11 - Conto de Duas Flores

59 4 132
                                    

-Sabe, eu até gosto desse lugar... ainda mais dessa lua no céu. – Falou Tokka, que estava deitada nos bancos de pedra do abrigo da nação do ar. A luz da lua refletida na praia era realmente bela, e o vento que soprava as árvores tornava o clima bom. A cena era realmente perfeita.

Ou quase.

Várias pancadas frequentes não deixavam a garota permanecer tranquila por muito tempo. Estes sons vinham de um lugar ali perto, onde Tane desferia socos contra uma parede de pedra invocada por ele mesmo, um estilo básico de treinamento de dobradores de terra. Tokka colocou as mãos sobre os ouvidos, mas nem aquilo impediu o irritante som.

-Não pode treinar em outro lugar não, garoto?! – Ela reclamou, sentando-se de repente.

-Estava aqui primeiro. Se está lhe incomodando, tenho certeza que existem outras dezenas de bancos como esse em outro lugar. – Ele retrucou, sem nem mesmo olhar para ela. A garota trincou os dentes irritada, mas não levantou-se. Kiozan, que estava próximo também treinando, olhou de um para o outro, esperando que o colega fosse atacado pela dobradora de água.

-Eu entendo que vocês estejam se preparando para uma batalha, mas nem se quer dormiram durante esses três dias. – Tokka retrucou, cruzando os braços com um suspiro. – Estão parecendo a Ziah.

-Claro que dormimos, mas um dobrador precisa treinar todo dia se quiser ter alguma melhora, Tokka. Pelo menos sua amiga sabe disso melhor que você. – Kiozan respondeu, antes de dar algumas cambalhotas, como se esquivasse de projéteis invisíveis. Assim que o garoto parou de saltar, um jato de água atingiu em cheio seu rosto, ensopando sua camisa e seus cabelos, e quase o engasgando. – Pra que isso?!

-Por ser um pé no saco as vezes. – Retrucou a garota, mostrando-lhe a língua, enquanto o garoto tossia e engasgava.

-Para de rir, Tane! Eu estou vendo seu sorrisinho daqui! – Kiozan exclamou, mas o colega continuou a bater na rocha, sem parar. O dobrador de ar tirou o cabelo da frente dos olhos, e encarou a garota com irritação.

-Aliás, quando você vai raspar a sua cabeça? Achei que todos os dobradores de ar tivessem que fazer isso. – Perguntou Tokka, balançando as pernas como uma criança.

-Eu não vou. – Ele disse, sacudindo o cabelo com as mãos. – Não até que eu seja bom o suficiente para receber as tatuagens.

-Voa mais baixo, garoto, ou vai cair feio. – Devolveu Tokka, com certa maldade na voz, e uma risada desdenhosa. – Mas você devia considerar rapar. Garotos com cabelos curtos são mais bonitos.

Kiozan engasgou mais uma vez, dessa vez sem nenhuma relação com a água, e desviou o olhar. Tokka tentou esconder uma risada, o que só aumentou a vergonha do garoto. Depois de secar do jeito que podia os cabelos ele se sentou no chão, e encarou a menina de um jeito estranho.

-O quê? – Ela perguntou, levantando uma sobrancelha.

-A Ziah... Vocês nunca falaram sobre si mesmas. – Kiozan observou. – Quer dizer, a Ziah não é do tipo que fala, mas você claramente é diferente.

-O que quer dizer com "claramente"?! – Exigiu a garota, ligeiramente ofendida. Kiozan tentou não rir.

-Não muda de assunto, Tokka. Nós salvamos os pescoços uns dos outros lá trás. Custa muito você se abrir um pouco? – O garoto perguntou, e os sons dos socos de Tane pareceram diminuir um pouco, como se a atenção do garoto fosse desviada. Tokka, porém, ainda parecia um tanto receosa.

-Se é tão fácil assim, porque você não fala a sua própria história, Kiozan? – Ela retrucou, com uma hostilidade que o garoto conhecia bem. Era a mesma hostilidade de alguém acuado, e o dobrador de ar sentiu uma pontada de pena da garota, parecia ter passado por alguns momentos ruins.

Avatar - A Lenda dos TwulOnde histórias criam vida. Descubra agora