25 - LOVE, SEX, MARRIAGE

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 Deus sabe o quanto eu queria gritar. Deus sabe o quanto eu queria fugir. Só Deus sabe quanta raiva eu tinha dentro de mim. E era só com Deus que eu podia conversar.

Nos dias que se seguiram, eu me sentia cada vez mais sufocada pela presença de Ian. Parecia um lembrete constante de que minha mãe estava me observando. Ainda assim, eu o deixei me seguir. Deixei que ele me ajudasse e lhe dei muito trabalho para fazer. Pelo menos, ele dava conta do recado. E, no meio tempo, eu fingia não ver que ele ligava para minha mãe às escondidas e lhe fazia um relatório sobre meu comportamento.

Ele tentou se aproximar de mim várias vezes, mas não o deixei chegar perto. Nossas únicas conversas eram sobre o casamento. Quanto mais tempo se passava e mais perto ficava o casamento, menos nós conversávamos. Ele já sabia o que fazer e, às vezes, me deixava completamente sozinha. Quando voltava, sempre confirmava com as pessoas nas minhas reuniões se eu não havia escapulido por um tempo.

Eu podia ser tudo, menos irresponsável. Se aquele era o meu trabalho, eu ia fazê-lo sem distrações. Ainda mais agora que eu não podia colocar tudo a perder. Ainda mais agora que eu podia acabar na rua da amargura, sem casa, sem trabalho e sem dignidade.

Ian me acompanhava até em casa todas as noites. Como nós sempre voltávamos bem tarde e ele percebia que eu estava cansada demais para sair de novo, ele ia embora contente. A verdade é que eu sempre me fazia de cansada perto dele. Se ele me visse animada ou atenta, provavelmente iria querer dormir na minha casa só pra ficar de olho em mim.

Faltavam quatro dias para o casamento e a rotina estava acontecendo de novo. Nós estávamos com quase todo o trabalho pronto, coordenando tudo. O mais importante seria no dia, que eu teria que organizar tudo da maneira correta pra não deixar nada dar errado.

Ian estava caminhando comigo pelo meu corredor e ele falava sobre o que tinha deixado pronto, entusiasmado. Eu não estava nem ouvindo. Apenas assentia a cabeça e desviava o olhar, para ele não perceber que eu não dava a mínima para o que ele dizia.

– Enfim, foi muito bom nós termos adiantado tudo isso hoje. Tenho certeza que o casamento vai ficar lindo, mesmo com os problemas que surgiram – ele disse, dando de ombros.

– Sim, sim, claro – respondi, sem nem saber do que ele estava falando – Boa noite, Ian.

– Eu posso entrar para tomar um café ou um chá? – ele perguntou, apontando a porta.

– Não – respondi, solenemente – Boa noite, até amanhã.

Ian pareceu chocado, mas simplesmente andou até o elevador, que ainda estava no meu andar, e desapareceu de vista. Tirei minha chave da bolsa e coloquei-a na fechadura. Ao invés de girar duas vezes para destrancar a porta, a chave emperrou. Franzi as sobrancelhas. A única vez que aquilo acontecia era quando a porta já estava aberta.

Girei a maçaneta e a porta se abriu. Meu coração acelerou.

Entrei com cuidado em casa, imaginando quem poderia estar lá. Não havia mais ninguém que tinha a chave, porque eu não morava com alguém há mais de um ano. Ninguém poderia ter a chave. Nem mesmo o síndico ou o zelador do prédio. E, de qualquer maneira, não havia sinais de arrombamento. Como um estranho poderia ter entrado? A não ser que...

As luzes se acenderam e eu olhei para trás.

– Eu estava esperando você – disse Aaron.

– O que você está fazendo aqui? Como entrou? – perguntei, tirando minha chave da fechadura e fechando a porta com violência.

– Você se esqueceu de trocar a fechadura quando eu fui embora – ele murmurou.

Meu ex-namorado se encontrava na minha frente. Quer dizer, meu ex-noivo. O mesmo que havia me chifrado com a vizinha gostosa do sétimo andar, Katrina. O mesmo que me enganou por seis meses. O mesmo que quebrou meu coração. E agora ele estava ali, na minha frente. Como se nada houvesse acontecido, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

LOVE, SEX, MARRIAGEOnde histórias criam vida. Descubra agora