8 - Um pouco de ar

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-Aquele relâmpago... Você os matou. – Falou Dyali, encarando Ziah. E não era uma pergunta.

-Não sei.

-Não sabe?! – Retrucou a garota, e Ziah a olhou feio, com aqueles olhos tenebrosamente intensos.

-Não sei. Não me importo.

-Você é bem fria para uma dobradora de fogo. – Falou Kiozan, e a menina olhou para longe, inspirando profundamente.

-Eles me prenderam por dois dias em uma estaca, bloqueando meu chi de novo e de novo, sem água ou comida. – Ela respondeu, com a voz mais baixa, com uma raiva contida. – Eu não tinha a mínima obrigação de ser cuidadosa com eles.

Dyali sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Aquela garota era realmente forte e, assim como a própria Dyali, uma Twul. Será que ela se tornaria uma assassina fria como Ziah? Não queria que esse fosse seu destino.

-Por falar nisso, vocês não teriam nada pra beliscar, teriam? – Perguntou Tokka, encarando Dyali quase tão de perto que assustou a garota.

-Deve ter alguns frutos em uma sacola em algum lugar da sela. – Exclamou Kiozan. A menina avistou o saco no mesmo instante, tirando duas frutas alaranjadas, e jogando uma para Ziah, que agarrou sem nem mesmo olhar e começou a comer, ainda silenciosa.

-O que a Lótus Vermelha estava fazendo naquele lugar? – Ela perguntou, pra qualquer uma das duas que pudesse responder. Tokka deu de ombros, mas Ziah pôs-se a responder.

-Eu ouvi algumas coisas enquanto estava presa. – Disse, simplesmente. – Aqueles homens atacaram alguma cidade próxima daqui. Um vilarejo.

-Você saberia o nome? – Perguntou Dyali, encarando-a com firmeza. Ela deu de ombros, porém Tokka responder.

-Eu lembro. Não sabia que era sobre um ataque, mas eles comentavam algo com certa frequência sobre um vilarejo. – Disse a garota. – Eu só sei porque era parecido com o meu nome, me fez achar que falavam de mim. É Tyoka.

Dyali arregalou os olhos, e Kiozan a fitou da cabeça de Lefty. Seus punhos cerraram no mesmo instante. O suor que escorria pela sua nuca se tornou imediatamente frio, e ela engoliu seco de modo que mesmo as duas garotas perceberam. Contudo, apressou-se em disfarçar.

-S-Sabe o que eles queriam lá? – Perguntou a garota, tentando parecer normal. Tanto Ziah quanto Tokka balançaram as cabeças negativamente. Ela baixou os olhos, olhando para a sela enquanto viajava para muito longe.

Ela viu em sua mente o rosto dos seus pais mais uma vez, ambos sorrindo na porta de casa, esperando-a voltar para casa. Os momentos que passaram juntos, agora pendendo por uma linha muito tênue, muito frágil. Virou seu rosto para o lado de fora da sela, não queria que vissem sua expressão.

-Para onde está nos levando? – Perguntou Ziah para Kiozan, que virou-se de ombros.

-Eu não estou conduzindo o bisão. Ele está nos levando por si mesmo. – Respondeu o garoto, e a jovem pareceu ligeiramente preocupada.

-Não gosto muito disso... - Ela sussurrou, para ninguém mais ouvir.

Por algumas horas eles continuaram voando em silêncio. O sol começou a descer com o tempo, enquanto Lefty desviava pelo céu com rugidos ocasionais. Paisagens passaram sobre eles, enquanto a sensação de derrota passava sobre Dyali e Kiozan. Ter que deixar para trás o homem que os salvara em Omashu foi duro, e deixou um gosto amargo em suas bocas.

-O-onde estamos? – Disse a voz fraca de Tane depois de algumas horas, voltando a si. Kiozan e Dyali se adiantaram para ajudar o garoto a se sentar.

Avatar - A Lenda dos TwulOnde histórias criam vida. Descubra agora