#57 - NARRAÇÃO

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Michael acordou do que pareceu ser uma noite mal dormida. Sentia seu corpo completamente dolorido, assim como sua cabeça, que parecia uma bomba-relógio a ponto de explodir. Ele tentou levantar seu braço direito, mas percebeu que este estava engessado – encarando o lado bom, ele não faria os exercícios da escola durante algum tempo. Ele tentou se sentar, visto que estava estirado em uma cama de hospital, mas até mesmo sua bunda doía, então decidiu deixar para lá. Michael percebeu que sua cabeça estava enfaixada e balbuciou algo como:

"Meu cabelo... ai" sua voz saíra rouca, provavelmente pela falta de uso. Mas há quanto tempo ele estava naquele lugar?

Sua resposta – um comentário, na verdade – veio em uma voz extremamente grossa:

"Você acordou."

A princípio, Michael pensara que estava morto, pois aquela só podia ser a voz de Deus. Ao que o médico se aproximou e ele forçou seus olhos, percebeu estar diante de um anjo – ou talvez sua queda por loiros estivesse nublando sua mente.

"Eu morri?" questionou em um sussurro.

"Por sorte, não. Mas você quebrou o braço, como deve ter percebido e, principalmente, bateu muito forte com a cabeça. Se lembra do que aconteceu?" o médico questionou-o e Michael teve de se esforçar para pensar em algo. Infelizmente, aquilo só fez sua cabeça doer mais.

Ele negou.

Clifford percebera que, em seu crachá, o sobrenome Wayne poderia ser facilmente lido agora que sua visão já havia se normalizado. Ele se perguntou se aquilo era algum tipo de piada ou se o doutor era o Batman nas horas vagas.

"Você foi atropelado, há pouco mais de uma semana, perdeu bastante sangue também, mas sua mãe é compatível, então você está fora de perigo agora. Só precisamos nos preocupar com sua saúde mental. É normal que você fique confuso com algumas coisas e esqueça nomes de pessoas ou algo do tipo, ou pode ser pior. Só descobriremos com precisão agora que você está acordado."

Uma semana?, se perguntou.

"Certo" murmurou. "Acho que não esqueci nada importante."

"Você sabe em que mês nós estamos?"

"Uh... final de fevereiro? Talvez março?"

Wayne sorriu de canto, anotando algo em sua prancheta, que só então Michael reparara. Aquele sorriso era algo bom? Seria um "ótimo! A alta está a caminho" ou um "pobre garotinho"?

"Você sente dores?" Michael assentiu. "Onde?"

"Em todo corpo, mas principalmente na cabeça."

O médico deu a volta em sua cama, o fitando. Clifford desviou seu olhar, envergonhado pela aproximação repentina. Porém, Dr. Wayne apenas apertou o botão que fazia a cama se levantar, deixando Michael devidamente sentado e enfim podendo suspirar calmo e encarar... bem, as paredes brancas do quarto de hospital.

"Certo, Michael. Bom, seus pais estão trabalhando, eu acho, mas seus amigos estão aí. Eles tem nos causado boas dores de cabeça."

Michael definitivamente não queria falar sobre dores de cabeça.

"Eles podem entrar?" perguntou.

"Eles precisam entrar, na verdade. Vou chama-los."

E se virou, deixando o garoto sozinho naquele quarto irritantemente claro, perguntando-se se seu cabelo ainda estava inteiro e ponderando sobre o que rabiscar em seu braço engessado.

Então ele ouviu, aparentemente próximo à porta, vozes de garotos que ele não era capaz de identificar, dizendo coisas como:

"Eu vou primeiro!"

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