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#59 - NARRAÇÃO

"Luke?" Karen atendeu a porta com um ponto de interrogação pairando sobre sua cabeça. Ela bocejou, esfregando seus olhos. Luke definitivamente havia a despertado de uma bela noite de sono. "Não quero parecer mal educada, mas o que você faz aqui?"

Luke riu moderadamente. "Desculpa, eu sei que é cedo, mas é que eu queria conversar com a senhora e levar o Michael pra escola."

Uma semana após a saída de Clifford do hospital e, mesmo com o braço quebrado, ele resolveu que já estava na hora de ir para a escola, pois Luke finalmente havia se mudado para a casa de seus pais novamente e também para o mesmo colégio de Michael e seus amigos.

Karen pediu para o garoto entrar e, ainda sonolenta, a mais velha fechou a porta da casa, pedindo para que Luke fosse se sentar em algum lugar pela cozinha. Hemmings sentou-se em uma das cadeiras e Karen sentou-se a sua frente, encarando-o.

"Eu estou morrendo de sono, mas estou te ouvindo, querido. Diga."

Luke entrelaçou os dedos de suas próprias mãos, suspirando. "É que eu não contei pro Michael o motivo da gente ter se separado daquela vez, então se a senhora puder manter segredo..."

"Michael me falou que você não quis dizer a ele. Eu não vou contar, fique tranquilo. Eu entendo o que você está fazendo."

"Eu não quero perder ele de novo."

Karen sorriu. "A forma como você gosta dele é muito bonita. Ele também gosta muito de você, Luke, só eu sei o quanto ele ficou mal depois que vocês pararam de se ver."

Luke baixou a cabeça. "Foi tudo culpa minha, eu escondi dele uma coisa que eu poderia ter sido sincero desde o começo. Eu sinto que tô fazendo isso de novo."

"Não, meu amor, é diferente. Se você contar assim, ele pode se lembrar de tudo de uma vez só e isso não seria algo bom. Você só está se protegendo e protegendo o Michael também. Eu vejo seu amor por ele e acho que você não fez o que fez por mal."

Luke desejava tanto estar tendo aquela conversa com a sua própria mãe. A verdade era que ele realmente sentia falta de ter uma mãe amorosa, que apoiasse suas decisões ou ao menos as respeitasse. Hemmings queria ter tido um ombro materno para chorar quando estava sem Michael; tudo o que ele desejava era que sua mãe fosse mais como Karen: carinhosa, amorosa e uma boa ouvinte e conselheira. Talvez por isso ele não pudesse deixar de evitar sentir um carinho pela mulher a sua frente, que mesmo tendo consciência da dor que Luke proporcionara a seu filho, estava o apoiando.

Absorto em seus pensamentos, mas ainda com um leve sorriso em seus lábios, Hemmings quase não percebeu quando um Michael de cabelos bagunçados e vestido apenas com uma camiseta branca larga apareceu no corredor, caminhando com suas meias rosa e um olhar sonolento na direção da cozinha.

"Mamãe?" Michael chamou com sua voz carregada de sono, esfregando seus olhos verdes e soltando um bocejo manhoso, da mesma forma como fizera sua mãe ao atender a porta. Ele olhou para Luke e seu coração bateu mais forte. "Luke" ele falou, sem ânimo ou expressão, pois o cansaço ainda o consumia devido às poucas horas dormidas. Ele havia virado a noite conversando com Luke, mas o outro sequer parecia cansado. "Eu estou com muito sono pra me assustar com a sua presença" continuou devagar.

"Eu sou tão feio assim que você se assusta?" questionou, colocando seu lábio inferior sobre o exterior.

Michael andou alguns passos até ele. "Pelo contrário" ele se espreguiçou, suspirando levemente e o dando um beijo na bochecha. "Oi."

"Oi, babe. Eu estou começando a achar que você é literalmente um gatinho."

"Podem me ignorar, eu vou fazer o café da manhã" Karen se levantou e encontrou os dois a observando. Ela balançou as mãos, como se os expulsasse. "Vão."