capitulo 9

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É um absurdo me sentir culpada. Era como se estivesse traindo meu marido, nossa antiga relação. Estamos há seis meses separados e é a primeira vez que beijo alguém. Acho que eu preciso de mais tempo pra me livrar destes sentimentos de culpa.

Levantei do sofá deixando Ricardo sozinho. Fui pra cozinha a pretexto de tomar água.

Ele continuou deitado olhando para o teto. Depois se sentou, pegou o controle remoto e assistiu tv. Ficou trocando de canal.

Comecei a cozinhar. Havia um frango na geladeira, temperei-o e coloquei no forno. Fiz arroz e salada como acompanhamento do prato principal.

Anunciei que a comida estava pronta e Ricardo desligou a televisão. Ele veio a passos lentos.

Sentou-se à mesa e pegou pequenos pedaços de frango e uma colher de arroz. De fato não devia estar com fome.

Por cima da mesa, fez gesto de pegar na minha mão. Eu hesitei e ele percebeu que eu não queria acariciar a mão dele.

Olhei o rosto dele e ele tinha uma expressão de tristeza. Ele devia pensar que passadas algumas horas do nosso primeiro beijo eu o estava rejeitando. Não era minha intenção.

Ele não comeu muito. Nossa conversa foi esparsa. Resumiu-se em sim, nao, a comida está boa. Ele ficava me olhando de vez em quando como se estivesse tentando me entender.

Ele lavou a louça e eu ajudei a secá-la. Minutos depois disse que estava cansada e ele me desejou boa noite. Ficamos em silêncio em pé. Ele me abraçou e fui dormir.

Depois de escovar o dente e trocar de roupa, deitei mas não consegui dormir. Que relação complicada. Não sei se Ricardo quer um relacionamento ou só um caso. Ou se ele nutre algum sentimento por mim. Fico pensando o que ele vê em mim, uma mulher que não tem nada a oferecer. A juventude já passou, dinheiro não tenho e nem a mulher mais bela do mundo eu sou.

Decidi que conversaria com ele na manhã seguinte.

Continuei tentando dormir. O sono não veio. Olhei o relógio. Ainda eram 9 horas da noite. Vou tentar conversar com Ricardo agora. Assim limpo logo todas as complicações.

Mas nós ainda nem estamos namorando e eu já vou conversar sobre o relacionamento. Parece ser um pouco maluco. Ah, não. Melhor deixar tudo se desenvolver ao acaso...

Eu não conseguia dormir. Maluquice ou não, eu vou lá conversar com ele. Levantei da cama, tentei arrrumar um pouco meu cabelo. Passei desodorante (o por quê disso não sei) e abri minha porta.

Andei pelo corredor vazio. Só uma pequena luz iluminava a casa. Com certeza Ricardo a deixava acessa caso alguém acordasse à noite e quisesse ir ao banheiro...

Bati na porta dele, pensando em como iniciar esta conversa maluca. Eu deveria ir ao ponto. "Ricardo, eu não sei o que eu quero da vida amorosa"... seria o meu melhor discurso no momento. Por isso esteja preparado pra momentos estranhos! estranhos.. Hmm. Isso mesmo. É isso que vou falar.

Ele abriu a porta. Estava sem camisa e uma bermuda de algum time de futebol que não conheço. Colocou um dos braços na porta, esperando que eu falasse.

- Eu queria conversar sobre nossa situação.

Ele abriu a porta e eu sentei na cama dele. Olhei em volta e ele sentou do meu lado. O computador estava ligado. Com certeza devia estar trabalhando ainda. Ia começar meu discurso quando olhei de novo atela do computador. Ele levantou pra desligá-lo.

Levantei também antes de ele conseguir desligá-lo.

-Não. Deixa eu ver.

- Conceição, isso é coisa privada.

Ele procurou o comando de desligar, mas antes que pudesse fazer isso tomei o mouse da mão dele. Cliquei na pasta de fotos. Várias fotos minhas tiradas não sei onde e nem em qual dia.

Ele ficou vermelho de vergonha, percebi. E eu vermelha de raiva. Como é que alguém faz um catálogo de fotos de mim organizado por mês? Devolvi o mouse pra ele e ele desligou o computador.

Sentamos de novo. Desta vez sentei bem longe da cama na cadeira perto ao conputador. Cruzei as pernas, pensando mo que falar:

- Desde quando você tem estas fotos?
- Podemos falar de outra coisa...- ele virou o rosto frustrado. Ficou olhando as mãos. Estava tímido e não sabia o que fazer.

- Não. O que você faz com estas fotos? - perguntei como se fosse agente de polícia. Podia ser que ele fizesse montagem e me colocasse na internet nua. Que nojo.

- Fico olhando.

Não acreditei muito na resposta dele, mas continuei na minha inquisição:
- Como você conseguiu tirar estas fotos?
- No celular.

- Ricardo, este comportamento seu é estranho demais...

Ele baixou a cabeça, suspirou e enfrentou meu olhar de novo.
-Quem nunca fez algo estranho na vida que atire a primeira pedra.

- Mas isto já está beirando a loucura.

Ele riu do meu diagnóstico do estado mental dele por alguns minutos. Como se eu tivesse feito uma piada quando, na verdade, eu estava realmente preocupada com ele.

- Só são fotos.

- Quero que você as apague as fotos.

Ele balançou a cabeça e antes que eu pudesse protestar perguntou:

- O que você queria falar mesmo quando bateu na minha porta?

Tomei toda a coragem possível e falei com uma voz severa:

-Ricardo, como posso falar isso? Eu não quero iniciar nenhum romance agora...Eu tenho que primeiro me reerguer da relação passada. Foi muito sofrimento.

Ele deitou na cama frustrado. Ficou pensativo e eu já iria embora do quarto dele. Meu discurso já estsva encerrado embora não tenhasido exatamente o que eu queria dizer.

Ele então falou:
- Mais uma rejeição. Ninguém me quer. Qual será meu problema...

Ele se sentou de novo e eu vi que estava triste. Eu sentei do lado dele e o confortei:

- O problema não é você. Sou eu.

Ele segurou minha mão e sorriu:
- Eu ouvi estas frases tantas vezes.

Eu me perguntei quantas vezes ele sobreviveu a uma derrota no amor. Quantas rejeições foram essas. Não conseguia acreditar nesta situação. Ele é um rapaz de beleza média. É magro com algum músculo nos braços. Seus olhos sao sempre radiante e só agora vi um certo pessimismo nele.

Seu caráter é bom. Ele trabalha bastante. Nunca o vi tomar drogas, bêbado ou ser cruel com alguém. A mim tem ajudado bastante. Eu diria que, com estas características, seria fácil encontrar uma namorada.

Eu tenho a certeza que ele será feliz, que ele vai encontrar alguém menos conplicado. Eu queria falar tudo isso pra ele mas me faltacam as palavras.

Ele ainda estava segurando minha mão e a beijou avidamente. Senti um prazer tremendo quando ele fez isso. Ele me olhou novamente com ardor. Eu segurei o seu rosto e o beijei nos lábios.

O beijo começou lento e ele enroscou suas mãos nos meus cabelos. Ele me puxou pra cima da cama, deitando em cima de mim. Comecei a morder os lábios dele. Ele acariciava minha barriga. A paixão carnal tomando conta de nós. Até que ele parou de me beijar. Rolou pro outro lado da cama e disse:

- Você está me confundindo assim. Eu não te entendo mais.

- Nem eu sei o que quero mais....

Levantei e fui pra porta quando ouvi ele falar:
- Conceição, a mulher misteriosa.

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