Toda santa vez que eu olhava para aquelas duas faixas cor-de-rosa que haviam no teste de gravidez que eu havia guardado desde a visita na casa de Niall, acabava me lembrando que o aborto era permitido na Inglaterra, assim como em quase todo o território europeu.
Não éramos a China, que ainda mantinha a lei de um filho por casal, mas éramos historicamente condicionados a pensar no aborto como algo natural. E era. Eu realmente acreditava no direito de escolha que qualquer um poderia ter, contudo...
Contudo agora que aquilo estava acontecendo comigo e que eu sabia que poderia escolher entre a vida ou a morte de um filho meu... Um filho meu e de Harry... Subitamente tudo parecia tão cruel e complicado, que me fazia querer cair no choro toda santa vez que eu pensava que só tinha até o terceiro mês de gestação para tomar aquela decisão.
Eu não sabia ao certo de quanto tempo estava, mas deduzia que com um pouco mais de um mês e no máximo dois, por causa da data do início dos meus sintomas. Não que a internet fosse o meio de informações mais confiável do mundo, mas era o que eu poderia acessar naquele momento, sem levantar suspeitos e era nele que eu estava me baseando.
Lá eu havia encontrado as informações sobre o tempo máximo do aborto. Ele até poderia ser realizado depois do terceiro mês, mas nesse caso deixaria de ser um procedimento fácil, que poderia ser desencadeado apenas por alguns medicamentos, para se tornar algo que precisaria de curetagem e no qual a criança talvez já tivesse formato de criança... Deus, eu realmente não conseguiria passar por aquilo de forma alguma.
Se eu abortasse... Tudo seria mais fácil.
Não só para mim, mas também para o filho que talvez não tivesse pai, nem avós, porque eu não sabia como seria a reação de Harry ou dos meus genitores. A sociedade aceitaria melhor também. Eu ter engravidado sem querer e abortado aos dezesseis anos não era tão ruim quanto ter gestado e parido um bebê aos dezesseis anos, sabendo que eu teria dificuldades até mesmo para terminar o colegial, quem dirá ir para uma faculdade.
Só que... Eu carregaria aquele aborto comigo para o resto da minha vida.
Nunca me perdoaria.
E eu nem precisava ter abortado para saber disso.
Entretanto também era verdade que eu não conseguiria ser egoísta o suficiente para colocar um filho no mundo, sabendo que ele nasceria apenas para passar dificuldades. Eu precisava de apoio. Eu precisava de pelo menos uma pessoa que me esticasse a mão. Harry, minha mãe, meu pai... Qualquer um que tivesse ao menos suporte financeiro para me ajudar a mantê-lo.
Mas ao mesmo tempo eu não queria ter de admitir minha gestação para ninguém. Por isso eu ficava buscando por sinais. Tocava em assuntos próximos, rodeando as pessoas para entender quais seriam as prévias de suas reações, mesmo que até aquele momento eu não tivesse absolutamente nada concreto.
Principalmente de Harry, que parecia uma onda... Toda vez que eu tentava alcança-la, ela recuava e se eu insistia demais tinha que lidar com a força da quebra.
Falando no Styles, eu estava novamente na casa dele. Havia pego a chave com ele e ido para lá depois de saber que ele faria uma tatuagem no período da tarde. Estava carente, precisando desesperadamente que alguém me desse um pouco de afeto humano e ele nunca havia realmente negado aquilo. Harry nunca, em momento algum, negou sua companhia quando eu requisitei, mesmo quando ele estava ocupado, mal humorado, de ressaca ou trabalhando. Ele me dava a chave, me buscava no colégio e vez ou outra apenas pedia para que eu ficasse quietinho por um tempo enquanto ele resolvia o que quer que estivesse pendente.
Naquele tempo sozinho, acabei não me aguentando... Comecei a revirar (com cuidado para que não ficasse óbvio que eu havia revirado) o apartamento. Portas, gavetas, armários... Eu estava em pânico, buscando por detalhes, qualquer coisa que me indicasse quem fazia parte da família dele. O que tinha acontecido? Por quê ele nunca me falava deles?
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Antagonismo {l.s}
FanfictionHarry era preto no branco, era um pilar inabalável no meio do caos; era tintas, tatuagens e uma marca à ferro em minha pele. Ele era neve e o significado literal do bater das asas de uma borboleta numa teoria clichê. Ele era tudo, na parte mais ins...