiga da minha mãe.

Na terceira foto pude ver o elenco todo da peça em uma foto ensaiada. Vi Jake, o marido de Molly, Molly, Rian, o irmão da minha mãe que morreu junto com ela, minha mãe, um rapaz que eu não sabia quem era, a mãe de Angely, Suzan, uma bailarina muito famosa e outro rapaz desconhecido.

Na última foto parecia ter sido tirada no camarim, estava a minha mãe e a mãe de Angely rindo, e atrás havia gente se maqueando e ensaiando.

-Será que você pode me dar uma cópia dessas fotos?

-Claro, vou pedir para os empregados provindeciarem.

-Obrigada.

-De nada.

Fui olhar a pizza que já estava pronta, com uma luva de cozinha, tirei a forma da pizza do forno e o servi, depois me servi. Ele pegou uma taça para mim e outra para ele e abriu uma garrafa de vinho e nos serviu.

-Esse vinho é mais velho do que eu. - comentou.

-Você não é tão velho.

-Esse vinho tem 115 anos.

-Caramba. - ele me olha assustado pela palavra. -Desculpa.

-Tudo bem, e outra, você é maior de idade e caramba não é palavrão.

-Agora experimenta a pizza.

Ele cortou um pedaço e pôs na boca.

-Muito bom. Cadê a Angely? Não sabe o que está perdendo.

-Ela parecia... estranha.

-Eu também reparei nisto. Mas mudando de assunto, você quer ser minha secretaria pessoal?

-É sério? Sério mesmo?

-Claro.

-Eu quero sim, quero muito.

-Tudo bem, monte um currículo e mande no meu e-mail.

-Tudo bem. Obrigada. Não vai se arrepender.

-Eu sei que não.

*****

Na mídia, a foto do Marcelo, é igual a ele porém com olhos azuis.***

AnaMedrade

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