1 - Cinco Dias

323 21 74
                                    


Aquela noite estava gélida em Tyoka. A pequena família de três acabavam de jantar a sopa quente e reconfortante que o pai fizera com tanto capricho, e agora apenas apreciavam o calor que se espalhava por seus corpos.

-Você leva os pratos para a pia, Olida. Eu fiz a comida. – Disse Andros, e Olida, sua esposa, soltara um longo suspiro.

-Pode fazer isso pra mim, filha? – Ela perguntou, e a garota girou os olhos.

-Dyali... - Repreendeu o pai, e a menina assentiu, levantando-se.

-Ele pediu à senhora, não a mim. – Ela cochichou, e saiu, enquanto seus pais riam baixinho. A garota colocou os pratos na pia, e logo depois olhou pela janela da cozinha. Uma névoa cobria o planalto onde Tyoka ficava. O que era comum em algumas épocas do ano, mas não naquela.

-Filha, tá na hora de dormir. – A voz de Andros falou da sala, firme, e Dyali sabia que não havia discussão àquele ponto, embora ela ainda quisesse treinar um pouco mais sua dobra de fogo.

-Tá bem pai... - Ela falou, se dirigindo até o quarto. Olida se levantou e foi logo atrás dela.

-Eu sei que você ainda queria treinar, mas não é bom exagerar. Você ainda é muito nova. – Disse a mulher de cabelos escuros e longos e olhos verdes, com um rosto compreensivo.

-Não é tão pesado assim mãe. Eu já disse que eu não me canso tanto assim treinando. – Respondeu Dyali, emburrada. – E eu não sou muito nova, mãe. Eu tenho quase dezesseis anos, e a senhora sabe que eu sou muito boa dobrando.

-Eu sei disso, filha. E essa é uma das minhas preocupações. – Olida respondeu, dando um beijo na testa de sua filha.

-O que quer dizer, mãe? – Perguntou Dyali enquanto sua mãe deixava o quarto.

-Nada, querida. Boa noite. – Respondeu vagamente a mãe, fechando a porta. A menina cruzou os braços, emburrada, mas nada poderia fazer para desobedecer seus pais. Vencida, ela puxou a coberta sobre si e tentou dormir, como fazia todas as noites.

Mas aquela noite não seria igual às outras.

Explosões, gritos, sons de água, lufadas de vento, jatos de fogo e rochas se partindo ecoaram por aquele planalto àquela noite. Tyoka foi invadida, e não sobrou ninguém para testemunhar o que acontecera aquela noite de terror.

_-_-_

"Estou cega!", foi a primeira coisa que passou pela cabeça de Dyali quando ela acordou. Pouco tempo depois ela percebeu os fracos contornos da cama onde estava sentada, também havia uma mesa de cabeceira e algo na parede, como um tapete ou um bordado.

-Onde estou...? – A garota se perguntou, e acendeu uma chama em sua mão. Uma pequena chama, pouco maior que uma vela, coisa que ela aprendera a fazer ainda pequena. Ela foi até a parede onde ficava o bordado que carregava um símbolo azul e branco. Ela não sabia o que era exatamente, mas era de alguma forma familiar.

-A garota está acordada? – Disse uma voz no lado de fora da sala, e a garota apagou imediatamente sua chama, prestando atenção nas vozes.

-Não houve som nas últimas horas. Acredito que não. - Respondeu uma segunda voz, e o primeiro suspirou.

-Talvez seja melhor assim. Não sabemos o que aconteceu em Tyoka de todo jeito...

-Casa! – Exclamou a menina. Tyoka era o nome da vila onde vivia, e isso era uma das poucas coisas que lembrava, o que a assustou. Ela ouviu passos se afastarem da porta do quarto escuro que estava. Sem pensar muito, ela correu e empurrou a porta, caindo no chão ao passar com facilidade, pois não estava trancada.

Avatar - A Lenda dos TwulOnde histórias criam vida. Descubra agora