A separação

Capítulo 4

Eu respondi imediatamente:

- Sim, tenho tempo sim. Não vai ser incômodo?

Ricardo balançou a cabeça veemente em resposta:

- Não nenhum! Só vou comprar uma besteira para o jantar e a gente pode ir para a minha casa.

Acompanhei Ricardo no supermercado. Eu me senti mal de interrompê-lo assim do nada na sua rotina diária. Mas fazer o quê? Eu preciso deste tal programa e da senha!

Ricardo comprou pão, moçarela, tomate, pepino e salada. Pelo visto, ele gosta de se alimentar saudavelmente. Ah, não é à toa que é magro.

Saímos do supermercado e andamos tantas quadras até chegar à casa dele! Quase morrí. Hoje é certamente o dia da ginástica para mim.

Na garagem, à frente da casa dele, estava estacionado o carro dele. "Por que ele não faz compras de carro? Assim eu não teria que me matar andando!", pensei comigo. Eu estou sendo, na verdade, ingrata! Ele aqui me ajudando e eu pensando na minha perguiça!

A casa dele não era grande nem pequena. Era média. Entramos na sala, passando diretamente para a cozinha. Ricardo fez a sua salada com óleo de oliva e disse que eu poderia jantar com ele. Mas eu declinei. Minha tragédia está me deixando sem apetite.

- Está fazendo dieta? Que pena!

Fiquei intrigada com o comentário dele. Todo mundo sabe que eu sou gorda.

- Não é bem assim. Ultimamente estou sem apetite...- falei triste lembrando dos meus problemas maritais.

Ele parou de comer:

- EI, desculpe se eu toquei em algum assunto delicado. Eu estava tentando te elogiar. Eu acho melhor ter alguma carne no corpo do que ser magro como eu!

- Qual é? Seu corpo é perfeito!

Ele sorriu comendo mais um pouco de sua salada e eu me senti embaraçada pelo que disse. Eu disse que o corpo dele era perfeito! Faz tanto tempo que eu não tenho este tipo de conversa com homem nenhum! Eu nem sei mais como flertar! Desaprendi. Comecei a ficar nervosa e decidi não falar mais nada.

Ricardo terminou sua refeição me perguntando várias vezes se eu não queria comer algo. Depois de lavar os pratos, convidou-me para ir a uma sala onde havia estantes cheia de livros e folders. Havia um computador com uma tela imensa. Percebendo minha admiração, disse:

- Eu sou técnico de informática. Tenho que ter um computador grande para fazer trabalhos extras em casa. 

- Ah, com certeza!

Ele ligou o computador, sentando na cadeira à frente do computador. Ele disse que eu poderia sentar na cadeira ao lado dele. Mas eu preferi ficar em pé, tentando lembrar passo a passo o que eu deveria fazer. Desta vez vou conseguir. Tenho certeza. 

Eu estava concentrada. Não percebi que  estava me abaixando para olhar mais de perto a tela do computador. Meus seios cobriam parte da tela do computador. Ricardo começou a observar mais o contorno deles do que a Internet. Notei o que estava acontecendo e fiquei reta de novo. Ele sorriu olhando dentro dos meus olhos. Eu gelei e, pela primeira vez em vinte anos, esqueci que a minha vida girava em torno do meu marido... ex-marido. 

Mas a realidade caiu em cima de mim. Por que este rapaz de boa situação financeira e até que de boa aparência iria querer ficar comigo? Eu, uma mulher separada e com quilos a mais. 

Eu sorri triste para ele. Ele não entendeu por que de repente meu ar ficou tão assim de velório:

- Há algo de errado, Solange?- disse preocupado.

- Não. Obrigada pela ajuda. Tenho que ir. Está ficando tarde- disse andando em direção à porta do que poderia ser o escritório dele.

Ele levantou rápido da cadeira e me acompanhou até à porta da casa:

- Eu fiz algo de errado?

- Não.Você me ajudou bastante! Obrigada mais uma vez! - disse.

Virei-me, saindo para a porta. Ele bateu com as mãos nas minhas costas e disse que eu poderia contar com ele para o que precisasse.

Ao sair da casa dele, virei e notei que ele me olhava de longe. Dei um tchau com a mão e fui embora.

Chequei meu celular. Eu chegaria em casa às 21 horas e Marcelo nem se preocupa se eu chego tarde. Acho que se eu morrer ele só vai descobrir quando imprimirem o anúncio da minha morte no jornal! Depois de anos de casamento, a indiferença é o que resta.

Cheguei em casa e ele já roncava na cama. Como se nada tivesse acontecido. 

Liguei o computador, baixei o programa e descobri a senha dele no E-mail. A primeira coisa que notei era:

a) Muitas mensagens de site de paquera

b) Mensagens de uma tal de Angela....

Antes mesmo de ler o teor das mensagens, fiquei triste e lágrimas desciam dos meus olhos. Marcelo, seu mentiroso! Você me traiu, eu sei!